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"Veteranos" em reformas afirmam que irão ignorar novas mudanças na grafia
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da Folha de S.Paulo
Para quem já passou por outras reformas ortográficas, as novas regras válidas para a língua portuguesa a partir deste ano não deverão gerar problemas na hora de escrever. Eles afirmam que não darão atenção ao novo Acordo.
"Até hoje, só coloco acento quando acho óbvio", afirma a aposentada Maria Aparecida Pires do Rio Pinho, 82.
Nascida em 1926, Cida, como é chamada pelos amigos, foi registrada na certidão de batismo como Maria Apparecida, com "p" duplo. Já na primeira carteira de identidade, expedida depois da reforma da década de 40, seu nome apareceu com um "p" só.
Ela conta que isso lhe causou problemas quando foi tirar a carteira profissional de bibliotecária. "Não queriam me dar porque os dados nos documentos não batiam", lembra ela, rindo.
Sobre o Acordo atual, ela diz que nem vai lê-lo. "Ah, o trema vai cair, é? Acho ótimo, porque é uma perda de tempo", diz ela, que até hoje se recusa a usar o teclado de um computador para escrever projetos para a ONG em que é voluntária, Lar do Caminho.
"E vou continuar entregando o texto do meu jeito. Quem for digitá-lo arruma."
O mesmo pensamento tem o bibliófilo José Mindlin, 94. "Já vivi vários acordos ortográficos sem tomar conhecimento deles", diz ele, que escreve a palavra "húmido", com "h", até hoje. "Mas, pelo jeito, eu escrevo razoavelmente bem", brinca.
Mindlin diz que se adaptou a algumas mudanças pelas quais passou, "mas só a algumas". "Se me parecia razoável, tudo bem, mas, às vezes, são coisas sem grande importância. Nem todas as inovações são razoáveis."
E ele inclui nas inovações sem razão a queda do acento agudo em ditongos abertos, como "idéia", que passa a ser "ideia". "Eu vou continuar escrevendo "ideia" com acento."
Questionado sobre se vai tentar se adaptar desta vez, disse: "Não perco o sono com isso. O mais importante é entender o significado do que se diz ou do que se escreve".
Já quem trabalha com educação afirma que vai tentar se adaptar. "Ah, tenho de aprender essas regras", diz Tiyomi Misawa, 58, orientadora de um colégio em São Paulo. "Só acho que poderiam ter caído todos os acentos. Quanto menos, melhor", diz ela, que já era professora em 71, quando houve a última reforma.
Agora, diz, seus alunos estão aprovando as mudanças recém-chegadas. "Acento, por exemplo, eles quase já não usam mesmo."
LUISA ALCANTARA E SILVA, da Folha de S.Paulo
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