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09/01/2001
-
09h19
especial para a Folha de S.Paulo
A palavra "cientista" foi criada em 1840 pela Associação Britânica para o Progresso da Ciência. Nessa época, surgiram, em vários países, periódicos científicos. Era a popularização da ciência.
Em 1859, quando foi publicada "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, toda a edição foi vendida no primeiro dia. O princípio da seleção natural determina quais membros da espécie têm mais chance de sobrevivência. As crias não são reproduções idênticas de seus pais. Um leão pode ser ligeiramente mais rápido ou mais forte do que os pais; uma girafa pode desenvolver um pescoço mais comprido do que o dos pais.
A cada geração, a característica favorável torna-se mais pronunciada e mais difundida nas espécies. Com o passar dos séculos, a seleção natural elimina as espécies antigas e produz novas. Hoje sobrevivem ainda poucas espécies das que habitavam a Terra, havia 10 milhões de anos, mas apareceram muitas outras, entre elas os humanos. Os homens seriam produtos da seleção natural.
A Teoria da Evolução teve consequências revolucionárias fora da área científica. A evolução desafiou a tradicional crença religiosa de que um número fixo de espécies havia sido criado instantaneamente há cerca de 6.000 anos. Ao contrário, dizia Darwin, as várias espécies, até a humana, evoluíram gradativamente por milhões de anos e há ainda espécies novas em evolução.
Em última análise, o darwinismo ajudou a acabar com a prática de ter a Bíblia como referência em questões científicas. Darwin havia tirado dos homens o privilégio de terem sido a criação especial de Deus.
Alguns pensadores sociais aplicaram as conclusões darwinianas à ordem social, produzindo teorias que as transferiram à explicação dos problemas sociais. As expressões "luta pela existência" e "sobrevivência do mais capaz" foram tomadas de Darwin para apoiar a defesa que faziam do individualismo econômico.
Os empresários bem-sucedidos, afirmavam esses pensadores, haviam demonstrado sua capacidade de vitória no mundo competitivo dos negócios. Os que fracassavam na luta pela existência demonstravam sua incapacidade.
A aplicação da biologia de Darwin às teorias sociais fortalecia o imperialismo, o racismo, o nacionalismo e o militarismo. Os darwinistas sociais insistiam em que as nações e as raças estavam empenhadas numa luta pela sobrevivência, em que apenas o mais forte sobrevive e, na realidade, apenas o mais forte merece sobreviver.
Eles dividiam a humanidade em raças superiores e inferiores e consideravam o conflito racial e o nacional uma necessidade biológica e um meio para o progresso.
Renan Garcia Miranda é autor de "Oficina de História", Editora Moderna, e professor de história do Anglo Vestibulares
Resumão/história - O darwinismo social
RENAN GARCIA MIRANDAespecial para a Folha de S.Paulo
A palavra "cientista" foi criada em 1840 pela Associação Britânica para o Progresso da Ciência. Nessa época, surgiram, em vários países, periódicos científicos. Era a popularização da ciência.
Em 1859, quando foi publicada "A Origem das Espécies", de Charles Darwin, toda a edição foi vendida no primeiro dia. O princípio da seleção natural determina quais membros da espécie têm mais chance de sobrevivência. As crias não são reproduções idênticas de seus pais. Um leão pode ser ligeiramente mais rápido ou mais forte do que os pais; uma girafa pode desenvolver um pescoço mais comprido do que o dos pais.
A cada geração, a característica favorável torna-se mais pronunciada e mais difundida nas espécies. Com o passar dos séculos, a seleção natural elimina as espécies antigas e produz novas. Hoje sobrevivem ainda poucas espécies das que habitavam a Terra, havia 10 milhões de anos, mas apareceram muitas outras, entre elas os humanos. Os homens seriam produtos da seleção natural.
A Teoria da Evolução teve consequências revolucionárias fora da área científica. A evolução desafiou a tradicional crença religiosa de que um número fixo de espécies havia sido criado instantaneamente há cerca de 6.000 anos. Ao contrário, dizia Darwin, as várias espécies, até a humana, evoluíram gradativamente por milhões de anos e há ainda espécies novas em evolução.
Em última análise, o darwinismo ajudou a acabar com a prática de ter a Bíblia como referência em questões científicas. Darwin havia tirado dos homens o privilégio de terem sido a criação especial de Deus.
Alguns pensadores sociais aplicaram as conclusões darwinianas à ordem social, produzindo teorias que as transferiram à explicação dos problemas sociais. As expressões "luta pela existência" e "sobrevivência do mais capaz" foram tomadas de Darwin para apoiar a defesa que faziam do individualismo econômico.
Os empresários bem-sucedidos, afirmavam esses pensadores, haviam demonstrado sua capacidade de vitória no mundo competitivo dos negócios. Os que fracassavam na luta pela existência demonstravam sua incapacidade.
A aplicação da biologia de Darwin às teorias sociais fortalecia o imperialismo, o racismo, o nacionalismo e o militarismo. Os darwinistas sociais insistiam em que as nações e as raças estavam empenhadas numa luta pela sobrevivência, em que apenas o mais forte sobrevive e, na realidade, apenas o mais forte merece sobreviver.
Eles dividiam a humanidade em raças superiores e inferiores e consideravam o conflito racial e o nacional uma necessidade biológica e um meio para o progresso.
Renan Garcia Miranda é autor de "Oficina de História", Editora Moderna, e professor de história do Anglo Vestibulares
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