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13/07/2003 - 05h17

Hormônio ajuda a explicar depressão

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FABIANE LEITE
da Folha de S.Paulo

Beirando a menopausa, a instrutora de internet Claudete Cruz, 48, fez as contas. Vivia bem durante 200 dias por ano. Nos outros, desde a adolescência, era "chata, manhosa, infeliz". Nas fases pré-menstruais, vivia triste, ansiosa, com medo. "Mais coragem. Controle-se", diziam parentes. "A vida é assim mesmo".

Dos ginecologistas vieram mais chavões. "Arranje um relacionamento", disse um dos últimos que visitou. Há quatro anos, a depressão se estabeleceu. Pensou em suicídio. Depois de buscar um psiquiatra e medicada com antidepressivos, a vida é outra.

Os mais de 30 anos que Claudete demorou para entender o que se passava poderiam ser encurtados se algum ginecologista tivesse feito a avaliação correta e a encaminhado para avaliação psicológica ou psiquiátrica.

Médico primário da mulher, ele pode separar o que é tristeza passageira de alterações de humor decorrentes do ciclo reprodutivo --e até detectar os sinais de depressão grave, para encaminhar o caso ao psiquiatra, como explica o presidente da Federação das Sociedades Brasileiras de Ginecologia e Obstetrícia, Edmund Baracat.

"Uma coisa bem prática a ser dita: não é uma "impressão". Existe realmente essa associação entre oscilações hormonais, ansiedade e depressão. E há maneiras de juntos, psiquiatras e ginecologistas, controlarem isso. Com intervenções hormonais ou não hormonais", afirma o diretor de pesquisa clínica do Centro de Saúde Mental da Mulher da Harvard Medical School (EUA), Cláudio N. Soares.

A "interface" entre ginecologia e psiquiatria está bem estabelecida. Da menarca (primeira menstruação) à menopausa, três momentos de oscilação hormonal são associados à depressão e ansiedade: o período pré-menstrual, o pós-parto, e a transição para a menopausa, a perimenopausa --quando começam as irregularidades do ciclo menstrual.

A prevalência de depressão é muito maior em mulheres do que em homens. A proporção é de dois para um. A de distúrbios ansiosos é de quatro para um.

"O que foi observado é que tudo isso é mais frequente durante o período reprodutivo", explica Joel Rennó Júnior, coordenador do Projeto de Atenção à Saúde Mental da Mulher do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Os estudos desenvolvidos a partir da constatação epidemiológica não têm mais do que cinco anos. A tese é de que não são os hormônios em si os "culpados", mas o fato de algumas mulheres terem sua "química" cerebral mais vulnerável às oscilações hormonais. As flutuações do estrógeno e progesterona teriam um efeito negativo sobre as células cerebrais, afetando as atividades do órgão.
 

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