"Efeito Guga" leva
crianças ao tênis, mas esporte exige boa preparação
da Folha Online
O
sonho de muitas crianças brasileiras tornarem-se futuros
craques de futebol ou novos "Ayrtons Sennas" da Fórmula
1 mudou de cenário na virada do milênio, e agora, em
vez de bolas de futebol e carros de corrida, a garotada se espelha
nas raquetadas de Gustavo Kuerten, o Guga, atual número um
da Corrida dos Campeões, o novo ranking mundial de tênis.
Mesmo
para Guga a caminhada ao topo não foi fácil. Além
de ter dado os primeiros "forehands" (golpes de direita)
desde criança, a preparação física,
técnica e mental foi fundamental para chegar aonde está.
"No início, a partir dos quatro anos, o tênis
deve ser para a criança uma diversão", afirma
a ex-tenista profissional Patrícia Medrado, número
um do tênis feminino no país por 11 anos e hoje técnica.
"Alguns instrutores, infelizmente, treinam as crianças
como adultos, o que no início não é o ideal",
adverte Medrado.
Nessa
idade, a criança deve brincar com raquetes de plásticos
e bolas especiais e mais leves, exercitando a capacidade de controle
de bola. E, aí sim, a partir dos 12 anos, aprimorar os golpes
e aprender técnicas de concentração e de disciplina,
preparando-se para as competições.
Para
quem já é adulto e quer se iniciar no esporte, uma
avaliação médica prévia é importante,
já que o tênis exige um bom preparo físico e
cardiovascular. A escolha de um bom técnico também
é fundamental. "As lesões podem ser prevenidas
no futuro se um instrutor de tênis orienta o iniciante na
escolha da raquete e de como deve ser batida a bola", afirma
Medrado.
Em
geral, no início, recomenda-se praticar o esporte duas vezes
por semana e uma hora por dia, e depois, paulatinamente, conforme
a disposição, jogar todos os dias, no máximo,
por duas horas.
Mas
para quem acredita que a prática do tênis causa frequentes
lesões, como nas articulações dos braços
e das pernas, especialistas advertem que o perigo de contusões
existe invariavelmente na maioria dos esportes. "Como esporte,
o tênis é tão bom ou melhor que a natação,
por exemplo, inclusive há médicos que o sugerem para
seus pacientes", afirma Medrado.
Turíbio
Leite de Barros Neto, coordenador do Centro de Medicina da Atividade
Física do Esporte, da Escola Paulista de Medicina, destaca
que apesar de a natação ser considerada a melhor modalidade
esportiva para o corpo, tal fato não é o mais relevante
na hora da escolha do esporte. "Se forem analisados outros
aspectos, a natação, por exemplo, perde para o tênis,
que incentiva o relacionamento social e desenvolve a competitividade",
afirma Barros Neto. "O importante é que a pessoa sinta
prazer em praticar o esporte escolhido", completa.
Patrícia
Medrado afirma também que o tênis exercita as habilidades
mentais do esportista. "O raciocínio, a estratégia
e os ângulos dos golpes são fundamentais em uma partida
de tênis".
Os
braços e suas articulações são as partes
do corpo mais exigidas durante uma partida de tênis. A repetição
de movimento, a força usada e o choque da bola contra as
cordas da raquete tornam os braços vulneráveis a contusões,
principalmente mãos, pulsos e cotovelos, que podem sofrer
a chamada "síndrome do cotovelo de tenista", uma
inflamação nos tendões.
Mas
joelhos e as costas também podem sofrer. Barros Neto lembra
que jogadores que treinam muito forte e possuem uma estrutura de
corpo longilínea, como o Guga, são mais propensos
a sofrer lombalgias.
Ele adverte também que os técnicos devem ficar atentos
às crianças durante o aprendizado, já que podem
desenvolver uma hipertrofia na parte superior do corpo pela repetição
de movimentos apenas de um lado. "Deve haver uma compensação
com atividade muscular do lado oposto, com exercícios de
peso por cinco a dez minutos durante os treinos", explica.
Para
prevenir as lesões, Patrícia Medrado sugere que o
jogador fortaleça as articulações da mão,
por exemplo, apertando uma bola de borracha. "Exercícios
de alongamento nos braços e nas pernas antes e depois da
partida são importantes", diz.
No
Brasil, as quadras mais encontradas são as de saibro ou terra
batida, consideradas as melhores para a prática do tênis
porque não afetam tanto as articulações das
pernas. Definidas como lentas, já que a bola ao tocar o chão
diminui sua velocidade, é a que exige melhor preparação
física.
Existem
as chamadas de piso duro, que usam componentes asfálticos
ou emborrachados, encontradas principalmente em academias. Mais
rápidas, exigem maior velocidade do jogador e articulações
firmes. Mas as mais rápidas são as de grama, como
as do Torneio de Wimbledon, na Inglaterra. A bola ao tocar a grama
desliza e aumenta a velocidade. É a quadra preferida para
tenistas que jogam no estilo saque e voleio. No Brasil, existem
poucas deste tipo.
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