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04/07/2004 - 05h28

Livro ensina a controlar sintomas da dislexia

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DÉBORA YURI
da Revista da Folha de S.Paulo

Com um único livro lançado no país, "O Dom da Dislexia" (Rocco), o engenheiro americano Ronald D. Davis conseguiu ganhar a desconfiança de boa parte dos especialistas brasileiros. Nele, o autista e disléxico Davis, hoje com 61 anos, defende que o transtorno pode ser um dom e apresenta um programa de exercícios que pretende controlar seus efeitos.

Um dos métodos que criou consiste em ensinar o disléxico a fazer uma lista de "palavras-gatilho" --aquelas que causam confusão em sua mente. "São aquelas que eu não podia traduzir em imagens mentais e, portanto, não conseguia pensar com elas", explica. Em seguida, a pessoa é incentivada a criar, com argila, uma imagem que traduza o significado dessa palavra. "Assim, a pessoa adquire a capacidade de pensar com ela. Um disléxico costuma enxergar as letras tridimensionalmente, como se estivessem flutuando no espaço", diz.

A eficácia de seu tratamento é discutível, segundo alguns especialistas. "O método que ele criou pode ser útil em alguns casos e pode não ser em outros. Mas pela minha experiência, entendo que o tratamento da dislexia funciona melhor se adaptado a cada pessoa", diz Cláudio Guimarães dos Santos, 44, neurocientista da Unifesp. "A dele é mais uma proposta terapêutica, mas não pode ser encarada como a única solução."

Davis fundou, nos EUA, uma associação de pesquisa e apoio a disléxicos e já trabalhou com mais de 1.500 crianças e adultos portadores do distúrbio. A seguir, a entrevista dada por telefone, de Burlingame, Califórnia.

Folha - Como sua dislexia foi diagnosticada?
Ronald D. Davis
- Eu fui considerado um retardado mental até os 17 anos, quando fiz um teste de Q.I e marquei 137 pontos, considerado um índice alto. Então, depois de algumas outras consultas, veio o parecer.

O errado não é a pessoa ser disléxica, e sim a forma como a escola tenta ensinar a ela os conteúdos. O cérebro do disléxico funciona de outra maneira.

Folha - Seus pais o ajudaram a vencer o transtorno?
Davis
- Meu pai sempre teve vergonha de ter um filho com problemas mentais. Ele me batia constantemente. Dos três aos 13 anos, eu tive 36 ossos quebrados por ele. Já minha mãe foi um anjo para mim. Ela me aceitou como eu era, sem expectativas. Sem o apoio dela, nós não estaríamos tendo essa conversa agora (risos).

Folha - Sua experiência escolar foi muito traumática?
Davis
- Eu tinha pavor da escola, morria de vergonha. Eles me mandavam sentar num canto da sala, e eu me sentia emocional e psicologicamente naquele canto o tempo inteiro.

Folha - Como o senhor virou engenheiro?
Davis
- Cheguei a freqüentar a Universidade de Utah, mas é impossível se você não consegue ler. Com 20 anos, eu demorava duas horas para ler o que as pessoas "normais" liam em cinco minutos. Estava sempre atrasado nas matérias. Fui para um instituto técnico, em que não havia muita necessidade de leitura, as aulas eram muito práticas e manuais. Aos 25 anos, ganhei meu certificado de engenheiro mecânico e comecei a atuar na área.

Folha - Como percebeu que podia "controlar" a dislexia?
Davis
- Disseram que o meu cérebro tinha sofrido algum tipo de lesão e que, por causa disso, eu jamais conseguiria ler direito. Mas eu percebi, enquanto esculpia, que no auge da minha criatividade artística a minha dislexia piorava. Isso mudou a maneira como eu via o distúrbio -se não era estrutural, e sim funcional, eu podia fazer alguma coisa que eliminasse o problema. Eu tinha 37 anos. Então criei um centro de pesquisa e uma associação para ajudar no controle dos sintomas.

Folha - Os métodos de "controle da desorientação" que o senhor explica no livro podem ser aprendidos por qualquer disléxico?
Davis
- Meu maior objetivo ao escrever o livro foi ajudar a mãe ou o pai de uma criança que pede "Por favor, não me faça ir para a escola de novo". Esses pais podem aprender esses métodos, assim como um adulto disléxico. A dislexia não tem cura, mas seus sintomas podem ser controlados.

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