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11/07/2002
-
10h59
da Folha de S.Paulo
Uma das mais importantes transformações que ocorreram na Europa moderna envolveu a religião e significou o fim do monopólio da Igreja Católica sobre a cristandade ocidental.
Apesar de não possuir a influência que tivera na Idade Média, a igreja ainda era uma das mais importantes instituições dos novos Estados europeus, e a religião era responsável pela formação cultural da maioria das sociedades daquela época.
A igreja também sofreu os efeitos das transformações que fortaleciam o capitalismo, marcada pelos interesses de variados setores sociais. Esses interesses são normalmente generalizados, como se toda a burguesia européia pretendesse a mesma coisa da religião e toda ela tivesse interesse em uma "nova fé". Esse raciocínio não é correto uma vez que a organização e o interesse da burguesia variavam de país para país. Enquanto na Holanda a maioria dos burgueses aderia ao calvinismo, em Portugal, a burguesia se mantinha fiel ao catolicismo.
O mesmo raciocínio vale para a nobreza, que, na região alemã, estava interessada na reforma luterana, pensando em confiscar as terras da Igreja Católica. Na França, manteve-se como defensora do catolicismo. Com os reis, não foi diferente, uma vez que muitos deles (o da França, o de Portugal e o da Espanha) preservavam e defendiam o catolicismo, enquanto Henrique 8º liderava o movimento reformista na Inglaterra.
É importante percebermos o significado do termo "protestante". Usado normalmente nos livros, é incorreto e nos leva a uma visão equivocada não apenas das concepções doutrinárias, mas das disputas políticas e dos interesses econômicos, que utilizaram a religião como forma de expressão de suas contradições ao longo da história.
É importante expressarmos corretamente as diferenças entre calvinistas e anglicanos e entre luteranos e calvinistas e, para isso, é impossível a utilização da palavra "protestante".
Essas novas heresias, que ganharam força a partir do século 16 e superaram as medidas da Contra-Reforma, foram responsáveis pela quebra do monolitismo cristão e colocaram definitivamente as igrejas cristãs sob a influência dos Estados, reforçando o absolutismo.
Dica: procure entender os diversos interesses envolvidos na disputa religiosa do século 16, analisando cada país da Europa ocidental. Por que podemos chamar esse movimento de herético?
Claudio B. Recco é coordenador do site www.historianet.com.br, professor do Curso Objetivo e autor do livro "História em Manchete - Na Virada do Século"
Leia mais:
Atualidades: Palestinos continuam a luta por um Estado soberano
Geografia: Os domínios dos mares de morros e das pradarias
Física: Entenda os raios, os relâmpagos e os trovões
Português: Aposto explicativo não deve ser confundido com predicativo
História: Entenda a reforma religiosa na Europa ocidental
CLAUDIO B. RECCOda Folha de S.Paulo
Uma das mais importantes transformações que ocorreram na Europa moderna envolveu a religião e significou o fim do monopólio da Igreja Católica sobre a cristandade ocidental.
Apesar de não possuir a influência que tivera na Idade Média, a igreja ainda era uma das mais importantes instituições dos novos Estados europeus, e a religião era responsável pela formação cultural da maioria das sociedades daquela época.
A igreja também sofreu os efeitos das transformações que fortaleciam o capitalismo, marcada pelos interesses de variados setores sociais. Esses interesses são normalmente generalizados, como se toda a burguesia européia pretendesse a mesma coisa da religião e toda ela tivesse interesse em uma "nova fé". Esse raciocínio não é correto uma vez que a organização e o interesse da burguesia variavam de país para país. Enquanto na Holanda a maioria dos burgueses aderia ao calvinismo, em Portugal, a burguesia se mantinha fiel ao catolicismo.
O mesmo raciocínio vale para a nobreza, que, na região alemã, estava interessada na reforma luterana, pensando em confiscar as terras da Igreja Católica. Na França, manteve-se como defensora do catolicismo. Com os reis, não foi diferente, uma vez que muitos deles (o da França, o de Portugal e o da Espanha) preservavam e defendiam o catolicismo, enquanto Henrique 8º liderava o movimento reformista na Inglaterra.
É importante percebermos o significado do termo "protestante". Usado normalmente nos livros, é incorreto e nos leva a uma visão equivocada não apenas das concepções doutrinárias, mas das disputas políticas e dos interesses econômicos, que utilizaram a religião como forma de expressão de suas contradições ao longo da história.
É importante expressarmos corretamente as diferenças entre calvinistas e anglicanos e entre luteranos e calvinistas e, para isso, é impossível a utilização da palavra "protestante".
Essas novas heresias, que ganharam força a partir do século 16 e superaram as medidas da Contra-Reforma, foram responsáveis pela quebra do monolitismo cristão e colocaram definitivamente as igrejas cristãs sob a influência dos Estados, reforçando o absolutismo.
Dica: procure entender os diversos interesses envolvidos na disputa religiosa do século 16, analisando cada país da Europa ocidental. Por que podemos chamar esse movimento de herético?
Claudio B. Recco é coordenador do site www.historianet.com.br, professor do Curso Objetivo e autor do livro "História em Manchete - Na Virada do Século"
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