Equilíbrio
30/04/2002

O sono dos justos

LUIZ RIVOIRO
colunista da Folha Online

A questão é: como fazê-lo dormir e, consequentemente, dormirmos também? Confesso que nessa nova vida de pai esse era um dos meus maiores temores: - Será que ele vai dormir à noite? E, caso isso não aconteça, o que devemos fazer?

No começo, bem no comecinho mesmo, não foi muito difícil. O João, como todo recém-nascido, passava a maior parte do tempo dormindo e acordava para mamar de três em três horas. Claro que foi cansativo, sobretudo para a Mãe, mas sabíamos o que esperar dessa fase: pouco sono, apreensão, incerteza. E assim foi.

As dúvidas começaram logo depois, quando ele completou um mês de vida. E elas vieram como uma enxurrada: "Devemos mantê-lo no nosso quarto ou acomodá-lo no dele?", "A luz deve ficar acesa ou apagada?", "A casa deve mergulhar em um silêncio profundo ou não?", "Devemos fazê-lo ninar no colo ou deixá-lo no berço?", "Cada vez que ele acordar, devemos pegá-lo ou não?" Dúvidas, dúvidas e mais dúvidas.

Atormentados com nosso grau zero de experiência no assunto e bombardeados pelos mais diferentes tipos de palpites, resolvemos dividir nossas inquietações com o pediatra. Foi a decisão mais acertada que tomamos. Em primeiro lugar, ele nos tranquilizou dizendo que não havia motivo para pânico, que cada criança é de um jeito e coisas assim, digamos, reconfortantes. Em seguida, recomendou a leitura de um livro, "Nana, nenê" (148 páginas, ed. Martins Fontes), uma espécie de "guia" que, como diz o título, promete ensinar os bebês a dormirem.

Escrito pelo médico especializado em distúrbios do sono Eduard Estivill e pela jornalista Sylvia de Béjar, o livro, pequeno e de linguagem bastante acessível, tem como objetivo resolver o problema de insônia das crianças e, por tabela, o dos pais. Aceitei a sugestão, mas desconfiei.

Quando o João completou dois meses e passou a ficar mais tempo acordado, resolvemos colocar em prática os "mandamentos" do livro. E não é que funcionou?

Não vou dissecar aqui toda a teoria e metodologia desenvolvidas pelo médico catalão, mas os pontos que testamos e que deram certo foram os seguintes:

1) É preciso criar uma rotina para levar a criança para o berço. No nosso caso, ela começa entre 18h30 e 19h30 e compreende banho, mamada, troca de roupa, nova mamada, quarto à meia-luz, silêncio, acomodação do garoto o berço ainda acordado, luzes apagadas (todas) e pronto: entre 20h30 e 21h ele já pegou no sono;

2) Para que o bebê não se sinta sozinho, é bom que ele tenha um "amiguinho", que vai acompanhá-lo no berço. Pode ser um bichinho qualquer, uma almofadinha ou algo do gênero. No caso do João, é o Chiquinho, um pequeno urso de pelúcia (sim, sim, eu sei, eles de novo! Mas não há como escapar, eles se infiltram, são muito mais organizados, espertos e poderosos do que vocês pensam...);

3) É importante que o bebê seja acomodado no berço ainda acordado. Assim, segundo o dr. Estivill, ele se verá obrigado a aprender a dormir por conta própria.

4) Se o bebê demorar a pegar no sono e chorar, devemos ser fortes o bastante para resistir à tentação de pegá-lo no colo para niná-lo. A Mãe, no início, quase não se aguentava, mas seguiu à risca a determinação de "conversar" apenas, sem tocar no garoto. Nessa hora, é preciso dizer que ele não está sozinho e que aquele é o momento de ele dormir. Logo depois, devemos sair do quarto, deixando-o sozinho;

5) Se depois disso o bebê ainda insistir em chorar -e no início ele vai insistir-, o livro recomenda que se espere um minuto até voltar ao quarto para "conversar" novamente com ele por 30 segundos. Já fiz isso e, depois desse papo, saí deixando o João sozinho. Caso o choramingo persista, a tabela do nosso amigo catalão recomenda uma espera de três minutos e daí uma nova conversinha. Se não resolver, o intervalo deve ser aumentado para cinco minutos e assim mantido até que o bebê adormeça. No nosso caso, não chegamos aos intervalos de cinco minutos, com o João dormindo sempre entre o primeiro e terceiro minuto;

6) Como resultado, desde que adotamos esse método, posso dizer que o garoto tem dormido direto (e nós também) até as 5h ou 6h;

É claro que, como disse o pediatra, cada criança é de um jeito e coisa e tal, e que esse método pode funcionar bem para uns e simplesmente não ajudar outros em nada, mas a verdade é que o João assimilou bem essa rotina e isso o tem ajudado a reprogramar os ponteiros do seu pequenino relógio biológico. Os pais agradecem.
Luiz Rivoiro é jornalista, editor-chefe do Núcleo de Revistas da Folha e pai "de primeira viagem". Escreve quinzenalmente na Folha Online, às terças-feiras.

E-mail: lrivoiro@uol.com.br

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