Gastronomia mediterrânea ajuda a prevenir doenças do
coração e câncer
JORGE
BLAT
da
Folha Online
Uma
alimentação saudável não cura uma doença,
mas certamente ajuda a reduzir a possibilidade de contraí-la.
Você acreditaria que uma dieta na qual pode-se comer pão,
queijo, carnes, ovos e ainda por cima beber vinho todos os dias
ajuda a prevenir doenças do coração, os cânceres
de cólon e de seios, mantém baixos os níveis
de colesterol e controla o seu peso?
Sim, ela
existe, e há mais de quatro mil anos, na região do
Mediterrâneo. Um prato típico desta culinária
pode conter apenas 8% de gordura contra 25% ou até 35% nas
refeições comumente consumidas em outros países
ocidentais e do Leste Europeu . "A grande vantagem da dieta
mediterrânea é que ela tem baixos níveis de
gordura saturada, isto é, carece de carnes vermelhas e produtos
lácteos gordurosos", afirma Maria Lúcia Garcia,
presidente da Associação Paulista de Nutrição
(Apan). Na representação da pirâmide nutricional
da dieta (veja abaixo), as carnes estão no topo, o que significa
que seguidores desse regime alimentar consomem esporadicamente carnes,
uma vez ao mês.
Quanto
ao clichê de que o consumo diário de pães e
massas engorda, alimentos básicos na gastronomia mediterrânea,
Garcia contesta: "pão e massas provêem de cereais,
ricos em carboidratos, e não de gorduras animais". Cada
grama consumida de proteína produz quatro gramas de calorias,
enquanto que cada grama ingerida de gordura transforma-se em nove
de calorias. "As massas são imprescindíveis porque
fornecem bastante energia ao corpo, com baixa caloria. Nosso organismo
necessita de 60% de energia, que vem na forma de hidratos de carbono
presentes em massas e pães", acrescenta Garcia.
Os pilares
que sustentam os benefícios da dieta mediterrânea são
o azeite de oliva, o trigo, as verduras e os legumes. O consumo
de azeite de oliva, por exemplo, que é um ácido gorduroso
monoinsaturado, normaliza a taxa de colesterol no sangue, e, por
consequência, inibe a formação da placas de
gordura nas cavidades arteriais, o que reduz o risco do aparecimento
de alguma doença cardiovascular.
Alguns
ingredientes típicos da região do Mediterrâneo
são importados pelo Brasil, mas aqui têm um preço
elevado. Garcia sugere, por exemplo, que o azeite de oliva seja
substituído por óleos de canola e girassol, que carecem
de gordura saturada como o azeite.
Queijos
e iogurtes devem ser consumidos à vontade, mas não
todos os tipos. "É preferível comer queijos magros,
como a ricota, que tem pouca gordura", afirma Garcia. Quanto
à carne de porco, vale o mesmo princípio da vermelha:
ingeri-la esporadicamente "e, de preferência, partes
com poucas gorduras, como o lombo ou o filé mignon",
afirma Garcia. O vinho tinto, que traz benefícios na circulação
do sangue e é um dilatador cardiovascular, deve ser consumido
diariamente com moderação, como acompanhamento das
refeições.
A presidente
da APAN diz que seria "bastante benéfico para o país
que a nossa alimentação fosse inspirada na dieta mediterrânea".
O hábito alimentar do brasileiro, centrado no consumo quase
diário de carne vermelha, ganharia em qualidade e economia.
"Diante das dificuldades econômicas que a população
passa no dia-a-dia, a troca de carnes de vaca e de porco por galinha
e peixe seria benéfica para a saúde", conclui.
Estudos
na Universidade de Bordeaux, na França, em 1997, provaram
que a alimentação com base na dieta mediterrânea
pode prevenir em até 70% o risco de um segundo ataque cardíaco.
O trabalho com 600 pacientes concluiu que a dieta é muito
mais eficiente do que uma dieta considerada convencional na prevenção
de ataque cardíaco e morte após um primeiro infarto.
A dieta
convencional é rica em ácido linoléico (uma
gordura poliinsaturada presente nos óleos vegetais de milho,
soja, girassol e margarinas) e a dieta mediterrânea tem mais
ácido oléico (gordura monoinsaturada presente no azeite
de oliva e no óleo de canola).
Os pacientes
que se alimentaram por meio da dieta mediterrânea por 27 meses
tiveram uma incidência de infarto e morte 73% menor do que
os que receberam a dieta convencional. O efeito protetor começa
a ser observado dois meses após o início da dieta,
o que sugere um efeito de prevenção na formação
de trombos (coágulos) que bloqueiam totalmente a coronária.
Em outras
pesquisas, tanto os ácidos graxos ômega 3, como os
folatos, antioxidantes, proteínas vegetais e outras substâncias,
presentes nos peixes, legumes, frutas e cereais, indicaram redução
dos níveis de colesterol.
A Associação
Americana de Cardiologia, porém, reconhece que a incidência
de doenças cardíacas na região do Mediterrâneo
é menor do que nos EUA, mas que outros fatores, como o estilo
de vida, têm de ser levados em conta na análise de
seus benefícios à saúde.
Pirâmide
nutricional da dieta mediterrânea
|
|
Fonte:
Oldways Preservation & Exchange Trust
|
A pirâmide
da dieta mediterrânea foi desenvolvida após estudo
realizado em 1960 sobre as tradições alimentares da
ilha de Creta, na Grécia, e do sul da Itália. Os pesquisadores,
na época, identificaram uma menor taxa de doenças
crônicas e maior expectativa de vida dos habitantes destas
regiões e avaliaram que a alimentação era fator
importante na prevenção de doenças.
Variações desta dieta existem em todos os países
banhados pelo Mediterrâneo. A pirâmide não é
fundamentada somente no peso ou na quantidade de calorias que os
alimentos contêm. Mas na combinação das porções
a serem ingeridas e na indicação de quais comidas
favorecem o estilo da dieta do Mediterrâneo.
Leia mais sobre dieta mediterrânea
nas páginas seguintes
|
|