Equilíbrio
27/06/2001 - 09h20

Pai de vendedor achou que ele brincava quando contou ser gay

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da Folha Online

"Estou aliviado", disse o vendedor F.Z.A., 18, que depois de muitos anos tentou esconder de si mesmo a atração por homens. F. disse que conseguiu superar a opção sexual há dois meses, e o medo e o preconceito, finalmente, foram deixados de lado quando ele assumiu ser homossexual.

"Quando era criança tive que sair da escola porque os meninos caçoavam de mim. Eu estava sempre no meio das meninas. Não tinha amigo homem. Foi complicado porque aos sete anos já percebia que eu era diferente", disse F..

O primeiro relacionamento sexual de F. aconteceu aos 12 anos, com um colega de escola da mesma idade. Mesmo não sentindo atração pelo sexo oposto, o vendedor também se relacionava com meninas na época.

"Quando eu tinha 15 anos namorei sete meses com uma menina. Era uma coisa de auto-afirmação, para impressionar os meus pais e eu até a levava para dormir em casa."

Enfrentar a homossexualidade foi uma das maiores dificuldade encontradas por F.. Com medo de assumir a orientação sexual para ele mesmo, o vendedor não comentava com ninguém o que sentia. "Nunca conversei sobre isso. Eu não conversava nem comigo mesmo. Ignorava completamente o assunto", disse.

A decisão de revelar que se sentia atraído por homens veio com um "empurrão" involuntário de uma amiga. "Conversei com uma menina com quem eu ficava. Ela era minha amiga e disse que achava que estava gostando de uma menina. Aí me senti seguro e contei para ela que eu era gay. Foi um alívio. Me senti leve. Descobri que minha homossexualidade não era um bicho de sete cabeças."

Depois de 18 anos sem falar no assunto, o vendedor, aos poucos, foi se sentindo mais à vontade e contando para os amigos. "Foi fácil contar porque eram todas amigas. Mulher acha que não corre risco por ter um amigo gay. Com homem é mais complicado. Tem aquele medo de que associem a minha imagem com a dele e pensem que ele é gay", disse.

O passo seguinte, segundo F., para que ele se sentisse aliviado de uma vez, foi dizer aos pais que era gay. "Estava super seguro para contar aos meus pais porque a minha família sempre foi muito aberta. Cheguei primeiro para o meu pai, que parecia ser o mais cabeça aberta. Contei como se fosse brincadeira. Ele não acreditou e realmente levou na brincadeira. Então falei para a minha mãe e ela disse que já sabia, que já me conhecia e que tinha visto umas coisas na minha gaveta", afirmou.

A notícia foi dada novamente ao pai de F., mas desta vez pela mãe dele. "Ele teve uma reação que eu não imaginava, tanto que contei primeiro para ele. Meu pai começou a se perguntar no que ele tinha errado. Depois nunca mais tocou no assunto. Ele nem quer saber."

Depois da tempestade, a vida de F. está mais calma e feliz, segundo ele. "Agora que já está tudo em paz eu não preciso mais ficar com mulher", disse. O vendedor não se arrepende de ter contado tudo e diz que é muito bom ter o apoio dos pais.

O último relacionamento do vendedor durou dois meses e nada "carnal", como ele mesmo diz, aconteceu. A intenção do vendedor agora é se envolver com alguém que ele goste de verdade e não apenas por sexo. "Se for para ficar só no carnal eu não quero. Quero trabalhar meus sentimentos. Descobri que há pessoas com quem eu posso me relacionar sem necessariamente me envolver."

O preconceito muitas vezes magoou F., que chegou a apanhar em festas quando alguém percebia que ele era gay. Hoje ele não se incomoda mais. "O preconceito vem dos enrrustidos. De gente que vive da imagem e acha que só existe o modo de vida padrão. Agora não sofro mais porque estou em outros meios. Procuro as pessoas que eu gosto", disse.

O conselho de F. para quem ainda não "assumiu" sua opção sexual é enfrentar o medo. "No começo pode ser barra, mas depois é muito bom. Às vezes uma pessoa importante para você pode virar a cara por uma semana, mas mil pessoas vão olhá-lo do jeito que você é. Você mesmo se olha de um jeito diferente porque mais difícil que assumir para os outros é assumir si mesmo."

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