Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
22/06/2003 - 03h45

"Corpo não deve ser ignorado", afirma psicóloga

Publicidade

AURELIANO BIANCARELLI
da Folha de S.Paulo

É proibido estar fora dos padrões "corpóreos". Quem se arriscar, ou não conseguir se enquadrar, será insatisfeito e culpado. Na cultura dos dias atuais, não se pode mais ignorar o corpo. Mas enquanto se cultua o corpo modelado por exercícios ou bisturis, o corpo doente, deprimido ou envelhecido acaba ignorado.

Questões como essas foram debatidas por cerca de 800 profissionais que participaram do 2º Congresso Interamericano de Psicologia da Saúde, encerrado ontem no Centro de Convenções Rebouças, de São Paulo. O tema deste ano, tratado ao longo de três dias, foi "corpo e (in)satisfação".

"A subjetividade não existe desligada do corpo", diz a psicoterapeuta Julieta Quayle, diretora da área de pesquisa da divisão de psicologia do Instituto Central do Hospital das Clínicas e presidente do congresso. Em outras palavras, mesmo quando se trata da saúde mental, o corpo sempre deve ser o ponto de partida.

A equipe da divisão de psicologia hospitalar do HC, dirigida por Mara Cristina Souza de Lucia, trabalha com pacientes que se preparam para ver seus corpos cortados ou amputados.

Entre os participantes, muitos eram terapeutas que trabalham em hospitais, embora houvesse cirurgiões, assistentes sociais e até economistas, pois a psicologia da saúde se estende para os diversos campos onde o bem-estar mental interage com o fisiológico. Cabe ao profissional de saúde --especialmente ao terapeuta- refletir tanto sobre o corpo adoecido quanto sobre o da academia.

No cotidiano da cidade, há o corpo anoréxico, o corpo do obeso mórbido, o violado, o corpo das cirurgias plásticas. "Há o corpo que atende aos mandos e desmandos da cultura", diz Quayle.

Abaixo, trechos da entrevista que concedeu à Folha:

Folha - O corpo hoje é muito mais exposto, na praia, nas mídias, nas academias. Aqueles que não se sentem bem com seu corpo acabam sofrendo mais?

Julieta Quayle
- Historicamente, o corpo tendia a ser escondido. Só era valorizado quando adoecia, ou em situações especiais. Hoje o corpo é exposto, mostrado, deixou de ser tabu. É supermodelado, supervalorizado, ganhou uma valorização muito especial na mídia. Nesse cenário, os que não são jovens, não são bonitos, podem se sentir marginalizados, poderão sofrer mais.

Para alguns, esse fato pode levar a um intenso sofrimento. Hoje, uma adolescente que se sente gorda vive um período muito sofrido, porque a obesidade não é o modelo.

Folha - As pessoas acabam cobrando delas próprias uma proximidade com o padrão ideal?

Quayle
- Hoje, é como se fosse pecado ser feio, ou não estar no peso, ou estar deprimido, ou envelhecido. Há uma cultura que diz que você precisa ser feliz, estar ativo, fazer sucesso. Sempre houve feios e bonitos, e é possível que a beleza lhes desse mais poder ou melhor auto-estima. Quem não está dentro do padrão tende a ser insatisfeito, a se sentir culpado, porque deveria ter feito mais para estar melhor e não fez.

Folha - É como se tudo dependesse da vontade da pessoa e tudo se resolvesse com essa vontade.

Quayle
- Vivemos numa sociedade onde se acredita que basta querer para poder. Querer é importante, mas nem sempre é possível conseguir o que se quer. Mas esse não conseguir acaba sendo visto como imperdoável.
 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página