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03/06/2002 - 16h05

Álcool e drogas são desculpa para não usar camisinha, diz pesquisa

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GUILHERME WERNECK
da Folha de S.Paulo

"Achava que não iria acontecer nada comigo. Era bem louca, bebia todas e transava sem proteção com meu namorado", lembra Luciana (nome fictício), 22. Quem, como Luciana, nunca "desencanou" alguma vez e deixou a camisinha de lado na hora da transa que atire a primeira pedra!

Sob o efeito de drogas ilícitas, como maconha e cocaína, ou lícitas, como cigarro e álcool, ou até mesmo "por amor", o fato é que é difícil encontrar alguém que não dê suas escorregadelas na hora de se proteger.

Agora, uma pesquisa realizada por professores do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo em uma escola pública de São Paulo confirmou com números as relações entre o uso de drogas lícitas e ilícitas e o comportamento sexual de risco.

Foram entrevistados 787 alunos do ensino médio com idades que variavam de 14 a 21 anos, sendo 58,3% deles de classe média e 19,8% de classe baixa. Esse perfil é semelhante ao encontrado quando se analisam as escolas públicas e particulares de São Paulo juntas, mas difere dos de outras regiões do Brasil.

De acordo com os pesquisadores, os resultados foram considerados "alarmantes". Do total de estudantes, 85,2% já haviam experimentado álcool, 49,2%, cigarros, e 53,1% já haviam tido contato com alguma droga ilícita. Entre estas, a mais usada é a maconha (46%) -que quase alcançou o cigarro. "Quando cruzamos os dados, vimos que praticamente 100% dos alunos já tinham entrado em contato com alguma droga, lícita ou ilícita", diz a pesquisadora Sandra Scivoletto.

Em relação ao comportamento sexual de risco, foram investigados o uso de camisinha, a idade da primeira relação sexual, as relações sexuais com profissionais do sexo e a prostituição.

Do total de alunos, 61% já mantiveram relações sexuais, e a média de idade da primeira transa foi de 15,4 anos. Entre os que já fizeram sexo, 59,9% relataram usar camisinha sempre.

Correndo perigo

A pesquisadora Vanise Santos, que participou do estudo, explica que quanto mais cedo o jovem tem a sua primeira transa, maior é a chance de ele apresentar um comportamento de risco. Esse é o caso de Júlia (nome fictício), 21, que transou pela primeira vez aos 14 anos. "Não me protegia e engravidei. Meu namorado era bem mais velho e também não se cuidava. Hoje não transo nunca sem camisinha."

Para Vanise, quem transa mais cedo também tem mais chances de enveredar para a prostituição ou de fazer sexo com profissionais. Na pesquisa, a prostituição, tanto de meninos quanto de meninas, foi relatada por 3,2% dos estudantes. Já o percentual de alunos que já mantiveram relações sexuais com profissionais chegou a 25,2%, sendo todos homens.

A pesquisa também mostra que os usuários de drogas ilícitas se arriscam mais. Eles tiveram sua iniciação sexual mais cedo do que os não-usuários (média de 15,2 anos contra média de 17,7 anos, respectivamente), 80,8% já tiveram relações sexuais completas (percentual bem maior que os 53,5% relatados pelos não-usuários) e apenas 56,8% disseram que usam camisinha -percentual que sobe para 65,3% entre os não-usuários.

Júlio (nome fictício), 19, por exemplo, diz que já vacilou em uma situação típica: "Saí com uma menina na balada. Estava chapado, não tinha camisinha, mandei ver. Fiquei encanado por uma semana, depois passou", conta.

Embora as drogas possam ter um efeito sobre o comportamento sexual dos adolescentes, elas não podem ser vistas como as únicas responsáveis pelos vacilos na hora H.

Segundo Vanise, o comportamento de risco tem múltiplas causas, que passam pela aceitação do grupo e pela questão da afetividade. "Para o adolescente, não usar preservativo é, às vezes, uma prova de amor, de confiança. O problema é que o relacionamento acaba durando só três meses e depois esse comportamento se repete."

Foi o que aconteceu com Ana (nome fictício), 17. Ela sempre transou sem camisinha com seu namorado. "Ficava 'encanada' em ficar grávida, mas fazia isso porque confiava no meu parceiro."

O amor também foi a desculpa para o stripper Pablo (nome fictício), 26, transar diversas vezes sem camisinha com o seu namorado, quando tinha 19 anos. "Achava que era amor para sempre e que valia a pena até arriscar a vida", diz.

Prevenção

A forma indicada para trabalhar com o problema do risco é a prevenção. Segundo o coordenador da pesquisa, Wagner Gattaz, após coletarem os dados, em 1997, os pesquisadores passaram dois anos na escola realizando um trabalho de capacitação dos professores para lidar com as questões da droga e do comportamento de risco na escola.

Após esse trabalho, foi feito um novo levantamento, que deverá ser publicado ainda neste ano. Gattaz não quis adiantar, mas disse que os resultados são animadores. "O consumo de álcool, tabaco e maconha caiu para um quarto, e o de cocaína, para um terço do apresentado." Vanise apontou que a escola registrava uma média de duas a três gravidezes por ano e, nos dois últimos anos, nenhuma garota engravidou.
 

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