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23/01/2003 - 07h30

Terapia com água mineral auxilia tratamento médico

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ANTONIO ARRUDA
da Folha de S. Paulo

A estudante de hotelaria Ana Paula de Paiva Lopes, 27, não tinha passado pela pia batismal quando sua mãe a banhou nas águas minerais de Águas de Lindóia, estância hidromineral paulista localizada a 170 km da capital. Ela passou os três primeiros meses de vida recebendo os benefícios da crenoterapia.

Essa terapia faz parte do chamado termalismo, que estuda todas as maneiras de utilizar a água como recurso terapêutico. A crenoterapia consiste no uso de águas minerais com propriedades consideradas medicamentosas e que podem ser utilizadas para complementar o tratamento de vários problemas de saúde.

Lopes mora há cinco anos no exterior mas, sempre que pode, volta ao Brasil para buscar o "equilíbrio" nas águas que brotam nas diversas estâncias hidrominerais do país. "Nos lugares onde morei não há nada parecido. Venho aqui e revigoro minha saúde", diz ela, que acaba de passar uma semana em Águas de São Pedro (190 km a noroeste de São Paulo).

Como ela, milhares de pessoas procuram inalar o vapor, beber a água ou mergulhar em uma das centenas de fontes do país. E se engana quem pensa que só é possível imergir nesse universo terapêutico em alguns poucos locais especiais. Existem fontes de água mineral nas cinco regiões brasileiras, principalmente no Sudeste e no Sul.

Mas, apesar de reumatologistas, fisioterapeutas e geriatras, entre outro profissionais da área médica, estarem envolvidos com a crenoterapia e apesar de as pessoas relatarem melhoras significativas (principalmente com relação a problemas reumáticos, dermatológicos, respiratórios e ortopédicos), faltam estudos que comprovem os benefícios da crenoterapia. Por isso ela ainda é vista com ceticismo pela comunidade científica.

Haja calor

Em Presidente Epitáfio, no interior de São Paulo (655 km a oeste da capital), a temperatura da água chega a 76ºC, segundo a engenheira química Sonja Dumas, do Departamento Nacional de Produção Mineral, vinculado ao Ministério de Minas e Energia. Esse tipo de fonte é chamado de hipertermal (sua temperatura excede os 36,5ºC). Há ainda as fontes mesotermais (de 33ºC a 36ºC) e as hipotermais (até cerca de 27ºC).

De acordo com Emília Sato, reumatologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), águas quentes são ótimas para quem tem lombalgia, contraturas musculares e inflamações articulares. "Mas não há estudos que comprovem que os elementos minerais dessas águas atuem no organismo das pessoas."

"Com o avanço dos remédios, a crenoterapia caiu em descrédito. Contudo, observamos o quanto os pacientes são beneficiados com seu uso", diz a fisioterapeuta Terêsa Cristina Alvisi. Ela é professora de termalismo no curso de fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Poços de Caldas, em Minas Gerais, e coordena projetos que visam comprovar cientificamente a eficácia da crenoterapia.

No ano passado, as cerca de 3.500 pessoas que foram atendidas na clínica de fisioterapia da PUC de Poços fizeram tratamentos baseados exclusivamente em banhos com águas minerais dos balneários da região. Segundo Alvisi, todos esses pacientes afirmaram que os banhos surtiram o efeito desejado.

Em outro trabalho, 12 pessoas (mulheres e homens hipertensos com mais de 50 anos) foram divididas em dois grupos. O primeiro fez banhos de imersão em água sulfurosa por dez dias; o segundo foi tratado apenas com os medicamentos tradicionais. Os que tomaram os banhos mantiveram a pressão arterial estável; os que não tomaram tiveram picos de hipertensão, segundo Alvisi.

A fisioterapeuta selecionou outros 80 hipertensos para participar de uma pesquisa que será iniciada no próximo mês. Alvisi também acompanhou a evolução de 18 pacientes com artrite reumatóide que, graças à crenoterapia, "passaram a apresentar crises menos frequentes".

Mas não só médicos que estudam a crenoterapia indicam-na a seus pacientes. Segundo a fisioterapeuta Hérica Rodrigues, chefe do balneário do Grande Hotel São Pedro, 10% dos visitantes vão para lá com prescrição médica.

Nivaldo Antonio Parizotto, fisioterapeuta e professor de hidrologia (disciplina que engloba a crenoterapia) da Universidade Federal de São Carlos (UfsCar), diz que, na Itália, há empresas que custeiam a ida dos funcionários a estâncias hidrominerais uma vez por ano. Em Cuba, de acordo com o reumatologista Marcos Untura Filho, do Instituto de Medicina Termal, em Poços de Caldas, sprays de água radioativa são distribuídos gratuitamente a pessoas asmáticas.

"Com o potencial hidromineral que o Brasil possui, poderíamos estar muito mais avançados nos estudos da crenoterapia", diz Parizotto. Nesse sentido, Peruíbe, no litoral Sul de São Paulo, parece estar dando passos significativos, ao pesquisar as propriedades crenológicas da lama negra.

Melhora evidente

Controvérsias e carência de estudos à parte, quem se vale da crenoterapia só faz elogios às águas minerais. A gerente de marketing Cristina Passos, 44, desde 93 frequenta com a família um balneário em Santa Catarina. "Tenho as unhas quebradiças; quando vou para lá, elas ficam muito fortes. E meu intestino funciona que é uma beleza!", diz. Seu marido, o empresário Marcos Passos, 46, conta que uma vez torceu o tornozelo e recuperou-se em dois dias com a ajuda dos banhos.

A gerente financeira Sandra Vetroni, 46, vai a uma estância em Goiás desde 92. "Já fechei pacotes para os próximos três anos", conta ela, para quem as duchas "fazem um bem enorme ao nervo ciático". Sua filha, Juliana Ribeiro Vetroni, 21, tinha 11 anos quando a família começou a ir para lá. Quando seus amigos brincam, dizendo que o lugar "só tem velhos", ela responde prontamente: "Vocês estão enganados, há muitos jovens também". Ela diz que seu cabelo fica mais bonito e sua pele, mais macia. "Aproveito também para pegar um bronzeado", conta ela, que, no final da tarde, gosta de sentar na piscina mais quente da estância e beber uma taça de vinho.

Leia mais:

  • Água mineral brota de locais profundos

  • Conheça alguns tipos de água mineral

  • Peruíbe oferece lama negra para a população


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