Equilíbrio
22/04/2001 - 18h18

Suplicy, solteiro após 36 anos, desperta fantasias

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da Revista da Folha

Quinta-feira passada, uma da tarde. Três mulheres almoçam no café Armani, reduto de socialites dos Jardins. Na hora do cafezinho, uma das cinquentonas comenta: "E, para arrematar o nosso encontro, o que vocês me dizem do Suplicy solto, sozinho na praça?" Seguem-se risos e muitas interjeições (oh, ah, hum...).

Desde segunda-feira, o assunto em São Paulo é a separação da prefeita Marta Suplicy (PT), 56. Primeiro, a surpresa com o fim de um casamento considerado dos mais sólidos; em seguida, aparecem conjecturas sobre as razões que teriam posto um fim na convivência de 36 anos: seria guerra de egos, ciúmes ou disputa política? Depois, se o grupo for de mulheres, começam a ser desfiados os adjetivos sobre o senador: sensível, bonitão, charmoso, bem-sucedido, um "partidão".

O assédio feminino ao petista sempre foi intenso, segundo a própria prefeita. "Tenho ciúme do Eduardo, mas não dos 300 bilhetinhos que vêm dentro do bolso cada vez em que ele vai fazer uma palestra. Ciúme a gente só tem quando é perigoso", disse Marta, em setembro do ano passado.

O número de mensagens já aumentou. Até quinta-feira, o senador havia recebido mais de 800 e-mails de "solidariedade". Um deles dizia: "Lembre-se de que tem uma fila enorme de mulheres cheias de amor para te dar, e eu estou me candidatando à vaga... caso ela venha a existir".

O comportamento de Eduardo Suplicy, 59, durante a semana, só contribuiu para aumentar as fantasias. No dia da separação, pegou uma "trouxa" de roupas e voltou para a casa da mamãe, deixando a casa de cinco quartos na rua Grécia para a mulher e os filhos. "Jamais esperei que isso pudesse acontecer. Nunca. Não costumo intervir, mas vou conversar com Marta em breve. Ela sempre foi minha amiga e ainda tenho esperança de que eles voltem", diz Filomena Matarazzo Suplicy, 92, sogra da prefeita.

Na quarta-feira, Marta já apareceu para trabalhar sem aliança, enquanto Eduardo manteve a sua no dedo por mais um dia. Foi fotografado depois em um abraço solidário da senadora Heloísa Helena (PT-AL), que lhe entregou um texto de 1655, do padre Antônio Vieira, sobre "as dores e alegrias desta maravilhosa e única experiência que é o amor".

O senador manteve o porta-retrato com a foto de Marta em cima de sua mesa de trabalho. Deixou também aberta a possibilidade de uma volta. "Só Deus sabe se vamos nos reconciliar. Às vezes Deus quer", disse. Na quarta-feira, em uma homilia de Páscoa, na capela do Senado, fugiu do texto preparado e improvisou cinco longas frases, confundindo seus colegas. Declarou ainda à revista "IstoÉ Gente" que, embora estivesse sorrindo, "no coração, é diferente".

Enquanto isso, Marta não abriu a guarda. Seguiu ao pé da letra a nota, de três linhas, divulgada terça-feira: "Informamos que resolvemos nos separar e, a partir de hoje, residiremos em casas diferentes. Trata-se de um assunto pessoal e familiar sobre o qual nenhum dos dois fará qualquer comentário."

Os filhos também evitaram a imprensa, mas uma entrevista dada por Eduardo, o Supla, 35, dez dias atrás, mostrava uma solidariedade maior ao pai. "Meu pai ama minha mãe. Se não fosse meu pai, minha mãe não seria prefeita de São Paulo. Não seria nem política. Minha mãe seria uma burguesinha", disse ao site No. (lê-se "no ponto").

A imagem de "maior abandonado" aguçou o apetite das mulheres de todas as idades. "Só de conhecê-lo na política dá para perceber o quanto ele é interessante. É bonito, culto e aparenta ter sido um ótimo marido para Marta. Ficaram juntos durante 36 anos, o que é admirável. E acho que ele deve ser muito gostoso", arremata a psicóloga Regina Segabinazzi, 60, divorciada.

Recém-separada, a pedagoga Cecília Olmos, 26, concorda e apimenta. "Acho Suplicy um tesão. O charme dele está na timidez, no jeito meio atrapalhado. Não sei se teria coragem de assediá-lo, mas, se aparecesse uma oportunidade, eu sairia com ele."

Roberta Fidalgo, 25, advogada, solteira, também não deixaria barato. "Nenhuma mulher resiste a um homem honesto, extremamente inteligente e que, ainda por cima, é boa-pinta", diz.

Até a falta de jeito no vestir-se parece ter sido perdoada. "É um político muito correto na forma de agir e de se vestir. Ele é elegante", diz Eliana Tranchesi, 45, dona da loja Daslu.

A administradora de hotéis Denise Caboclo, 39, acha "que vai chover mulher em cima dele". "É um político interessante, a mulherada gosta. Principalmente as mais intelectualizadas."

Dividendos políticos

Além da "simpatia" feminina, o comportamento de Suplicy tem ajudado a aplacar a ira petista, detonada em novembro, quando anunciou sua intenção de candidatar-se à Presidência.

Para os petistas, soou como uma afronta à liderança "natural" de Lula, o eterno presidenciável do partido. Na quarta-feira passada, porém, o presidente do PT, José Dirceu, mudou o tom. Pediu desculpas a Suplicy, disse que na hora "não sabia do momento que ele estava passando" e comunicou que a cúpula do partido já considera inevitável a realização de uma prévia para definir quem concorrerá em 2002.

Para o professor titular de Ciência Política da USP Lúcio Kowarick, 63, a separação do casal Suplicy não terá consequências políticas. "Acredito que nenhum dos dois ganha nem perde. Lamento apenas do ponto-de-vista pessoal. Conheço os dois há anos e juntos eles construíram muitas coisas", diz.

Kowarick não acha que Marta-divorciada teria menos chances de chegar à Presidência -ela já disse que pretende se candidatar. "O Brasil é um país machista, mas já avançou ao ponto de um divórcio não ser um empecilho para o futuro político de Marta. Muito da sua imagem foi baseada inclusive na contramão."

Valeriano Ferreira Costa, 40, cientista político da Unicamp, concorda que a pecha de divorciada não deve ser problema. "Marta sempre foi vinculada a temas polêmicos: aborto, maconha, casamento entre homossexuais. Tinha um programa de sexo na televisão. Ser divorciada é fichinha perto de tudo isso", diz.

Só nas próximas semanas é que ficarão mais claras as consequências políticas e pessoais da separação. Os paulistanos -especialmente as mulheres- acompanharão o desenrolar dessa novela com atenção. É melhor do que qualquer "Laços de Família.

(Priscilla Ferreira, Paulo Sampaio, Juliana Lopes e Kiyomori Mori)
 

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