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05/12/2002
-
02h55
ANTONIO ARRUDA
da Folha de S. Paulo
Em época de crise econômica, com demissões pipocando em todas as áreas -são 11,4 milhões de brasileiros desempregados, segundo o IBGE-, as empresas modernas têm buscado novas formas de aplicar a chamada demissão humanizada, em que ela sai ganhando e o funcionário, perdendo menos.
O desemprego, além de atingir as finanças do sujeito, afetar sua auto-estima, sua segurança e às vezes até abalar a estrutura familiar, "leva a pessoa a interromper seu processo de aprendizado contínuo, já que, hoje em dia, é na empresa onde o cidadão mais tem oportunidade de aprimorar seu conhecimento", diz Marcelo Corrêa, presidente da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento.
Já a empresa, ao demitir, está perdendo seu principal capital, que é o "acervo intelectual" dos funcionários, diz Corrêa. Nesse sentido, segundo especialistas em gestão do conhecimento, quanto mais a empresa tentar manter algum tipo de vínculo com o demitido, melhor. Manter o ex-funcionário como um prestador de serviço é uma das formas.
Outra iniciativa louvável é a empresa que demite contatar fornecedores e parceiros de negócios para conseguir que incorporem seus ex-funcionários, diz Amyra Moyses Sarsur, professora de comportamento organizacional da Fundação Dom Cabral. O que também tem sido feito, mas ainda de forma tímida, é o empregador reunir demitidos com interesses comuns para que eles montem uma cooperativa e abram um novo negócio.
"Há empresas agindo dessa forma, intermediando contatos com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para viabilizar novos negócios aos demitidos", explica Sarsur.
Kit benefícios
Por enquanto os benefícios mais comuns ao demitido são a prorrogação da assistência médica, uma bonificação em dinheiro, o direito de utilização do carro da empresa (se ele já o utilizava) e um auxílio para o pagamento do aluguel.
"Essas ações preservam a imagem da empresa internamente, perante os funcionários que ficam, e externamente, perante fornecedores e consumidores, por exemplo", diz Marcelo Mariaca, diretor da consultoria Mariaca & Associates. Mas o que mais contribui para a imagem da empresa são os projetos de recolocação profissional - o chamado outplacement.
Por meio deles, depois de demitido, o funcionário recebe orientação exclusiva de um consultor, participa de palestras, cursos e workshops, é encaminhado para entrevistas de trabalho e recebe até apoio psicológico. "Com esse apoio, a pessoa tem mais condições de retornar ao mercado, tanto por estar mais preparada e atualizada quanto porque sua auto-estima volta a existir", diz José Augusto Minarelli, da empresa de consultoria Lens & Minarelli.
E o melhor: antes restrito a cargos executivos, o outplacement também é oferecido atualmente a operários.
Demissão com método
O processo de outplacement começa muito antes de o funcionário ser informado do seu desligamento da empresa. Feito pelo departamento de recursos humanos, muitas vezes em conjunto com uma consultoria especializada, planeja-se todo o processo de demissão.
A primeira preocupação é definir quem fica e quem sai da empresa de forma discreta, sem deixar vazar informação. Boataria de demissão é prática ultrapassada. "Se começar aquela história de "ouvi dizer que", a motivação dos funcionários cai, e muitos começam a procurar outro emprego", explica a vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Açucena Calixto Bonanato.
Ao anunciar o desligamento, a empresa deve transmitir os motivos com clareza, sem esconder informações. Às vezes, esse anúncio é feito muito antes do Dia D. A Parmalat, por exemplo, quando desativou uma unidade no final de 2001, comunicou a demissão dos funcionários oito meses antes. "Durante esse período, realizamos palestras e cursos diversos, com o objetivo de preparar os profissionais para o mercado", diz Djalma Gonçalves Barbosa, gerente de desenvolvimento organizacional e humano da empresa.
Na Natura, devido à mudança de localidade de uma fábrica, realizada no final de 2000, aproximadamente 80 funcionários foram demitidos. Eles participaram do programa de recolocação por seis meses, sendo que 35% deles conseguiram um novo emprego, e 15% abriram um negócio próprio, conta Cristina Rodrigues Liberado, gerente de RH.
Já na Danone do Brasil, a desativação de uma fábrica, no início deste ano, fez cerca de 300 pessoas perderem o emprego. Elas fizeram cursos de microinformática, gestão de negócios e português. "Essa filosofia já faz parte do grupo Danone em diversos locais do mundo. Que bom que agora no Brasil estamos tratando de forma mais digna e justa a questão do desemprego!", diz Sandra Rietjens, gerente de assuntos corporativos da empresa.
"As empresas modernas despertaram para a importância de tratar de forma mais humana, transparente e digna os demitidos", diz Hélio Terra, diretor-superintendente da consultoria Manager.
Mas o ideal, segundo Marcelo Corrêa, seria, caso a legislação brasileira permitisse, seguir o exemplo de países como Noruega, Finlândia e Inglaterra, onde, para evitar demissão, as empresas mantêm 25% da população economicamente ativa trabalhando em tempo reduzido, às vezes metade da jornada de trabalho.
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da Folha de S. Paulo
Em época de crise econômica, com demissões pipocando em todas as áreas -são 11,4 milhões de brasileiros desempregados, segundo o IBGE-, as empresas modernas têm buscado novas formas de aplicar a chamada demissão humanizada, em que ela sai ganhando e o funcionário, perdendo menos.
O desemprego, além de atingir as finanças do sujeito, afetar sua auto-estima, sua segurança e às vezes até abalar a estrutura familiar, "leva a pessoa a interromper seu processo de aprendizado contínuo, já que, hoje em dia, é na empresa onde o cidadão mais tem oportunidade de aprimorar seu conhecimento", diz Marcelo Corrêa, presidente da Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento.
Já a empresa, ao demitir, está perdendo seu principal capital, que é o "acervo intelectual" dos funcionários, diz Corrêa. Nesse sentido, segundo especialistas em gestão do conhecimento, quanto mais a empresa tentar manter algum tipo de vínculo com o demitido, melhor. Manter o ex-funcionário como um prestador de serviço é uma das formas.
Outra iniciativa louvável é a empresa que demite contatar fornecedores e parceiros de negócios para conseguir que incorporem seus ex-funcionários, diz Amyra Moyses Sarsur, professora de comportamento organizacional da Fundação Dom Cabral. O que também tem sido feito, mas ainda de forma tímida, é o empregador reunir demitidos com interesses comuns para que eles montem uma cooperativa e abram um novo negócio.
"Há empresas agindo dessa forma, intermediando contatos com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) para viabilizar novos negócios aos demitidos", explica Sarsur.
Kit benefícios
Por enquanto os benefícios mais comuns ao demitido são a prorrogação da assistência médica, uma bonificação em dinheiro, o direito de utilização do carro da empresa (se ele já o utilizava) e um auxílio para o pagamento do aluguel.
"Essas ações preservam a imagem da empresa internamente, perante os funcionários que ficam, e externamente, perante fornecedores e consumidores, por exemplo", diz Marcelo Mariaca, diretor da consultoria Mariaca & Associates. Mas o que mais contribui para a imagem da empresa são os projetos de recolocação profissional - o chamado outplacement.
Por meio deles, depois de demitido, o funcionário recebe orientação exclusiva de um consultor, participa de palestras, cursos e workshops, é encaminhado para entrevistas de trabalho e recebe até apoio psicológico. "Com esse apoio, a pessoa tem mais condições de retornar ao mercado, tanto por estar mais preparada e atualizada quanto porque sua auto-estima volta a existir", diz José Augusto Minarelli, da empresa de consultoria Lens & Minarelli.
E o melhor: antes restrito a cargos executivos, o outplacement também é oferecido atualmente a operários.
Demissão com método
O processo de outplacement começa muito antes de o funcionário ser informado do seu desligamento da empresa. Feito pelo departamento de recursos humanos, muitas vezes em conjunto com uma consultoria especializada, planeja-se todo o processo de demissão.
A primeira preocupação é definir quem fica e quem sai da empresa de forma discreta, sem deixar vazar informação. Boataria de demissão é prática ultrapassada. "Se começar aquela história de "ouvi dizer que", a motivação dos funcionários cai, e muitos começam a procurar outro emprego", explica a vice-presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos, Açucena Calixto Bonanato.
Ao anunciar o desligamento, a empresa deve transmitir os motivos com clareza, sem esconder informações. Às vezes, esse anúncio é feito muito antes do Dia D. A Parmalat, por exemplo, quando desativou uma unidade no final de 2001, comunicou a demissão dos funcionários oito meses antes. "Durante esse período, realizamos palestras e cursos diversos, com o objetivo de preparar os profissionais para o mercado", diz Djalma Gonçalves Barbosa, gerente de desenvolvimento organizacional e humano da empresa.
Na Natura, devido à mudança de localidade de uma fábrica, realizada no final de 2000, aproximadamente 80 funcionários foram demitidos. Eles participaram do programa de recolocação por seis meses, sendo que 35% deles conseguiram um novo emprego, e 15% abriram um negócio próprio, conta Cristina Rodrigues Liberado, gerente de RH.
Já na Danone do Brasil, a desativação de uma fábrica, no início deste ano, fez cerca de 300 pessoas perderem o emprego. Elas fizeram cursos de microinformática, gestão de negócios e português. "Essa filosofia já faz parte do grupo Danone em diversos locais do mundo. Que bom que agora no Brasil estamos tratando de forma mais digna e justa a questão do desemprego!", diz Sandra Rietjens, gerente de assuntos corporativos da empresa.
"As empresas modernas despertaram para a importância de tratar de forma mais humana, transparente e digna os demitidos", diz Hélio Terra, diretor-superintendente da consultoria Manager.
Mas o ideal, segundo Marcelo Corrêa, seria, caso a legislação brasileira permitisse, seguir o exemplo de países como Noruega, Finlândia e Inglaterra, onde, para evitar demissão, as empresas mantêm 25% da população economicamente ativa trabalhando em tempo reduzido, às vezes metade da jornada de trabalho.
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