Equilíbrio
05/03/2002

Um mundo de cheiros e novidades

LUIZ RIVOIRO
colunista da Folha Online

A chegada do João trouxe para casa, além daquela esperada revolução em nosso cotidiano, um outro cheiro. Desde a sua triunfal entrada, ainda enroladinho em uma manta nos braços da Mãe, o garoto mostrou um pouco de sua força ao inundar o ambiente com aquele delicioso "cheirinho" de bebê.

Mas, convenhamos, essa talvez seja apenas a mais singela das mudanças. Só para continuarmos no campo dos aromas, podemos incluir aí outras "novidades" nos ares da casa. Sem rodeios, falo de cocô, xixi, vômito, pum, arroto. Sim, porque não há como falar de recém-nascidos sem tocar nesse escatológico tópico. Eles são assim, sem cerimônia. Fazem quando têm vontade, não se preocupando em esconder ou adiar as suas necessidades.

E o mais engraçado é que para nós, pais, o perfeito funcionamento daquele pequeno intestino -e, claro, suas ruidosas manifestações é motivo de imensa alegria. Na troca de fralda passa a ser comum você se pegar soltando comentários do tipo "Olha só que cocozinho legal... Mandou bem, hein garoto!".

Quer fazer um teste? Experimente perguntar para uma mãe o que ela espera que seu bebê faça logo após mamar. Dormir? Quem dera... Antes de tudo ela há de enfrentar, por pelo menos cinco minutos, uma dura batalha onde o primeiro prêmio é um arroto. O detalhe é que essa batalha não tem hora, avançando noite adentro.

Nas nossas madrugadas, agora quem dita o ritmo é ele. E que disposição tem esse menino, não deixando nada a dever às baladas ou shows de rock. Como um reloginho, ele acorda de três em três horas com fome, muita fome. A partir daí, o circuito é basicamente o mesmo: choramingo, mamada, cocô, arroto (ou não), troca de fralda e sono. Às vezes, esse circuito sofre um curto e algo não funciona na sequência esperada. São "panes" que envolvem, por exemplo, cocôs inesperados durante a troca de fralda, mamadas curtas demais ou uma incrível resistência em voltar ao reino dos sonhos, o que explica, na manhã seguinte, aquele aspecto de zumbi dos pais.

No meio disso tudo, rola ainda aquela encanação de que o bebê possa não estar respirando. Sabe como é, todo pai (e mãe) tem isso. Pode falar que não, mas hora ou outra estamos lá com a mão na barriguinha dele para ver se está tudo correndo bem.

Aos poucos -e graças a Deus- vamos nos acostumando e desenvolvendo uma audição tão aguçada capaz de notar as mínimas alterações no ritmo da respiração deles, incluindo aí eventuais soluços e pequenos engasgos. É, descobri que sofro da "síndrome do sempre alerta".

Outra novidade -e essa altamente cercada de misticismos- fica um pouco acima da linha da cintura e atende pelo nome de umbigo. Ok, é verdade que nos últimos tempos o piercing lhe conferiu um certo status, mas, convenhamos, desde que me entendo por gente nunca dei muita bola para ele. Mas agora que o João chegou as coisas mudaram. O tal é importantíssimo, tratado como questão de Estado: "E aí, ele já caiu? Cuidado para não infeccionar...", "Que tal enrolar uma faixa para protegê-lo?" ou ainda "Mas você molha ele? Isso não faz mal?". Bom, tenho a dizer que tal do umbigo não é tão assustador assim. É só um pedaço de tecido morto que dá para molhar, limpar e secar. No caso do João foi tranquilo. Semana passada ele caiu duro e todo esse alvoroço já faz parte do passado.

Intrigante mesmo é o caso da cor dos olhos. Ao nascer, podia jurar que o João os tinha verde-escuros. Depois, passaram a um azul meio acinzentado e agora parece que são castanhos. Na verdade, não dá para saber. Pelo que li, pode levar até um ano para a tonalidade definitiva se firmar. Com o cabelo, dizem, acontece algo semelhante.

Enquanto isso, aproveitando os palpites da família e dos amigos, esquadrinhamos o rosto dele em busca dos traços de um e de outro para, só de brincadeira, fazer nossas apostas sobre com quem ele se parece. Enquanto uns dizem que é comigo, outros garantem que ele tem a cara da Mãe. Como o João (olha o diminutivo!) é muito, mas muito bonitinho, melhor ficar com o segundo palpite.

Em tempo 1: a todos aqueles que escreveram nos parabenizando pelo nascimento do João, nossos (o meu e o da Mãe) sinceros agradecimentos. Valeu a torcida. Obrigado.

Em tempo 2: para a outra mãe (a minha) e para a Tia (minha irmã) parabéns pelo dia de hoje. Vocês merecem.
Luiz Rivoiro é jornalista, editor-chefe do Núcleo de Revistas da Folha e pai "de primeira viagem". Escreve quinzenalmente na Folha Online, às terças-feiras.

E-mail: lrivoiro@uol.com.br

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