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13/05/2004 - 05h52

Leve a televisão para longe dos quartos, recomendam psicólogos

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ANA PAULA DE OLIVEIRA
da Folha de S.Paulo

Retorne a televisão ao seu lugar de origem: a sala. Essa é a orientação de psicólogos, neurologistas e terapeutas sexuais entrevistados. Nos primórdios da telinha, havia um aparelho para toda a família. Hoje, manter uma TV em cada aposento é parte do processo de individualização pelo qual o mundo está passando --cada um tem sua televisão, seu celular, seu computador.

E a velha piada de que televisão é excelente método contraceptivo ainda é atual. No quarto, a telinha brilhante e barulhenta rouba a cena, e a (o) parceira (parceiro) fica esquecida (esquecido) no travesseiro ao lado. Queixas sobre o potencial de "broxar" da TV são tão freqüentes que, quando um casal procura um terapeuta sexual, a primeira orientação que recebe é: devolva o aparelho para a sala.

Aqueles que insistem em manter o aparelho no quarto, o conselho é desligá-lo na "hora H". "Com a televisão ligada, a audição e a visão ficam comprometidas", explica Mara Barasch, supervisora do curso de terapia sexual da Sbrash (Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana). Se não há entrega sensorial, o ato sexual não chega a ser totalmente satisfatório.

A vida sexual não é a única prejudicada pela televisão. O hábito de assisti-la no quarto pode empobrecer os relacionamentos e causar problemas de saúde.

Entre as décadas de 50 e 70, a TV era um símbolo de status, orgulhosamente exibido no principal ambiente da residência. Os moradores se reuniam e podiam interagir enquanto viam a programação. Com preços mais acessíveis, a televisão se transformou em um objeto funcional de decoração e entretenimento, diz o arquiteto Marcelo Tramontano, coordenador do Nomads (Núcleo de Estudos sobre Habitação e Modos de Vida), da Faculdade de Arquitetura da USP. Segundo dados do Ibope, 54% dos paulistas possuíam TV no quarto em 2002. "Antes, era apenas um telefone ou um computador voltados para a família nuclear. Hoje, cada membro possui a sua própria TV", diz Tramontano.

"Principalmente nas camadas mais altas da população, existe a individualização de tudo o que se usa, como celular, automóvel, banheiro. Cada um tem o seu", afirma Ana Mercês Bahia Bock, presidente do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. Ter um aparelho no quarto pode ser cômodo, porque cada um assiste ao que quer e quando quer, reconhece a psicóloga, mas, mesmo assim, ela acredita que a televisão seja, obrigatoriamente, um aparelho coletivo.

Tentação infantil

Em quarto de criança, a televisão é uma "tentação desnecessária", diz Rosely Sayão, psicóloga e colunista da Folha de S.Paulo. "A criança pode ver o que quiser, e os pais podem nem ficar sabendo." Isso foi comprovado por uma pesquisa publicada recentemente na revista da Academia Americana de Pediatria, que concluiu que muitos pais não sabem que programas seus filhos costumam ver nem quanto tempo passam diante da telinha.

Esse problema poderia ser evitado se ver TV fosse um hábito coletivo. "É preciso educar a criança a assistir à televisão, comentando a importância de tal programa ou discutindo tal desenho, assim ela sai da passividade e passa a ser crítica em relação ao que vê", diz Bock.

A passividade pode afetar também os idosos que, sozinhos em seus quartos, passam grande parte do tempo assistindo à televisão. "A TV isola o idoso do convívio com a família. Passa a impressão de que ele está fazendo algo de útil, mas, na verdade, não está, pois fica passivo", diz a psicóloga especialista em maturidade Maria Celia de Abreu. Esse isolamento pode até encobrir um distúrbio psicológico: não se sabe se o idoso não sai do quarto porque está mesmo interessado na programação ou porque está deprimido, diz Abreu.

Muitas vezes, o aparelho é, infelizmente, a única companhia dos mais velhos, que também não têm acesso a outras formas de entretenimento. Distraídos pela TV, eles podem protelar o horário de dormir. "O idoso dorme menos do que necessita e pode acordar irritado, cansado e com baixa concentração", afirma a psicogeriatra Márcia Menon, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

No quesito saúde, o sono é um dos aspectos mais afetados pela TV no quarto. "É um estimulante, as pessoas dormem mais tarde quando deixam o aparelho ligado", diz o neurologista do Instituto do Sono da Unifesp Ademir Baptista Silva.

Para alguns, a TV funciona como uma espécie de sonífero eletrônico --só conseguem pegar no sono se o aparelho estiver ligado. Mas esse é hábito ruim, porque impede que se atinja o estado de sono profundo, fundamental para manter o equilíbrio orgânico. "Os flashes de imagem e a mudança de sons não acordam, mas mantêm o sono no estágio superficial, e é necessário dormir profundamente para que o organismo produza proteínas que formam a memória", explica Silva.

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