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05/02/2006 - 09h48

Filho de pedreiro chegou a executivo

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LAURA CAPRIGLIONE
da Folha de S.Paulo

Melhor aluno da turma de 80 do curso de engenharia elétrica, o pastor evangélico Walter Thomaz, 65, formou-se com média 8,22. Filho de uma costureira e de um pedreiro, Thomaz foi um calouro tardio --entrou com 34 anos na Escola Politécnica. De dia, o rapaz estudava na USP. De noite, atuava como técnico de manutenção elétrica na Eletropaulo.

Para Thomaz, que quando criança ajudava a família fazendo carreto de feira, engraxando sapatos e trabalhando em uma pizzaria, não há dúvida: ter sido um super-estudante foi o que lhe garantiu o salto social. Quando se aposentou, depois de 32 anos na mesma empresa elétrica, transformara-se em assessor da diretoria.

Ascensão social consta também do relato do primeiro colocado na turma de 80 da Faculdade de Direito, o hoje professor de direito processual civil da USP e advogado empresarial especializado em contenciosos e arbitragem Carlos Alberto Carmona, 48.

Formado com média 8,76, casado, duas filhas, Carmona cresceu em uma família típica de classe média. Hoje, o professor mora em Alphaville, bairro endinheirado na Grande São Paulo, e mantém escritório de advocacia na valorizada avenida Faria Lima.

Mas as novas ondas geradas pelos modismos, tendências e desenvolvimento tecnológico muitas vezes surpreenderam os melhores alunos da turma de 80. A economista Maria Luiza Gomes Brandão, 48, formada com média 8,87 --segundo lugar no ranking da escola-- é funcionária da prefeitura de São Paulo. Ela explica a opção pelo serviço público, que sabidamente paga pouco: "A gente estudou em uma época anterior à globalização, à queda do Muro de Berlim, à internet. A gente acreditava no Estado, achava que ele podia fazer mais coisas".

No caso da medicina, as mudanças também não foram poucas. Há duas décadas, radiologia, dermatologia, oftalmologia ou otorrinolaringologia não eram atrativas para os estudantes. O desenvolvimento da ressonância magnética, as cirurgias corretivas de problemas de visão ou a fusão da dermatologia com a cosmética transformaram esses campos em focos de grande interesse.

Fenômeno análogo aconteceu com a área de doenças infecciosas e parasitárias. "Veio a Aids, que urbanizou a especialidade, o maior conhecimento sobre infecção hospitalar, e o tratamento de infecções em transplantados. Mudou o trabalho do profissional da área", lembra o primeiro lugar em medicina, Ronaldo Cesar Borges Gryschek, média 9,12.

Na engenharia química, o primeiro colocado, Carlos Alberto Meliani Ribeiro, 48, média 7,61, viu sua carreira e a de seus colegas migrarem para áreas fronteiriças à de administração. "Conheço poucos engenheiros que trabalham strictu sensu naquilo em que estudaram. A maioria foi para a área gerencial." O segundo colocado na engenharia química é hoje executivo da Rhodia. O terceiro trabalha na Tailândia, no manejo de rejeitos industriais.

Da lista dos melhores da engenharia, o único que segue trabalhando na área tornou-se professor da própria USP. "Eu não queria ser gerente, queria me manter na área técnica", explica o segundo colocado na engenharia elétrica, média 7,92, Walter Kaiser, 48. Mesmo com salário menor do que receberia trabalhando em uma grande empresa, Kaiser acha que a vida universitária compensa: "Eu trabalho dentro de um bosque, o campus da USP, tenho um agradável ambiente profissional e uma relativa liberdade de horários. A vida não é só ganhar muito dinheiro", diz.

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