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09/06/2001 - 12h36

Formandos de jornalismo da PUC-Campinas vão boicotar o provão

da Folha Online, em Campinas

Os alunos do quarto ano de jornalismo da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica) informaram que pretendem entregar em branco o Exame Nacional de Cursos, o provão, que será realizado neste domingo, em todo o Brasil.

O estudante Alexandre Gama afirma que o boicote será feito em protesto contra o descaso com a qualidade do ensino universitário no Brasil. "Quanto ao provão, a crítica é contra o conteúdo e a forma de avaliação, que só serve para conceituar as faculdades em um ranking", disse o estudante.

Gama explicou que os alunos são a favor de uma avaliação mais séria, que impeça as universidades que não atendem aos quesitos mínimos de avaliação de funcionarem.

Os formandos de jornalismo, único curso de comunicação social avaliado pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura), da PUC-Campinas, redigiram um manifesto e enviaram para os órgãos da imprensa.

Os alunos da Faculdade de Educação da Unicamp também confirmaram o boicote no primeiro ano em que o curso de pedagogia será avaliado pelo Exame Nacional de Cursos.

Veja o manifesto enviado pelos estudantes:

"Desfazendo a ciranda

Por que boicotaremos o provão?

A proposta do Exame Nacional de Cursos, mais conhecido como 'provão', é avaliar os cursos de graduação das universidades brasileiras, com suposto objetivo de mensurar qualidade de ensino universitário do país. Ao adentrar o último ano de graduação, o universitário é obrigado a se inscrever em um exame que diz avaliar o conteúdo do curso que faz.

Caso o aluno se recuse a fazer a inscrição ou perca o prazo estipulado, ele não pode receber o diploma de formado. Assim como outras turmas de formandos espalhadas pelo Brasil, os alunos do 4º ano de jornalismo da PUC-Campinas decidiram entregar suas provas em branco no próximo domingo, 10 de junho.

Na perspectiva coletiva, ao boicotarmos o provão, a PUC-Campinas receberá o conceito E. Pode-se pensar: estaremos compondo uma imagem negativa, talvez distorcida, da universidade campineira à sociedade.

Na verdade, com os meios de comunicação informados sobre o boicote dos alunos de Jornalismo da PUC - daí divulgarmos esta carta - estaremos justificando o conceito E obtido pelo curso. Com isso também enfatizaremos nossa postura crítica em relação ao provão, como é concebido e aplicado atualmente.

A arbitrariedade do MEC em estabelecer o comparecimento ao provão como condição obrigatória para o recebimento do diploma nos obriga a nos fazermos presentes ao local de exame, preencher o cabeçalho e aguardar o tempo mínimo para deixar a sala de exame. Não queremos correr o risco de, após quatro anos de curso, ficar impedidos de exercer a profissão.

Por que o boicote?

No tocante aos cursos de jornalismo, existem dois pontos cruciais:
Primeiro: o conteúdo. Segundo a opinião de professores da área sobre exames de anos anteriores, o conhecimento cobrado no exame não é satisfatório. As questões que compõem o provão para os formandos de jornalismo são puramente técnicas, voltadas ao 'mercado', esquecendo que 50% de nosso currículo é teórico e compõe repertório importantíssimo para a formação crítica dos alunos.

Segundo, e mais grave: a atribuição de conceitos. O método de conceituação relativa de acordo com o desvio padrão das médias das universidades utilizado no provão dá margem a injustiças e distorções, agrupando conceitos muito discrepantes em uma mesma categoria.
Essa crítica foi feita por estatísticos e está disponível nos sites www.observatoriodaimprensa.com.br e www.paremasmaquinas.com.br .

Assim, se nos submetermos ao provão, além de apoiar uma avaliação falha e 'marqueteira' - pois é bandeira de promoção pública para o Ministro da Educação, Paulo Renato de Souza e para o MEC -, passamos a nos expor e a expor a Universidade sem atender ao propósito de uma avaliação justa, enquanto a real necessidade e proposta seria elevar a qualidade de ensino e fechar faculdades 'picaretas' e ruins.

É fato que nenhuma faculdade, por oferecer péssima qualidade de ensino, foi obrigada a encerrar suas atividades até hoje; pelo contrário, foram legitimadas ao receberem financiamento com dinheiro público.

Na medida em que só avalia e conceitua a universidade, sem fins práticos, o exame não dá conta de garantir a qualidade na formação de profissionais, que estarão trabalhando e oferecendo serviços para a sociedade. Para quê servirá então um conceito A ou E obtido (através da análise do desvio padrão) pela PUC-Campinas, ou pela USP? O quê fará o Ministro Paulo Renato com essas 'notas'?

É sabido que o ensino nas universidades públicas vem sofrendo um processo de 'sucateamento' com a diminuição do investimento em bolsas de estudo e até na infra-estrutura oferecida aos alunos.

As universidades particulares, por sua vez, vêm se multiplicando devido à rentabilidade no investimento no ensino de terceiro grau. A venda de diplomas é um negócio rentável e o ensino é tratado como mercadoria.

Essas universidades-empresas não são obrigadas, com o provão atual, a garantir um bom ensino e uma formação adequada às necessidades da sociedade.

Por isso, acreditamos que um exame que avalie de forma séria os cursos que surgem no país é indispensável. O resultado desse exame não deve servir apenas para conceituar a empresa no ranking nacional e sim para o controle nacional de qualidade sobre o ensino universitário.

Um exame sério e justo teria o objetivo de dificultar o sucesso do investimento no ensino que não se baseasse primeiramente no compromisso social com a educação. Além disso, obrigaria os empreendedores a oferecer um ensino-produto satisfatório e adequado aos alunos, sob a ameaça de terem suas universidades fechadas se não cumprissem quesitos mínimos da avaliação.

Não podemos contribuir com a continuidade de um sistema de educação falida. O boicote ao provão, além de constituir um protesto contra o descaso com a qualidade da educação no Brasil, traz uma proposta de um novo exame envolvendo um controle mais rígido dos cursos oferecidos e uma avaliação com parâmetros baseados no perfeito, no ideal, e não no relativo (desvio padrão).

Não é mostrando a cara na televisão e promovendo um exame que é pura aparência que se constitui um verdadeiro investimento na educação. É necessária a priorização de investimentos públicos no ensino desde o primeiro grau até a universidade, da alfabetização à pesquisa pura nas áreas exatas, biológicas e humanas, para um aumento na distribuição mais equitativa de conhecimento e senso crítico.

O boicote ao provão consiste, em sua essência, na não aceitação do entreguismo ao capital privado e da falta de responsabilidade em relação a aspectos vitais para o bom funcionamento de uma sociedade, como saúde, habitação e, principalmente, educação.

Assim, ainda que no ritmo imposto pelo MEC, estaremos tentando 'desfazer a ciranda' de uma avaliação que, por todos os motivos citados, consideramos injusta e recusando a uma política governamental boa apenas na imagem, mas de consequências desastrosas para o equilíbrio e a justiça social.

Alunos do 4o ano de Jornalismo da PUC-Campinas."


Saiba mais sobre o provão
 

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