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19/12/2002 - 08h22

Cresce interesse por congelamento pós-morte

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SIMONE IWASSO
free-lance para a Folha

Manter o corpo congelado após a morte na esperança de um dia voltar a viver é uma prática que tem ganhado novos adeptos pelo mundo. Atualmente, há mais de cem corpos congelados e cerca de 600 clientes filiados em duas das principais clínicas especializadas dos Estados Unidos, as quais têm, nos últimos meses, registrado aumento da procura.

O interesse pela criogenia, o estudo dos sistemas em baixas temperaturas, foi despertado após a morte de Ted Williams, um dos dos mais importantes jogadores de beisebol da história, em julho deste ano, que teve seu corpo enviado pelo filho a uma clínica de congelamento.
Na Inglaterra, a revista britânica de divulgação de ciência e tecnologia "New Scientist" lançou um concurso em seu site, em setembro passado, que dava como prêmio um "vale-criogenia".

No Brasil, o médico dermatologista Valcenir Bedin, 47, é um dos grandes entusiastas da idéia. É cliente da Alcor, a maior empresa de congelamento de corpos dos EUA, e pretende também montar um laboratório de pesquisa sobre criogenia em parceria com a Universidade Bandeirantes de São Paulo. "Temos um projeto de fazer um convênio com a Alcor e trazer para o país a tecnologia usada lá", diz Bedin.

Apesar de os conhecimentos da ciência não garantirem a possibilidade de um corpo congelado voltar à vida, Bedin acredita que o desenvolvimento da tecnologia permitirá, no futuro, reanimar os corpos. "Daqui a 200 ou 300 anos, a ciência provavelmente poderá recuperar tecidos congelados", afirma.

Quanto aos dilemas religiosos e filosóficos que a prática pode suscitar, o médico diz: "Como não tenho nenhuma crença religiosa, se eu não for congelado quando morrer, não terei continuidade".

Membro do Instituto de Criogenia de Michigan e coordenadora do grupo de discussão do instituto na Europa, a inglesa Chrissie de Rivaz, 62, deposita suas esperanças no futuro da ciência. "Não gosto da idéia de ser cremada ou enterrada. Para mim, o congelamento é uma tentativa de prolongar a vida, mesmo que em outra época", afirmou ela por e-mail à Folha.

Preço do "freezer"
Para quem acha que os custos de um enterro são altos, veja o preço da aposta no congelamento. A empresa Alcor, por exemplo, cobra US$ 120 mil para congelar um corpo e mantê-lo assim durante, pelo menos, 200 anos. E oferece também a opção de congelar apenas a cabeça. Nesse caso, o serviço é mais em conta: US$ 50 mil. Agora, se o cliente é estrangeiro, há o custo adicional de transporte do corpo até a clínica, localizada em Scottsdale, no Estado do Arizona, nos EUA, o que sai outros US$ 20 mil.

No quesito forma de pagamento, a pessoa pode escolher entre o cheque à vista, a prazo ou então fazer um seguro de vida colocando a clínica de congelamento como beneficiária. De acordo com a Alcor, essa é a forma de seguro escolhida pela maioria. Além de ser mais viável financeiramente, evita disputas familiares no caso de o cliente morrer antes da quitação de todas as parcelas. Mais um detalhe: assim que se cadastram no serviço, os membros ganham um bracelete e um colar com o número de identificação e instruções para encaminhamento do corpo.

Como se dá o congelamento
O processo de criogenia se inicia com a decretação da morte legal da pessoa. Logo em seguida, o corpo passa por uma preparação para garantir que possa ser congelado em boas condições -mesmo nos casos em que a pessoa morre em locais distantes da clínica de congelamento.

Já na clínica, o sangue é extraído do corpo e substituído por líquidos conservantes e anticongelantes. Em seguida, o cadáver é mergulhado, de cabeça para baixo, em um tanque com 200 litros de gás nitrogênio, a -196C.

Desse modo, os defensores da prática acreditam manter o corpo sem danos aos tecidos até o dia em que a ciência descobrir como reanimá-los.
A idéia da criogenia tem origem nas décadas de 30 e 40, época em que foram feitos os primeiros experimentos com congelamento de tecidos, mas ganhou impulso em 1964, com a publicação do livro "A Perspectiva da Imortalidade", escrito pelo físico Robert C. Ettinger, criador do Instituto de Criogenia de Michigan, nos Estados Unidos.
 

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