Equilíbrio
14/06/2001 - 12h51

Atropelamento de músico do Titãs faz sociedade andar "na linha"

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JANAINA FIDALGO
da Folha Online

  • Use a faixa de pedestres ao atravessar a rua
  • Se beber, não dirija
  • Use sempre o cinto de segurança
  • Respeite o pedestre
  • Não se exponha a situações de risco

    Estas recomendações não são novidade para ninguém, mas quem nunca desrespeitou alguma delas que atire a primeira pedra...

    Grande parte das regras que regem a sociedade, sejam elas quais forem, são constantemente descumpridas. E em geral, o comportamento só muda quando alguma situação desagradável atinge alguém próximo ou muito conhecido. Isso chama atenção e coloca todos em estado de alerta.

    É o que acontece cada vez que algum caso trágico repercute na sociedade ou traz sofrimento ao atingir alguém querido. Ao tomar conhecimento do acidente e da morte do guitarrista do Titãs Marcelo Fromer, que foi atropelado ao atravessar a rua e morreu com um trauma no crânio nesta semana, a tendência, mesmo que inconscientemente, é tentar ser mais cauteloso, embora a preocupação não dure muito tempo, quando andar na rua.

    "O que acontece com as outras pessoas serve como exemplo para nós porque todo aprendizado é adquirido por meio de um modelo. Observamos o que as pessoas fazem de certo ou de errado e imitamos ou repudiamos o comportamento delas", diz a psicóloga Mercedes Marin Pedroso.

    O titã foi atropelado e, consequentemente, todo mundo vai começar a atravessar a rua na faixa de pedestres ou então ficar com pavor de motocicletas.

    Para o professor titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp, José Alberto Del Porto, as tragédias têm dois aspetos: o negativo, quando tomamos conhecimento da morte de alguém próximo ou famoso, o que causa aflição, mas, por outro lado, um segundo, positivo, que serve para percebermos que a morte não é algo abstrato e impessoal.

    "Qualquer tragédia faz com que nos perguntemos se estamos usando bem a nossa vida. Quando lembramos que temos um tempo limitado hierarquizamos os nossos valores", disse o médico.

    Segundo a psicóloga Rosemary Miyahara, a alteração de comportamento diante de tragédias ou situações tristes é natural, mesmo que perene. "Na constituição do indivíduo há três questões que tomam um lugar importante: a separação, o apego e o luto. O ser humano tem isso desde criança e, apesar de crescer e se desenvolver, continua guardando esses referenciais", disse a psicóloga.

    O psiquiatra Geraldo Massaro também acha que é natural as pessoas se disciplinarem após uma tragédia. "Um acontecimento social mobiliza e faz pensar. Há uma reação de proteção por identificação com a vítima. Então passa-se a reagir de outro jeito e a mudar o comportamento", afirmou a psiquiatra.

    A preocupação e o medo da perda existem dentro de qualquer pessoa, mas são sensações ficam escondidas. "Quando acontece na vida do outro a tendência é remeter para a sua vida. Depois de um tempo, as defesas se quebram. É um mecanismo para evitar o sofrimento que angustia, que dói",diz Rosemary.

    Na opinião de Rosemary, as alterações de comportamento provocadas por casos tristes passam logo porque não são esses acontecimentos que deveriam provocar a mudança. "Temos a memória curta. Precisamos de repetição para aprender e mudar o comportamento", afirma Mercedes.

    "Enquanto a situação dura, reagimos. Quando desaparece, a tendência é esquecer. A reação tem um lado bom, porque não dá para viver se você não pára de pensar, e um lado ruim, porque você deixa de aproveitar a crise para se transformar", diz Massaro.

    Para o psiquiatra, a reação passageira pode ser explicada por dois motivos, segundo ele mais sociológicos do que psicológicos: não somos ensinados a tomar consciência dos riscos e a transgressão é tida como natural.

    O importante é amadurecer a idéia de que é preciso se cuidar, sempre.

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