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Computador na escola pode prejudicar desenvolvimento da criança

JORGE BLAT
da Folha Online

Os computadores, considerados imprescindíveis nas grandes empresas, bancos, escritórios e até em pequenos negócios, aos poucos tomam conta também da escola e se tornam os novos "companheiros" de classe da criança e do adolescente.

O Censo Educacional de 1999, do Ministério da Educação, mostra, por exemplo, que ainda existe um atraso no número de computadores conectados à Internet nas escolas públicas, mas verifica-se também um crescimento deles nas instituições privadas. Nas escolas públicas de ensino fundamental, 3,2% estão conectados à rede contra 39,2% das particulares; e 10% das instituições públicas de ensino médio estão conectadas contra 58,9% das privadas. No Brasil, já existem mais de oito milhões de computadores.

A maioria dos especialistas concorda sobre os benefícios que o uso de computador podem trazer à criança, mas alguns, são céticos e criticam . O matemático Valdemar Waingort Setzer, do Instituto de Matemática e Estatística da USP (Universidade de São Paulo), é um dos críticos e vê uma influência negativa devastadora. "A criança é obrigada a ter um pensamento lógico-simbólico e uma linguagem formal que não fazem parte de seu aprendizado, de seu mundo", explica Setzer. "Isso no futuro pode causar sérios problemas psicológicos e mentais a ela", conclui.

Mas a pedagoga Silvia Fichmann, especialista em tecnologias aplicadas à educação da Escola do Futuro, núcleo de pesquisa da USP, não acredita haver problemas em uma criança usar o computador de forma criativa e saudável. "Tudo na vida tem de ser dosado. É claro que não é aconselhável que ela fique cinco horas diárias em frente ao computador", afirma Fichmann. "Recentemente nos EUA um software educacional dirigido a crianças até quatro anos foi premiado por estimular a criatividade e a imaginação", completa.

"Em um software educacional, o entusiasmo é por todo o aspecto visual, auditivo e de animação, é pelo cosmético, não pelo conteúdo", retruca Zetzer. Mas para Fichmann, "o mais importante é que pais e professores orientem a criança sobre como usar o computador e o que ela deve ver ou não na Internet".

Para o matemático, a popularização da Internet vem acelerar os prejuízos à criança. "Ela não tem a maturidade necessária de escolher o que deve e o que não deve saber, logo ela não precisa de um computador. A criança necessita desenvolver auto-controle e isso ela só vai adquirir aos 16 ou 17 anos", diz Setzer. "No momento em que a criança souber escolher, ela já não estará agindo como criança", completa.

De encontro com o pensamento de Setzer, reportagem publicada recentemente pelo "The Wall Street Journal" mostrou que os jovens nos EUA estão mudando de comportamento.

Com a chegada da Internet, perderam a disposição para o convívio tradicional. Estão ficando mal-educados e menos atenciosos, enfim, conversa-se bem a distância nas salas de bate-papo, mas não sabem como se comportar quando estão frente a frente. 68% dos jovens norte-americanos brincam com videogames. Destes, 86% são meninos.

Segundo Setzer, em artigo recente nos EUA, comprovou-se cientificamente que jogos eletrônicos produzem atitudes agressivas nas crianças.

"Não acredito que o computador possa causar danos psicológicos porque isso só aconteceria se for constatado na criança uma tendência do problema. Todos os problemas ocorrem quando não se fixam limites", diz Fichmann.

Fichmann lembra que no início da popularização da televisão algo semelhante ocorreu. "Muitos disseram que as crianças cresceriam "robotizadas" por ficarem em frente ao aparelho por muito tempo, o que não se comprovou até hoje".

De acordo com Setzer, a péssima qualidade do ensino público no Brasil está sendo escamoteada com a suposta modernização por meio da aquisição de computadores.

"Em vez de corrigir o mal pela base, isto é, educar o professor, dar-lhe melhores salários e condições para que dê aulas com entusiasmo, com amor pelos alunos, despertando neles o interesse pelo aluno, coloca-se uma máquina, que atrai o jovem não pelo contexto, conteúdo, mas pelo cosmético, isto é a multimídia", explica Setzer.


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