Transgênicos:
tema
é pauta do dia
ADRIANA
RESENDE
da Folha Online
Oportuno.
É o que se pode dizer do livro "Alimentos Transgênicos",
do jornalista Marcelo Leite, editor de Ciência da Folha
e colunista do site Pensata, da Folha Online. O livro,
que aborda um dos temas que provocam mais dúvidas e discussões
na atualidade, foi tema do debate realizado nesta terça (8/8),
no auditório do jornal (al. Barão de Limeira,
425, 9º andar).
Coincidentemente, ontem o TRF (Tribunal Regional Federal) de Brasília
negou à empresa Sementes Monsanto do Brasil o direito de
produzir em escala comercial a soja Round Up Ready, geneticamente
modificada.
O debate contou com as presenças, além do autor do
livro, de Leila Oda, presidente da CTNBio (Comissão Técnica
Nacional de Biossegurança), Paulo Arruda, professor da Unicamp
e coordenador do Projeto Genoma da Cana-de-Açúcar,
Paulo Affonso Leme Machado, presidente da Sociedade Brasileira de
Direito do Meio Ambiente, e Roberto Kishinami, diretor-executivo
da ONG (Organização Não-Governamental) Greenpeace
no Brasil.
A tônica da discussão foi a falta ou a incorreção
das informações divulgadas sobre os alimentos transgênicos.
Esse desencontro de opiniões levantou diversas questões.
A principal, que todos querem saber, mas nenhum dos debatedores
consegue afirmar com certeza, é simples e pode resumir tudo:
"afinal, transgênico é bom ou ruim?".
Segundo a presidente da CTNBio, não cabe ao órgão
responder a essa dúvida. Ela diz que, dos vários produtos
modificados, entre eles soja e milho, é preciso analisar
caso a caso os riscos à saúde humana ou ao ambiente.
Para isso, ela informa que a comissão disponibiliza na Internet
as atas das reuniões, os pareceres dos processos, para que
a sociedade se informe.
Paulo Leme Machado, no entanto, faz críticas à falta
de transparência no trabalho da CTNBio. "Esse sigilo
é inconstitucional. Será que se todos quisessem ir
até a reunião da comissão e ver o julgamento
dos processos vocês permitiriam? Mas as reuniões não
excluem os representantes das empresas de biotecnologia, como a
Embrapa."
Roberto Ishinami, do Greenpeace, concorda. "Os OGMs têm
que passar pela avaliação da legislação.
E isso não é algo para ser resolvido nas academias
de ciência: a sociedade precisa ver o que está sendo
feito."
Agrotóxicos
O aumento
ou a diminuição do uso de agrotóxicos nas lavouras
também foi debatido. Para Paulo Arruda, do Projeto Genoma
da Cana-de-Açúcar, o plantio de transgênicos
é natural e só tende a melhorar a produção,
sem aumentar o desmatamento, a área ocupada.
"Não tem jeito: ou você aumenta a área
plantada, ou aumenta a produção fazendo melhoramento
genético, que vai reduzir o uso de agrotóxicos."
Ele ainda exemplifica: "até nos tempos bíblicos,
procuravam-se as melhores vacas, as que davam mais leite".
Roberto Ishinami discorda. "A tese dos agrotóxicos nos
EUA foi aprovada a partir do argumento da equivalência substancial,
mas você pode estar introduzindo substâncias nocivas,
que as plantas originais não têm."
Para ele, o problema é desconhecer os riscos, principalmente
ao ambiente. "Há claros interesses comerciais envolvidos,
até dentro da própria comissão", diz.
Mas reconhece que, na medicina, o melhoramento genético é
benéfico. "Que seria dos diabéticos sem a insulina?",
cita como exemplo.
Curiosidade
da platéia
Curiosidades
do público, que lotou o auditório, de aproximadamente
cem lugares, também foram respondidas.
As perguntas foram variadas. A possibilidade de surgirem alergias
provocadas pelos transgênicos, cientificamente denominados
de OGMs (organismos geneticamente modificados), na opinião
de Marcelo Leite, é remota.
Como forma de diminuir a desnutrição ou de impedir
o fim de recursos naturais como a água, os transgênicos
não receberam apoio unânime dos debatedores. "Vamos
ter que achar variedades de planta que resistam à falta de
água, por exemplo. E utilizar alimentos transgênicos,
ricos em nutrientes, em regiões carentes", afirma.
A rotulagem desses produtos, para Paulo Affonso Leme Machado, da
Sociedade Brasileira de Direitos do Meio Ambiente, é essencial.
"a sociedade precisa poder optar. O governo federal não
pode tirar o direito de cada Estado de exigir o rótulo",
diz.
Os próximos livros da coleção Folha Explica
serão sobre a maconha, a ser publicado no final de agosto
ou início de setembro, e sobre o projeto Genoma Humano, que
deve sair em outubro.
Leia
também:
Desinformação
e interesses rondam os transgênicos
Leia
o que disse a coluna do jornalista Marcelo Leite no site Pensata
sobre transgênicos
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