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14/02/2006 - 09h53

Brincadeira une calouros e veteranos

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CONSTANÇA TATSCH
da Folha de S.Paulo

Nesta época, os cruzamentos de rua recebem novos rostos além de vendedores de bala, malabaristas e distribuidores de panfletos. Esses rostos têm peculiaridades: são jovens, sorridentes e pintados. O que querem é comemorar a entrada na faculdade.

O tradicional trote representa para muitos estudantes um ritual de passagem que, quando realizado com responsabilidade e simpatia, pode ser muito proveitoso. Além dos chamados "pedágios", festas, churrascos, brincadeiras e trote solidário servem para recepcionar os novos alunos.

"Eu tinha um pouco de receio, porque era o desconhecido. Pensei em fazer matrícula e ir embora, mas não, você quer ficar lá. No final, ainda bem que passei por isso", conta Viviane Coelho, aluna do sexto ano de medicina da Unifesp, que foi pintada, fez pedágio e participou de festas. Foi durante o trote que ela fez suas primeiras amizades na faculdade e até hoje anda com a turma que conheceu naqueles dias.

"Acho que todo mundo tem que aproveitar. É como alguém abrir a porta, te dar a mão: "Olha, este é seu novo mundinho". Você acaba se encantando", diz. Viviane já organizou uma recepção. "Todo ano você fica ansioso para ver a carinha dos calouros."

Quando o trote ocorre de forma pacífica, vira uma lembrança divertida. "É um ritual de passagem, um momento que precisa ser marcado", afirma Cintia Freller, doutora em psicologia escolar do Instituto de Psicologia da USP. Para ela, o trote pode ir além das brincadeiras tradicionais. "As festas são legais, mas dá para pensar em coisas mais úteis e criativas."

A psicóloga e coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp Ângela Soligo acredita que o trote pode ser interessante se for "integrador". "Ter alguém em quem se apoiar é bom e, às vezes, esse apoio começa assim", diz.

Ela afirma que, para muitos, a brincadeira pode ter o efeito de catarse. "É como lavar a alma. Essas pessoas não se importam de serem pintadas, de pedir dinheiro. Eu me esforcei, passei no vestibular, agora tudo bem!", diz. Ela faz uma ressalva: "Aquela coisa de jogar ovo, farinha, para alguns é engraçado, mas para outros é humilhante. O calouro tem que sentir que a porta está aberta para dizer "não quero", "não gosto'".

Após um ano de estudos, Rodrigo Gonçalves, 19, aguardava a liberação das listas para ter os cabelos raspados. "Estava ansioso para ficar careca", conta. Depois de três meses sem cortar o cabelo, a aprovação deixou mais do que a careca e o rosto pintado: "Isso é reconhecimento também", diz.
Para Thaís Tozatto Maio, 17, a aprovação na FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP) já provoca expectativas com relação ao tradicional banho no lago dado aos calouros. "Quem não entrar no lago não se forma! E, agora que eu passei, aceito qualquer coisa: pintura, banho", afirma animada.

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