Equilíbrio
30/10/2001 - 20h19

Marília Gabriela toma injeção e vitaminas para adiar envelhecimento

Publicidade

da Revista da Folha

A primeira coisa que Marília Gabriela faz todos os dias, ao acordar, é tomar uma injeção.

"É de procaína, para combater radicais livres, envelhecimento, e dar disposição, tônus. Vem uma enfermeira aqui só para isso. A injeção é grande e pode ser dolorosa, tem de ser aplicada com muita delicadeza", explica.

Depois, vem a segunda etapa: antes do café composto de iogurte com lactobacilos, cereal sem açúcar, leite desnatado e uma fatia de pão diet, ela toma cápsulas de co-enzima B12, cromo e come uma castanha do Pará; fim do café -é a vez da multivitamina All-26, mais vitaminas E 400-UI e B6; ginástica e duas borrifadas do hormônio pró-hGH (de crescimento) debaixo da língua; lanchinho (torrada e queijo diet); três horas depois, almoço (uma salada), acompanhado de vitamina C 1000 (encapada, para proteger o estômago) e, de novo, E e B6; mais três horas, lanchinho da tarde e nova borrifada de hormônio; mais três horas, jantar, multivitamina All-26, C, E e B6 de novo; ao dormir, mais uma borrifada de hormônio.

Se Marília Gabriela não fosse a consagrada jornalista que já entrevistou mais de 10 mil personagens em 32 anos de carreira na TV, alguém poderia imaginar que ela passa o dia tomando vitaminas e comendo -sem contar o banho, outro ritual que começa com uma fricção a seco de luva de crina, água quente e óleos naturais e termina com ducha fria e hidratantes.

"Pelo amor de Deus, põe aí que eu não vivo para isso, porque vão pensar que eu sou uma louca. Dá tempo para tudo: ainda faço ioga com meus filhos (Christiano, 29, e Theodoro, 22), leio quatro jornais só de manhã e preparo minhas entrevistas. Encaro as vitaminas como parte da minha higiene diária. Com o tempo, a gente assimila o hábito de se cuidar e passa a fazer tudo mecanicamente", diz.

As experiências de Gabi não têm o que os cientistas chamam de controle: é difícil saber, no seu caso, se sua pele parece tão viçosa aos 53 anos por causa das vitaminas, das enzimas, dos hormônios, da alimentação regrada, das plásticas -poucas, mas eficazes- ou do romance com um homem 24 anos mais novo, no caso, o ator Reynaldo Gianecchini.

"Sempre fui uma cobaia de mim mesma. Quando entrevistei pela primeira vez o (ginecologista) Elsimar Coutinho, aos 27 anos, ele me contou que implantava em mulheres uma pílula anticoncepcional que interrompia a menstruação. Eu disse: 'Implanta em mim, eu quero!' Foi a alegria da minha vida -só tirei um ano e meio depois, para engravidar do meu segundo filho."

Gabi tem motivos para acreditar que seu bom estado de conservação tenha mais a ver com tudo o que toma e come, do que com a genética. A mãe dela morreu de um câncer devastador, aos 44 anos (Gabi estava com 14), e o pai, de um conjunto de sintomas que incluía diabetes, aos 69.

"Exatamente por causa disso eu tomo tudo. Aos 45 anos, voltei a implantar o hormônio que interrompia a menstruação, porque sofria de uma TPM monumental. Tomava atitudes intempestivas, chorava, agredia, não conseguia me controlar. O hormônio pôs fim naquilo. Sou do tipo que pergunta aos médicos: 'Tem alguma coisa de novo? Quer testar? Testa em mim'. Passei pela menopausa sem sentir -devo estar no quinto implante de progesterona, estrogênio, testosterona."

Apesar de todos os cuidados com pele e corpo e da vida regrada que leva ("durmo cedo, às 23h, e acordo no máximo às 8h30"), Marília já se divertiu muito.

"Fiz muita bobagem por sexo, transei com gente que hoje eu nem cumprimento, mas vim sossegando com o tempo. Conheci as drogas, mas tinha trauma, vi gente muito próxima morrer disso. Experimentei ácido nos anos 70 e fui salva por uma 'bad trip' que me fez nunca mais querer aquilo; provei haxixe, maconha e, nos anos 80, cocaína, que é uma droga perigosa porque pode ser engraçada. Nunca fui além de experimentar, porque vim de uma família de classe média remediada, na qual quem não acorda cedo, não produz de manhã, está fazendo tudo errado. Eu carrego essas culpas cristãs comigo", diz.

Sua única crise de idade aconteceu aos 32. Ela lembra que se olhou no espelho e disse: "Envelheci!". Todos diziam que era impressão sua, até que uma amiga mais velha confirmou: "Envelheceu, sim, mas é uma coisa que só você percebe. Foi um degrau, fica tranquila, porque não é todo dia que você vai descer um."

"Até os 32 anos vivi na inconsciência da idade. Perdi essa inconsciência, mas recuperei aos 35 (risos). Hoje eu vejo que aquela história de pessoas que tem 50, mas se sentem com 20 existe. E é isso que impede a gente de se preocupar com idade. Tenho as mesmas vontades, os mesmos desejos e necessidades de 30 anos atrás", diz.

Para manter o físico a altura do espírito de 20, ela teve de fazer algumas plásticas. Nada radical, apenas retoques.

"Nunca fiz aquelas de puxar tudo. Procurei um cirurgião plástico em 87, com 39 anos, porque achei que talvez precisasse alguma coisinha -no vídeo, tudo aparece mais. Ele me disse que eu não era hora ainda e, durante seis anos, cuidou da minha pele com injeçõezinhas de vitamina E e remedinhos. Aos 45, ele me chamou e disse: 'Agora, sim. Eu a vi na TV, acho que você está com umas bolsas nos olhos pesando sua fisionomia'. Ele me operou sem cortar na parte debaixo, só chupando por dentro da pálpebra, e cortou em cima."

O pescoço, ela retocou mais de uma vez. "Pescoço é algo que requer a maior delicadeza. Pode olhar o meu, não ficou aquela coisa esticada, feia." Há pouco mais de um ano, ela fez de novo os olhos.

São 18h, e Marília Gabriela está na quarta refeição. A idéia é manter a forma, para não perder a "inconsciência da idade": ela traz copos de água de coco para a sala.

"Faço tudo isso porque é mais fácil acreditar no meu espírito se eu me sinto inteira, na medida do possível -acompanhada por uma pessoa para quem eu ainda posso ser fisicamente agradável."

O que dizem os médicos

A Revista pediu a dois especialistas de diferentes correntes que avaliassem a "dieta" de vitaminas de Marília Gabriela.

Na opinião do professor-adjunto de geriatria da Unifesp, João Toniolo Neto, a indicação de suplemento extra de um desses elementos é válida se o paciente tiver carência deles. O que ele considera discutível é a mistura de todos indiscriminadamente.

"Não existe base científica que comprove que o uso dessas vitaminas, misturadas com co-enzima, procaínoterapia (uso da procaína com o efeito anestésico reduzido, para combater a degeneração celular) e hormônio retardem o envelhecimento. Até porque, não há tempo de acompanhamento suficiente para saber se esses suplementos não vão acarretar, a longo prazo, hipertensão, diabetes, ou danos do ponto de vista renal ou hepático."

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Ortomolecular,
Guilherme Deucher, o coquetel de vitaminas combate o processo de oxidação das células, que leva ao envelhecimento. Ele também defende o uso do prohGH. "É um hormônio de crescimento, que se usa na infância para crianças pequenas e, na maturidade, para retardar o envelhecimento", diz, lembrando que tudo deve ser feito com controle médico.

MARÍLIA GABRIELA, 53

O que come: refeições de três em três horas, a partir das 8h30 da manhã, quando toma iogurte com lactobacilos, cereal sem açúcar, leite desnatado e uma fatia de pão diet; lanchinho com torrada e queijo diet às 11h30; no almoço, salada de agrião, repolho roxo, cenoura ralada, peito de peru desfiado, azeitona e manjericão salpicado; lanchinho de novo e, no jantar, saladas e sopa

Vitamina: Complexo All-26, E 400UI, C-1000mg e B. Spray de hormônio pró-hGH

Água: mais de dois litros por dia

Ginástica: ashtanga yôga, de segunda a sexta

Cigarro: esporadicamente

Leia mais:

  • Cuidados com a beleza reduzem os efeitos do tempo

  • Pele exige cuidados desde os 20 anos

  • Acne pode ser causada por mau uso de cosméticos

  • Modelo diz que beleza é "um presente de Deus"

  • Aos 30, mulher está no auge sexual, mas sofre com ganho de peso

  • Hipotiroidismo deixa pele opaca e sem vida

  • Dona de grife, aos 33, se trata com antroposofia

  • Redução dos hormônios altera estrutura da pele aos 40

  • Manchas que aparecem aos 45 são resultado do excesso de sol

  • Aos 46, Adriana Maluf corre para manter a corpo

  • Aos 50, mulher sofre com menopausa e mudança do corpo

  • Reposição hormonal é adaptada para ajudar todas as mulheres

  • Depois dos 60, sol é importante para evitar osteoporose

  • "Quem trabalha na TV envelhece na própria tela", diz Joana Fomm

  • Cuidados com memória merecem atenção de mulheres com mais de 70

  • Decoradora diz que nunca teve crise de idade

  •  

    FolhaShop

    Digite produto
    ou marca