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09/01/2003 - 08h13

Atrasados emperram sua rotina e a dos outros

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ANGÉLICA KENES NICOLETTI
free-lance para a Folha

Quando o assunto é dar chá de cadeira, eles são mestres. Parecem eternamente afobados, lutando contra o relógio, e geralmente têm uma desculpa na ponta da língua. São os atrasados crônicos, que interrompem reuniões e aulas, deixam clientes esperando e são sempre os últimos a chegar à festa ou a buscar os filhos na escola. E, mesmo em uma cultura que não é tão rígida com horários como a brasileira, ser impontual é um problema que gera prejuízo tanto aos que esperam como aos que atrasam.

Os horários sistematizam a vida em função dos compromissos, explica a professora Maria Dolores Cunha Toloi, coordenadora-geral do Departamento de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientae (SP). "Quando atrasamos, perturbamos o ambiente, além de perdermos a oportunidade de darmos a nossa contribuição."

E não adianta sempre culpar o trânsito. Os problemas das metrópoles justificam atrasos eventuais, mas não todos. "O tempo é relativo só para Einstein, para nós ele é concreto, portanto o atraso faz parte da vida dos que vivem em grandes centros", diz o psicólogo Alfeu Marcatto. Mas a impontualidade sinaliza perda de qualidade de vida: a pessoa não está conseguindo dar conta de tudo o que se propõe a fazer. Nesse caso, a alternativa é reduzir os compromissos.

Cláudia de Freitas, cujo dia começa às 6h30 e nunca termina antes da 1h, pensa em outra solução para pôr um fim aos seus "históricos minutos de atraso". "É só priorizar as necessidades", diz ela, que é professora de literatura e proprietária de uma confecção e possui uma agenda lotada de compromissos sociais. Há, porém, outro fator que a impede de ser pontual. "Detestaria parecer metódica, daquelas que sempre chegam e saem primeiro; além disso, sou muito ansiosa para ficar esperando os outros."

Ao contrário da professora, o empresário Célio Ribeiro, que se classifica como "um incorrigível atrasado", diz que gostaria de ser "certinho". "Mas desde sempre fui de deixar os outros esperando", conta ele, que se diverte com as desculpas que dá. Ele é tão convincente que muitas vezes consegue fazer com que a pessoa com quem tinha de se encontrar acredite ter se confundido com o horário.

"Pessoas que têm rapidez de raciocínio e domínio sobre o que fazem às vezes têm noção de que o atraso é apenas um detalhe e que vão desempenhar seus papéis tão bem quanto os pontuais", diz Ana Bahia Bock, presidente do Conselho Regional de Psicologia (SP), que também afirma ser uma "pessoa pontualmente atrasada". "Sempre começo minhas aulas com 15 minutos de atraso. No começo, os alunos estranham, mas logo percebem que são compensados com uma aula de qualidade e que é isso que importa."

O atraso pode até revelar uma atitude defensiva. "Se a pessoa quer evitar uma situação que, de antemão, ela sabe que será desagradável, então o atraso passa a ser uma medida protetora", afirma a psicanalista Ana Rosa Sancoviski, diretora da área de ensino da Divisão de Psicologia do Hospital das Clínicas (SP). Segundo Marcatto, é muito comum funcionários chegarem atrasados ao trabalho quando estão insatisfeitos com o que fazem.

O ritmo biológico, de acordo com Marcatto, é outra explicação para os atrasos. "Está comprovado cientificamente que cada pessoa tem um horário de melhor desempenho, e, sem dúvida, é mais difícil para os notívagos cumprirem compromissos nas primeiras horas do dia", explica ele.

É o caso do decorador Marcelo Vieira, que separa previamente a roupa que usará no dia seguinte para se atrasar menos. Vieira programa dois despertadores para não perder a hora. "Mesmo assim não dá. Prefiro ficar mais tempo na cama e depois sair desesperado; já estou habituado a ser o último da fila."

Leia mais:

  • Impontualidade exige explicação

  • Cultura não é justificativa para atrasos


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