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01/07/2004 - 07h19

Vida regrada é solução para intestino preso

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ANA PAULA DE OLIVEIRA
da Folha de S.Paulo

Comer demais ou de menos; ignorar os sinais de que é hora de ir ao banheiro ou forçar a evacuação; apelar cotidianamente para os laxantes. Evitar extremos como esses é o primeiro passo para solucionar um problema que atormenta de 15% a 20% da população brasileira: o intestino preso, também chamado popularmente de prisão de ventre.

Para quem sofre freqüentemente de constipação --permanência prolongada das fezes no intestino--, uma dieta recheada de mamão, ameixas e fibras pode não ser suficiente para fazer o órgão funcionar corretamente. Isso requer disciplina e inclui até sentar-se de maneira correta no vaso sanitário. "Muitas pessoas acham normal ir ao banheiro apenas uma vez por semana, mas isso está errado. Alguém que não evacue a cada 48 horas tem o intestino preso e deve corrigir seus hábitos", alerta Mário Kondo, gastroenterologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

O problema envolve até fatores culturais que explicam, em parte, por que ele é mais comum entre as mulheres. Fisiologicamente, a evacuação é um ato involuntário, mas as meninas "aprendem" que devem tentar controlá-lo. "Na educação feminina, evacuar é visto como um ato feio, que deve ser feito escondido do mundo, ninguém pode saber, por isso as mulheres acabam inibindo a vontade de ir ao banheiro. Além disso, elas são mais 'higiênicas' que os homens e só costumam evacuar no vaso sanitário de sua casa", afirma o gastroenterologista Arnaldo Ganc, do hospital Albert Einstein (SP).

Existem duas estruturas, os esfíncteres, que acionam a evacuação. Um deles age involuntariamente e dá o alerta de que chegou a hora. O outro pode ser controlado. "A pessoa deveria imediatamente ir ao banheiro para abrir o esfíncter voluntário, mas não o faz", diz Ganc. Se esse hábito se repete por anos a fio, o organismo percebe que esse estímulo está sendo feito desnecessariamente e o suprime.

A estimulação natural também é prejudicada por fatores físicos. Se as fezes ficam muito tempo retidas no cólon sigmóide, elas perdem água e endurecem, o que dificulta a estimulação da contração muscular (movimento peristáltico) que gera o alerta para evacuar.

Sem estímulo

Na falta de estímulo natural, muitos apelam para a automedicação e começam a ingerir laxativos, tornando seu consumo um hábito. Laxantes à base de óleo, que lubrificam o intestino e facilitam a passagem das fezes, e os naturais, como ameixa e mamão, não provocam danos ao organismo.

O problema são os laxativos que irritam o intestino. "Eles causam uma inflamação na mucosa do órgão, o que gera uma secreção de água e muco, provocando uma diarréia", explica Ganc. E engana-se quem acredita que apenas produtos industrializados tenham esse poder. Cáscara-sagrada e sene, por exemplo, também atuam dessa maneira.

Com o tempo, o organismo torna-se resistente aos laxantes. "É necessário aumentar a dosagem ou mudar para um mais forte", diz a colonproctologista da USP Angelita Habr-Gama. "Esse costume é um ciclo difícil de ser rompido se não houver mudança nos hábitos e vida regrada", afirma Kondo.

Para Gama, o primeiro passo para romper esse ciclo é: "Ir ao banheiro assim que tiver vontade". Pode parecer simples, mas nem sempre o intestino dá esse alarme facilmente. "É necessário recriar esse hábito perdido. A pessoa deve determinar um horário e, todos os dias, sentar-se no vaso sanitário por cinco minutos, mesmo sem vontade de evacuar", orienta Kondo. Enquanto estiver sentada, a pessoa pode pôr os pés em um banquinho ou em outro apoio com 20 cm a 30 cm de altura. Assim as coxas ficam mais perto do peito, simulando a posição ideal para evacuar, que é de cócoras.

Para ajudar a estimular o movimento peristáltico, Ganc sugere massagear o lado esquerdo do abdômen. Se, mesmo assim, a vontade não vier, os especialistas são categóricos em afirmar que jamais deve-se fazer força para provocar a evacuação, porque isso pode causar hemorróidas e até fissura anal.

Todos esses cuidados devem ser acompanhados pela adoção de uma dieta rica em líqüidos e fibras, que podem ser encontradas tanto em alimentos industrializados como nos in natura (leia nesta e na pág. ao lado). "São elas que ajudam a formar o bolo fecal, volume que, quando chega no reto, dá o 'aviso' de que é hora de evacuar", explica Ganc.

Mas atenção: fibras em excesso são prejudiciais ao organismo. "O consumo excessivo pode gerar uma deficiência de potássio, provocando câimbras e fraqueza muscular", diz Ganc. A quantidade diária recomendada é de 20 g a 30 g.

Se, após as mudanças na rotina, o problema persistir, é necessário procurar um médico. A constipação pode ser sintoma de doenças como câncer de intestino, diabetes, problemas de tireóide, depressão e síndrome de intestino irritável (SII), que afeta cerca de 1,5 milhão de brasileiros. "Dizemos que um paciente tem SII quando ele apresenta dor ou desconforto abdominal que podem ser aliviados pela evacuação e estão associados tanto à diarréia como à constipação ou a uma alternância entre essas duas condições", explica o gastroenterologista da Unifesp Décio Chinzon.

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