Exercício
no frio traz benefício
e atenção especiais
RODRIGO
DIONISIO
repórter da Folha Online
Juliana
Cintra/Folha Imagem
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Turistas
fazem caminhada ao lado da linha férrea, em Campos do
Jordão (SP), após geada no dia 18/07 |
Imagine a situação:
você acorda de manhã, sob uma pilha de cobertas. Pena para enfrentar
a água do chuveiro, liga o rádio ou a TV e descobre que a temperatura
está em 6ºC (como na terça-feira, dia 18, em São Paulo, capital).
Na hora de ligar o carro, para ir ao trabalho, amaldiçoa o momento
em que escolheu um modelo à álcool. Ao volante, passa por um parque
ou praça e vê pessoas alegres, caminhando ou correndo, e pensa com
um sorriso irônico: "Bando de gente louca!".
Pois bem, de loucas essas pessoas não têm nada e, muito pelo contrário,
podem estar aproveitando vantagens únicas desta época do ano para
exercitar o corpo. As mudanças fisiológicas geradas pelo frio podem
potencializar os exercícios realizados e aumentar os efeitos, por
exemplo, para quem pretende queimar gordura ou diminuir o peso.
"Com a temperatura mais baixa, o corpo vai queimar mais calorias,
para aumentar o seu próprio calor. Pessoas sedentárias podem conseguir
bons resultados se escolherem esta época para iniciar um programa
de exercícios físicos", garante o professor de musculação da academia
Runner e personal trainer Marcelo
Casemiro.
Entretanto, essa regra não pode ser generalizada. Segundo a professora
do Departamento de Biodinâmica do Movimento do Corpo Humano, da Escola
de Educação Física da Universidade de São Paulo (EEF-USP), Cláudia
Forjaz, os resultados vão depender da quantidade e intensidade do
exercício e, principalmente de uma alimentação adequada.
"Com exercícios leves, de intensidade moderada, quando apesar do exercício
você ainda sente o frio e tem tremores, realmente há uma queima maior
de calorias. Entretanto, exercícios de intensidade maior, que geram
um aquecimento mais elevado do corpo, vão gerar uma queima grande
de carboidrato. Na hora de repor essa queima é que, com uma alimentação
balanceada e orientada, você pode induzir seu corpo a gastar gordura.
No frio, a tendência natural do organismo é buscar mais alimento e
acumular gordura, que é o isolante térmico natural, portanto, só o
exercício não resolve", explica Forjaz.
Frio também aumenta cuidados
Além de acelerar o metabolismo, as temperaturas baixas causam uma
série de efeitos físicos (clique aqui
para saber quais são). Entre eles, está o aumento da produção
de energia por métodos anaeróbios, ou seja, sem uso de oxigênio. Isso
ampliada a produção de ácido láctico na musculatura.
E são justamente os músculos que exigem mais cuidado durante atividades
físicas no frio. "O risco de lesões musculares cresce com a temperatura
mais baixa", afirma Casemiro. A explicação é relativamente simples:
partindo do repouso, em temperaturas mais baixas, os músculos demoram
um tempo maior para atingir uma temperatura ideal para o exercício.
Portanto, aquecer e alongar é fundamental.
Mas não adianta tentar driblar o frio se encapotando todo(a). Mesmo
com a temperatura baixa o ideal é usar roupas leves, como uma calça
e uma blusa de moletom. "Durante o exercício, você sua e é necessário
deixar esse suor evaporar. Abafando o corpo com muita roupa, a pessoa
corre o risco de ter, no frio, problemas característicos de tempos
quentes", diz a professora Forjaz.
Blusas impermeáveis, como jaquetas de nylon, estão proibidas. Outra
atitude completamente equivocada é a de aproveitar o frio para enrolar
o corpo com material plástico para aumentar a perda de água e, teoricamente,
a perda de peso. "Tem gente que se enrola com filme plástico, por
baixo da blusa, e vai correr. Isso é um crime com o corpo. Quem faz
isso corre o risco de sofrer uma desidratação", explica Casemiro.
É também importante conter a vontade de, ao terminar o exercício,
arrancar a blusa e ficar desfilando desprotegido(a). "Isso pode causar
o que popularmente é chamado de 'choque térmico', e um resfriamento
acelerado do corpo não é bom. Você não precisa, por exemplo, correr
o tempo todo de blusa, pode tirar durante o exercício. Mas, ao parar,
coloque a blusa de novo, mantenha, pelo menos, o tórax bem protegido",
ensina Casemiro.
"Aumentar o tempo destinado ao aquecimento e buscar manter a mesma
frequência cardíaca no frio que se tem no calor são bons parâmetros
para se exercitar em temperaturas baixas sem grandes problemas", resume
Forjaz. De uma maneira geral, o conselho é sempre procurar um médico
e fazer a avaliação física para saber qual o melhor exercício a ser
feito, no frio ou no calor.
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