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28/11/2002
-
08h25
da Folha de S.Paulo
Ele já esteve entre mães católicas que tiveram seus filhos assassinados por protestantes e vice-versa. Tentava dizer a essas mulheres da Irlanda do Norte que perdoar seria o melhor remédio para seu sofrimento. Algumas dessas experiências vividas pelo psicólogo americano Frederic Luskin, 48, estão relatadas no seu livro "O Poder do Perdão" (256 págs., R$ 38,50, W11 Editores, tel. 0/ xx/11/ 3812-3812), a ser lançado em dezembro no Brasil.
Luskin é diretor do Projeto Perdão, da Universidade de Stanford (EUA), e um dos principais divulgadores da importância do perdão para o bem-estar mental e físico das pessoas. Leia abaixo entrevista dada por e-mail ao Equilíbrio.
Folha - Qual o principal dano para quem resiste em perdoar, preferindo conviver com a raiva?
Frederic Luskin - O principal mal de não perdoar é ficar distante das coisas boas da vida. Quando focalizamos nossa atenção em quem nos feriu, ficamos sem condições de perceber quem nos ama. Isso traz implicações para a nossa saúde física e mental, já que prolongamos o período de sofrimento e ignoramos o bom tratamento que recebemos dos outros. É importante a pessoa perceber que não deve personificar demais o sofrimento, procurando entender que experiências dolorosas acontecem com todo mundo e que exagerar o sofrimento só vai prejudicá-la.
Folha - O sr. diz no seu livro que perdoar pode melhorar a saúde física e mental. Como?
Luskin - Perdoar nos dá sustentação. Não perdoar, ao contrário, faz com que nos sintamos desamparados, desprotegidos, o que desencadeia um estresse químico prejudicial ao organismo. Além disso, muitas vezes a pessoa se esquece de cuidar de si própria. Tudo porque fica com a mente ocupada por sentimentos ruins. Tudo o que está na nossa mente causa alguma reação na saúde física.
Folha - A raiva pode se tornar uma obsessão para a pessoa?
Luskin - A raiva é uma boa estratégia de curto prazo para lidar com eventos dolorosos. O problema é quando ela se torna uma estratégia que mantemos por um tempo longo com o objetivo de causar algum dano à pessoa que nos feriu. Além disso, não há como mudar absolutamente nada do passado se a raiva não for eliminada. Eu diria que muita gente faz do sentimento de raiva um hábito. Não diria uma obsessão, mas um hábito.
Folha - Que sinais podem indicar que a raiva ou a mágoa estão deixando de ser reações "normais" e se tornando perigosas para a saúde?
Luskin - A primeira coisa é perceber se muito tempo se passou desde que você foi magoado e se, apesar do longo tempo, você ainda continua pensando e falando no assunto. E mais: se quando você toca no assunto, sente-se estressado. Mas um dos principais indícios é fantasiar vinganças.
Folha - Perdoar não significa esquecer, conforme o senhor escreveu. Mas, se a lembrança da agressão permanece, como a pessoa pode perdoar?
Luskin - Na realidade, coisas dolorosas nunca saem da nossa memória. Seria no mínimo tolo acreditar ser possível esquecer que um filho foi assassinado ou que você foi sequestrado. Entretanto a pessoa pode lembrar-se do apoio que obteve no momento de dor e fazer com que esse apoio volte à mente, minimizando a lembrança dolorosa. A grande mudança é transformar-se de vítima em herói ao narrar o incidente. Uma vítima é cheia de culpa; um herói tenta fazer o melhor para sair das situações ruins.
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Ele já esteve entre mães católicas que tiveram seus filhos assassinados por protestantes e vice-versa. Tentava dizer a essas mulheres da Irlanda do Norte que perdoar seria o melhor remédio para seu sofrimento. Algumas dessas experiências vividas pelo psicólogo americano Frederic Luskin, 48, estão relatadas no seu livro "O Poder do Perdão" (256 págs., R$ 38,50, W11 Editores, tel. 0/ xx/11/ 3812-3812), a ser lançado em dezembro no Brasil.
Luskin é diretor do Projeto Perdão, da Universidade de Stanford (EUA), e um dos principais divulgadores da importância do perdão para o bem-estar mental e físico das pessoas. Leia abaixo entrevista dada por e-mail ao Equilíbrio.
Folha - Qual o principal dano para quem resiste em perdoar, preferindo conviver com a raiva?
Frederic Luskin - O principal mal de não perdoar é ficar distante das coisas boas da vida. Quando focalizamos nossa atenção em quem nos feriu, ficamos sem condições de perceber quem nos ama. Isso traz implicações para a nossa saúde física e mental, já que prolongamos o período de sofrimento e ignoramos o bom tratamento que recebemos dos outros. É importante a pessoa perceber que não deve personificar demais o sofrimento, procurando entender que experiências dolorosas acontecem com todo mundo e que exagerar o sofrimento só vai prejudicá-la.
Folha - O sr. diz no seu livro que perdoar pode melhorar a saúde física e mental. Como?
Luskin - Perdoar nos dá sustentação. Não perdoar, ao contrário, faz com que nos sintamos desamparados, desprotegidos, o que desencadeia um estresse químico prejudicial ao organismo. Além disso, muitas vezes a pessoa se esquece de cuidar de si própria. Tudo porque fica com a mente ocupada por sentimentos ruins. Tudo o que está na nossa mente causa alguma reação na saúde física.
Folha - A raiva pode se tornar uma obsessão para a pessoa?
Luskin - A raiva é uma boa estratégia de curto prazo para lidar com eventos dolorosos. O problema é quando ela se torna uma estratégia que mantemos por um tempo longo com o objetivo de causar algum dano à pessoa que nos feriu. Além disso, não há como mudar absolutamente nada do passado se a raiva não for eliminada. Eu diria que muita gente faz do sentimento de raiva um hábito. Não diria uma obsessão, mas um hábito.
Folha - Que sinais podem indicar que a raiva ou a mágoa estão deixando de ser reações "normais" e se tornando perigosas para a saúde?
Luskin - A primeira coisa é perceber se muito tempo se passou desde que você foi magoado e se, apesar do longo tempo, você ainda continua pensando e falando no assunto. E mais: se quando você toca no assunto, sente-se estressado. Mas um dos principais indícios é fantasiar vinganças.
Folha - Perdoar não significa esquecer, conforme o senhor escreveu. Mas, se a lembrança da agressão permanece, como a pessoa pode perdoar?
Luskin - Na realidade, coisas dolorosas nunca saem da nossa memória. Seria no mínimo tolo acreditar ser possível esquecer que um filho foi assassinado ou que você foi sequestrado. Entretanto a pessoa pode lembrar-se do apoio que obteve no momento de dor e fazer com que esse apoio volte à mente, minimizando a lembrança dolorosa. A grande mudança é transformar-se de vítima em herói ao narrar o incidente. Uma vítima é cheia de culpa; um herói tenta fazer o melhor para sair das situações ruins.
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