Equilíbrio
26/08/2001 - 09h49

Mulheres deixam casamentos longos para apostar em novas paixões

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da Revista da Folha

Diz um ditado machista que é mais provável uma mulher acima dos 50 anos ser atingida por um raio na cabeça do que casar-se de novo.

A piada parte de um dado real, de que é muito mais fácil para os homens conseguirem um segundo casamento, já que mulheres mais novas não se importam de viver com companheiros "maduros".

Talvez por isso a reviravolta que a prefeita paulistana Marta Suplicy deu em sua vida amorosa no último mês esteja mobilizando tanto a opinião pública: uma mulher de 56 anos, com três filhos, deixa o marido -bonito, rico, inteligente e honesto- depois de 36 anos de casamento. Aparece, pouco tempo depois, namorando um novo homem.

A consultora Jeritza Gentil, 55, identificou-se rapidamente com a história de Marta. "Muita gente disse que eu era burra ou vadia, outros me chamaram de heroína. Mas eu fiz o que achava mais certo", conta Jeritza, que durante 20 anos foi mulher do empresário cearense Carlos Jereissati, 55, do grupo La Fonte, dono da rede de shoppings Iguatemi e um dos acionistas do consórcio de telefonia Telemar.

Jeritza conhece Carlos desde que nasceu ("nossa diferença é de 20 dias") e foi sua primeira namorada. Mesmo assim, depois de 19 anos de casamento e três filhos -hoje com 31, 30 e 25-, decidiu separar-se para assumir o romance com um homem casado, seu namorado até hoje. "Ele nunca se separou e vivemos como amantes", diz.

Tanto Jeritza, quanto Marta fogem à regra, mesmo considerando que as mulheres são responsáveis pela maioria dos pedidos de separação: embora cerca de 70% dos processos litigiosos partam delas, são quase sempre motivados pela chamada "conduta desonrosa" deles.

"A expectativa geral é da desistência do amor a partir dos 50 anos. O gesto dessas mulheres mostra que elas estão sexualmente aptas. A atitude de Marta confere à mulher de 50 uma juventude que lhe era negada. É um ato libertário mesmo", afirma a psicanalista Betty Milan, uma das feministas que se levantou em defesa da ex-sexóloga.

Desafiar a "expectativa geral", como diz Milan, tem seu custo. "Sempre que me encontra, meu ex-cunhado (o governador do Ceará, Tasso Jereissati) costuma me cumprimentar muito educadamente, mas olha como quem diz: 'Essa mulher é uma louca. Largar aquela vida de temporadas de esqui em Gstaad, com a Elizabeth Taylor, o Robert de Niro, para viver em apartamento alugado", diz.

A consultora, como Marta, formava com o marido o chamado "casal perfeito" do Ceará. "Ninguém imaginaria que pudéssemos nos separar. Foi uma surpresa até para o meu marido. Vivia para ele, meus filhos, a casa, e tínhamos um excelente relacionamento sexual."

O "casamento perfeito" não resistiu a um novo amor. "As pessoas me diziam que eu não precisava terminar o casamento, que todo mundo tem amante e continua casado", recorda.

Jeritza diz que preferiu assinar logo a separação e "ficar em paz", mesmo em desvantagem financeira.

"Perdi muita coisa, meu nível de vida baixou. Hoje, vivo com 37 salários mínimos (R$ 6.660). Tive de me mudar da casa onde eu morava sozinha, de 2.000 m2 de terreno, no Morumbi, porque não tinha dinheiro para pagar o IPTU", afirma. Mas não se arrepende, ainda que o namorado continue casado. "Ele me faz um bem enorme."

Mais discretas O advogado Sérgio Marques da Cruz Filho, 54, 30 anos de experiência na área de direito de família, afirma que não dá para endeusar as mulheres. "Elas estão aprendendo direitinho a não se entregar tanto. Hoje, sabem muito bem diferenciar marido de amante. Só que não se expõem tanto, como os homens, que costumam falar da 'outra' cheios de orgulho em uma roda de amigos. As mulheres têm receio moral por causa dos filhos e da sociedade e também porque têm muito mais a perder", diz.

Tudo depende, segundo Cruz, da situação financeira. "Quando uma mulher se sente fortalecida financeiramente e está com os filhos encaminhados, sente-se auto-suficiente e pronta para atitudes decisivas em relação ao casamento", diz o advogado.

Quando isso não ocorre, a sobrevivência fala mais alto. "Se depende do marido, como boa parte delas, casou jovem, o tempo passou e ela envelheceu cuidando dos filhos, sem uma carreira profissional, não vai abrir mão do casamento. Fecha os olhos e engole os sapos", afirma.

Sem independência financeira nem experiência profissional, a separação às vezes depende do novo provedor. "Sempre fui do lar", explica a artista plástica carioca Maria Lúcia Raposo, 72, que deixou o marido e os dois filhos após 20 anos de casamento, para ir embora com um empresário português por quem se apaixonou.

"Foi ele quem bancou a casa em que eu fui morar. Eu não teria condições, nunca trabalhei", conta.

Joaquim foi apresentado a ela por uma cunhada. "Não achei nada, até que ele começou a falar de como tinha vindo de Portugal e feito a vida no Brasil. De repente, estava encantada."

Ele ligou no dia seguinte; no outro, convidou-a para almoçar. "Durante seis meses, saímos para almoçar uma vez por semana, mas não tinha sexo. Tive uma criação muito rígida, fui criada para bordar, cuidar da casa, dos filhos. Eu não conseguia."

Os receios terminaram uma tarde, num motel. "Até então, eu não sabia o que era sexo, não era feliz com meu marido. Passei a chegar em casa, às quartas-feiras, com o cabelo molhado, e inventava que estava na sauna. Quando vi que estava apaixonada, resolvi acabar com aquilo."

Joaquim, com quem Maria Lúcia viveu oito anos, primeiro no Brasil e depois em Angola, era casado, tinha quatro filhos, e nunca chegou a se separar totalmente. "Quando ele morreu, de câncer, fui voltando aos poucos para o meu primeiro marido, que também teve namoradas, mas não havia se casado de novo. Ele era como o Suplicy, achava que o mesmo caminho que vai, vem."

Ficaram juntos até a morte dele, 15 anos depois, também de câncer. "Mas, nesse tempo todo vivendo sob o mesmo teto, nunca voltamos a ser realmente marido e mulher. Para mim, não dava mais, depois de ter conhecido o Joaquim."

A experiência de Maria Lúcia revela a dificuldade de pôr fim a um casamento de décadas. "Um casal que fica junto muito tempo partilha filhos, dinheiro, casa, sobrenome. Deveriam instituir o casamento com separação de corpos -você vê, a Marta continua Suplicy e tem uma porção de coisas em comum com o senador", diz Betty Milan.

Isso, é claro, depende de uma certa civilidade que, diz Betty, o petista tem de sobra. Já no caso da artista plástica Mírian Jardim, 49, não foi possível manter a fleuma. Ela diz que pediu a separação porque não tinha mais condição de conviver com o ex-marido.

"Ele duvidava que eu tivesse coragem, por causa dos nossos quatro filhos, mas um dia disse que não queria mais", conta Mírian, que estava casada havia 19 anos. Logo depois da separação, assumiu o romance com um ex-vizinho, que também era casado havia 25 anos.

Por conta de sua decisão, Mírian diz que sofreu muito preconceito e toda sorte de intriga. "Fui visitar amigas que pediam para eu não falar perto do marido delas que estava namorando outro. As pessoas criticam, repudiam, mas você percebe que é porque não têm coragem de fazer o mesmo", acredita.

Ela conta que os três filhos do atual marido -o tal vizinho- acham até hoje, nove anos depois, que ela está tirando dinheiro dele. "Há algum tempo, ele trocou meu carro e eles vieram saber quem pagou." A economista tucana Elena Landau, 43, saiu em defesa da prefeita petista. "Ela foi tão cuidadosa, fez até quarentena antes de assumir o namoro, para preservar o relacionamento com o senador", diz Elena.

Elena já passou por uma "situação assim", mas não dá detalhes. "Deixei um marido para assumir uma paixão. Superamos tudo muito bem e hoje somos amigos", conta. A guinada de Elena aconteceu entre as paredes do BNDES, onde ela era diretora de privatizações (1993-96). Casada com Regis Bonelli, também diretor do BNDES, separou-se e foi viver com Pérsio Arida, então presidente do órgão.

"Antes de falar mal de Marta, as pessoas deveriam se lembrar da Zélia (Cardoso de Melo), que chamou os jornalistas para anunciar o seu namoro com o Bernardo Cabral (ministro da Justiça do governo Collor) naquela famosa festa do 'Besame Mucho'", diz Elena.

No meio de tanta polêmica, Marta e o namorado argentino, Luis Favre, não dão entrevistas sobre sua vida pessoal. Por enquanto, nem bolero nem tango.

 

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