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02/10/2003
-
09h48
ROBERSON DE OLIVEIRA
da Folha de S.Paulo
O descobrimento do ouro em Minas Gerais no início do século 18 deu início a uma fase de grandes transformações na colônia. Com a notícia da descoberta, houve uma grande migração para a região.
Como os exploradores se dedicavam integralmente à procura do ouro, outras regiões da colônia tiveram de cumprir o papel de abastecer os povoados que foram surgindo na zona mineradora. Com isso, criou-se na colônia uma rede de relações comerciais que se constituiu no embrião de uma integração econômica até então inexistente.
Do ponto de vista social, as técnicas relativamente simples de obtenção do ouro permitiram aos homens livres pobres a oportunidade de ascender na hierarquia social e melhorar de vida, algo impensável na época da economia açucareira, pois a produção do açúcar exigia um alto investimento inicial.
Entre todas as conseqüências, talvez a mais relevante se tenha materializado no plano da cultura e ficou conhecida como o barroco mineiro. A grande riqueza acumulada nas cidades de Minas, como São João del-Rei e Ouro Preto, permitiu o surgimento de uma sociedade de sensibilidade refinada cuja expressão pode ser notada na arquitetura das igrejas, na pintura e na escultura sacra.
A grande quantidade de encomendas de obras criou um mercado de trabalho para artesãos de origem humilde, como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que, com sua habilidade e criatividade, operou uma mudança de atitude do mais alto significado para a história da nossa cultura.
Apesar de se inspirar numa expressão artística tipicamente européia, Aleijadinho não se limitou a copiar as referências externas, mas introduziu modificações no padrão da arquitetura e das esculturas a ponto de torná-las absolutamente originais, criando um tipo de arte barroca que não se confunde com nenhum outro.
A colônia começava a antecipar no plano da cultura uma vontade de autonomia, que não demorou a produzir resultados no plano político. O surgimento de manifestações culturais com "cores" locais demonstra que muitos habitantes da colônia não mais se reconheciam como simples herdeiros da tradição européia e lusitana e ajuda a compreender por que foi na região de Minas que começou a gestação do primeiro movimento que propunha a separação política de Brasil e Portugal.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC. E-mail: roberson.co@uol.com.br
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da Folha de S.Paulo
O descobrimento do ouro em Minas Gerais no início do século 18 deu início a uma fase de grandes transformações na colônia. Com a notícia da descoberta, houve uma grande migração para a região.
Como os exploradores se dedicavam integralmente à procura do ouro, outras regiões da colônia tiveram de cumprir o papel de abastecer os povoados que foram surgindo na zona mineradora. Com isso, criou-se na colônia uma rede de relações comerciais que se constituiu no embrião de uma integração econômica até então inexistente.
Do ponto de vista social, as técnicas relativamente simples de obtenção do ouro permitiram aos homens livres pobres a oportunidade de ascender na hierarquia social e melhorar de vida, algo impensável na época da economia açucareira, pois a produção do açúcar exigia um alto investimento inicial.
Entre todas as conseqüências, talvez a mais relevante se tenha materializado no plano da cultura e ficou conhecida como o barroco mineiro. A grande riqueza acumulada nas cidades de Minas, como São João del-Rei e Ouro Preto, permitiu o surgimento de uma sociedade de sensibilidade refinada cuja expressão pode ser notada na arquitetura das igrejas, na pintura e na escultura sacra.
A grande quantidade de encomendas de obras criou um mercado de trabalho para artesãos de origem humilde, como Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que, com sua habilidade e criatividade, operou uma mudança de atitude do mais alto significado para a história da nossa cultura.
Apesar de se inspirar numa expressão artística tipicamente européia, Aleijadinho não se limitou a copiar as referências externas, mas introduziu modificações no padrão da arquitetura e das esculturas a ponto de torná-las absolutamente originais, criando um tipo de arte barroca que não se confunde com nenhum outro.
A colônia começava a antecipar no plano da cultura uma vontade de autonomia, que não demorou a produzir resultados no plano político. O surgimento de manifestações culturais com "cores" locais demonstra que muitos habitantes da colônia não mais se reconheciam como simples herdeiros da tradição européia e lusitana e ajuda a compreender por que foi na região de Minas que começou a gestação do primeiro movimento que propunha a separação política de Brasil e Portugal.
Roberson de Oliveira é autor de "História do Brasil: Análise e Reflexão" e "As Rebeliões Regenciais" (Editora FTD) e professor no Colégio Rio Branco e na Universidade Grande ABC. E-mail: roberson.co@uol.com.br
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