Publicidade
Publicidade
16/01/2001
-
10h42
especial para a Folha de S.Paulo
"Era uma velha sequinha que, doce e obstinada, não parecia compreender que estava só no mundo." É assim que Clarice Lispector nos apresenta a personagem principal do conto "Viagem a Petrópolis", para logo adiante acrescentar que atendia pelo nome de "Mocinha". Outro seria o efeito se a escritora afirmasse tratar-se de uma "velha seca".
Ao empregar o sufixo de grau diminutivo, além de intensificar a característica, a autora reforça a idéia de docilidade presente na descrição e retomada no nome da personagem, também um adjetivo acrescido do sufixo "-inha".
O uso do diminutivo é um recurso próprio da linguagem afetiva e, portanto, largamente encontrado na fala. A mãe que tenta convencer a criança a comer oferece-lhe um bifinho, uma sopinha. A comida caseira também é lembrada com carinho: uma farofinha, um feijãozinho.
Além de expressar noções positivas, pode o diminutivo conter carga negativa. Quando a palavra em grau normal denota coisa triste ou lamentável, o sufixo "-inho" traduz simpatia (pobrezinho, doentinho). Mas, quando ela tem sentido desfavorável, o sufixo conota "atenuação tolerante" (feinho, bobinho). Há sufixos de diminutivo cuja força depreciativa é flagrante. Um "jornaleco" jamais será um grande jornal.
O sentido depreciativo, entretanto, é associado geralmente aos sufixos de aumentativo. O tamanho excessivo é visto como algo feio e desproporcional. A ninguém agradará ouvir que tem um narigão ou um cabeção. Se o sufixo "-ão" indicar agente de ação, a expressão assumirá claro sentido pejorativo. Não será nada elogioso chamar alguém de fujão nem de mandão.
Ultimamente tais sufixos têm sido usados para apelidar estabelecimentos comerciais, como varejão ou sacolão. São muitos os casos em que os diminutivos e aumentativos tiveram neutralizada a informação de tamanho, adquirindo novos significados. Portão e cartão já não remetem a grau aumentativo; camisinha não é uma camisa pequena; folhinha é sinônimo de calendário; caninha é aguardente de cana; camarim, diminutivo de câmara, tem uso específico.
Tal esvaziamento de sentido é mais observável entre os diminutivos de origem erudita, que carregam o sufixo "-ulo" (célula/cela, cutícula/cútis, glóbulo/globo, fascículo/feixe, óvulo/ovo). A própria palavra "óculos", de origem latina, ao pé da letra, quer dizer "olhinhos", assim como "ósculo", hoje sinônimo de beijo, é um diminutivo de boca, indicando o formato dos lábios de quem joga um beijo de longe. Que tal uma pausa para um "cafezinho"?
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura
Resumão/português - Diminutivos e aumentativos
THAÍS NICOLETI DE CAMARGOespecial para a Folha de S.Paulo
"Era uma velha sequinha que, doce e obstinada, não parecia compreender que estava só no mundo." É assim que Clarice Lispector nos apresenta a personagem principal do conto "Viagem a Petrópolis", para logo adiante acrescentar que atendia pelo nome de "Mocinha". Outro seria o efeito se a escritora afirmasse tratar-se de uma "velha seca".
Ao empregar o sufixo de grau diminutivo, além de intensificar a característica, a autora reforça a idéia de docilidade presente na descrição e retomada no nome da personagem, também um adjetivo acrescido do sufixo "-inha".
O uso do diminutivo é um recurso próprio da linguagem afetiva e, portanto, largamente encontrado na fala. A mãe que tenta convencer a criança a comer oferece-lhe um bifinho, uma sopinha. A comida caseira também é lembrada com carinho: uma farofinha, um feijãozinho.
Além de expressar noções positivas, pode o diminutivo conter carga negativa. Quando a palavra em grau normal denota coisa triste ou lamentável, o sufixo "-inho" traduz simpatia (pobrezinho, doentinho). Mas, quando ela tem sentido desfavorável, o sufixo conota "atenuação tolerante" (feinho, bobinho). Há sufixos de diminutivo cuja força depreciativa é flagrante. Um "jornaleco" jamais será um grande jornal.
O sentido depreciativo, entretanto, é associado geralmente aos sufixos de aumentativo. O tamanho excessivo é visto como algo feio e desproporcional. A ninguém agradará ouvir que tem um narigão ou um cabeção. Se o sufixo "-ão" indicar agente de ação, a expressão assumirá claro sentido pejorativo. Não será nada elogioso chamar alguém de fujão nem de mandão.
Ultimamente tais sufixos têm sido usados para apelidar estabelecimentos comerciais, como varejão ou sacolão. São muitos os casos em que os diminutivos e aumentativos tiveram neutralizada a informação de tamanho, adquirindo novos significados. Portão e cartão já não remetem a grau aumentativo; camisinha não é uma camisa pequena; folhinha é sinônimo de calendário; caninha é aguardente de cana; camarim, diminutivo de câmara, tem uso específico.
Tal esvaziamento de sentido é mais observável entre os diminutivos de origem erudita, que carregam o sufixo "-ulo" (célula/cela, cutícula/cútis, glóbulo/globo, fascículo/feixe, óvulo/ovo). A própria palavra "óculos", de origem latina, ao pé da letra, quer dizer "olhinhos", assim como "ósculo", hoje sinônimo de beijo, é um diminutivo de boca, indicando o formato dos lábios de quem joga um beijo de longe. Que tal uma pausa para um "cafezinho"?
Thaís Nicoleti de Camargo é consultora de língua portuguesa da Folha e apresentadora das aulas de gramática do programa "Vestibulando", da TV Cultura
Publicidade
As Últimas que Você não Leu
Publicidade
+ LidasÍndice
- Avaliação reprova 226 faculdades do país pelo 4º ano consecutivo
- Dilma aprova lei que troca dívidas de universidades por bolsas
- Notas das melhores escolas paulistas despencam em exame; veja
- Universidades de SP divulgam calendário dos vestibulares 2013
- Mercadante diz que não há margem para reajuste maior aos docentes
+ Comentadas
- Câmara sinaliza absolvição de deputados envolvidos com Cachoeira
- Alunos com bônus por raça repetem mais na Unicamp
+ EnviadasÍndice