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11/07/2006
-
10h39
THIAGO MOMM
enviado especial da Folha de S.Paulo a Florianópolis
São cerca de 10 mil novos moradores por ano em uma população que mal ultrapassou 400 mil. Florianópolis infla, e os paulistas se tornam os menos desejados dos forasteiros. Chamados de "haoles" (estrangeiros, em havaiano), universitários motivam pichações e reclamam de hostilidade em aulas, praias e trânsito.
Canetadas em três portas de um banheiro da UFSC resumem a contrariedade com a "invasão": "Os paulistas são os nordestinos de Floripa", diz um rabisco, respondido com: "Só que eles só dominaram favelas e nós vamos dominar tudo".
Na principal universidade da ilha, a federal, alunos de São Paulo foram 606 e 597 aprovados em 2005 e em 2006. Aluna de uma sala a 50 metros dali, a estudante de direito Débora Reparate, 21, não foi apenas acusada de roubar vagas dos locais. Como é de São José do Rio Preto, disse a uma professora que queria viajar com a família no final de ano --devido a uma greve, a disciplina teria aulas em dezembro. Recebeu a resposta: "Quem mandou vir fazer faculdade aqui?".
A três quilômetros da UFSC, na Universidade do Estado de Santa Catarina, os paulistas dificilmente são mais que dois em uma sala, mas em alguns cursos o sotaque começa a ser sentido --e repelido. Isabela Grotto, 20, que é de Campinas e estuda moda, ouviu na primeira aula da então coordenadora do curso, Icléia Silveira, que "a universidade é paga pelos impostos dos catarinenses, então os catarinenses deveriam ter mais direitos" de estudar nela. À Folha, a professora repetiu o argumento e lamentou que o curso de moda tenha chegado a contar com apenas 11 alunos de Santa Catarina em 45 matriculados. Sobre abordar o assunto em sala, afirmou que o tom usado é sempre de brincadeira.
Outra aluna paulista do curso de moda, que não quis se identificar, teve problemas fora da universidade: estacionou na praia da Armação e o xingamento "haole" foi talhado à chave na porta do carro. A placa é de São Paulo. O florianopolitano Cristiano, 24, que não revela o sobrenome, conhece os autores desse tipo de protesto. São integrantes da comunidade do Orkut "Fora Haole", criada por ele e hoje com mais de 2.400 membros.
"São caras que, quando vêem um paulista, querem grudar no pescoço, mandar embora." Os ilhéus mais radicais filiados à "Fora Haole" vendem adesivos e camisetas, picham muros, hostilizam pessoas de fora nas boates e no trânsito. "Dar informação errada ou não ajudar é normal", diz Cristiano. Os seis universitários entrevistados que dirigem em Florianópolis com placas paulistas relataram animosidades. A solução, dizem, é usar placa da cidade. Segundo levantamento do Detran local, de abril a junho, São Paulo liderou os pedidos de transferência.
THIAGO MOMM participou do 41º Programa de Treinamento em Jornalismo Diário da Folha, que foi patrocinado pela Philip Morris Brasil
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Canetadas em três portas de um banheiro da UFSC resumem a contrariedade com a "invasão": "Os paulistas são os nordestinos de Floripa", diz um rabisco, respondido com: "Só que eles só dominaram favelas e nós vamos dominar tudo".
Na principal universidade da ilha, a federal, alunos de São Paulo foram 606 e 597 aprovados em 2005 e em 2006. Aluna de uma sala a 50 metros dali, a estudante de direito Débora Reparate, 21, não foi apenas acusada de roubar vagas dos locais. Como é de São José do Rio Preto, disse a uma professora que queria viajar com a família no final de ano --devido a uma greve, a disciplina teria aulas em dezembro. Recebeu a resposta: "Quem mandou vir fazer faculdade aqui?".
A três quilômetros da UFSC, na Universidade do Estado de Santa Catarina, os paulistas dificilmente são mais que dois em uma sala, mas em alguns cursos o sotaque começa a ser sentido --e repelido. Isabela Grotto, 20, que é de Campinas e estuda moda, ouviu na primeira aula da então coordenadora do curso, Icléia Silveira, que "a universidade é paga pelos impostos dos catarinenses, então os catarinenses deveriam ter mais direitos" de estudar nela. À Folha, a professora repetiu o argumento e lamentou que o curso de moda tenha chegado a contar com apenas 11 alunos de Santa Catarina em 45 matriculados. Sobre abordar o assunto em sala, afirmou que o tom usado é sempre de brincadeira.
Outra aluna paulista do curso de moda, que não quis se identificar, teve problemas fora da universidade: estacionou na praia da Armação e o xingamento "haole" foi talhado à chave na porta do carro. A placa é de São Paulo. O florianopolitano Cristiano, 24, que não revela o sobrenome, conhece os autores desse tipo de protesto. São integrantes da comunidade do Orkut "Fora Haole", criada por ele e hoje com mais de 2.400 membros.
"São caras que, quando vêem um paulista, querem grudar no pescoço, mandar embora." Os ilhéus mais radicais filiados à "Fora Haole" vendem adesivos e camisetas, picham muros, hostilizam pessoas de fora nas boates e no trânsito. "Dar informação errada ou não ajudar é normal", diz Cristiano. Os seis universitários entrevistados que dirigem em Florianópolis com placas paulistas relataram animosidades. A solução, dizem, é usar placa da cidade. Segundo levantamento do Detran local, de abril a junho, São Paulo liderou os pedidos de transferência.
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