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18/11/2004
-
09h49
MARCOS DÁVILA
da Folha de S.Paulo
Prevenir problemas de saúde, preservar o ambiente, manter o bem-estar e a qualidade de vida e, de quebra, não estressar no trânsito. Cenário ideal? Não é à toa que a bicicleta ganha cada vez mais adeptos, seja para exercício, passeio ou transporte.
O fisiologista Paulo Zogaib, 47, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), defende que o uso regular da bicicleta traz muitos benefícios à saúde ou, como ele prefere dizer, "evita uma série de prejuízos". "O nosso corpo é feito para fazer atividade física e não para ficar parado. Diferente é o sedentário, não quem faz exercícios", afirma o médico.Segundo ele, andar de bicicleta reduz o colesterol a pressão arterial, ajuda a controlar o diabetes e diminui o risco de doenças coronarianas, além de contribuir para a redução da obesidade e fortalecer os músculos dos membros inferiores. "A bicicleta é espetacular nesse aspecto, pois não traz lesões para o aparelho locomotor como a corrida. É ela que sustenta o peso corporal", afirma Zogaib.
Para o médico, não há grandes diferenças entre pedalar na rua e na bicicleta ergométrica. "O ciclismo é um exercício mais completo e dinâmico, que estimula outras alterações no organismo. Há diferenças de planos e velocidades. É diferente da carga fixa da ergométrica", diz.
Como em qualquer esporte, a única restrição seria a sobrecarga. Por isso, não é possível uma pessoa que nunca faz exercícios, de uma hora para outra, resolver ir todo dia para o trabalho de bicicleta. "Andar numa rua movimentada é complicado e requer mais agilidade por causa dos carros. Se você pedala com muito sacrifício ou está exausto, o risco aumenta. A confiança é muito importante e a agilidade só se cria com a prática", diz o médico.
Poluição
O ciclista, no entanto, pode sofrer os efeitos da poluição provocada pelos carros nas grandes cidades, segundo o ambientalista Jacques Demajorovic, 41, professor da faculdade de Ciências Ambientais do Senac (SP). "Quem faz exercício aeróbico em ambientes poluídos sofre mais com a poluição. O problema se agrava no inverno porque não tem chuva e vento. Deve-se evitar principalmente pedalar ao meio-dia, horário em que a concentração de ozônio fica em altitudes mais baixas", afirma.
Para ele, um ciclista na rua representa um carro a menos no trânsito e, conseqüentemente, menor poluição do ar, que, muitas vezes, expulsa os praticantes de ciclismo para regiões um pouco mais afastadas.
"Não tem cabimento o Brasil ser um país de carro e não de pessoas. As cidades são pensadas não para seres humanos, mas para veículos", afirma o esportista Guilherme Cavallari, que escreveu o "Guia de Trilhas" (ed. Via Natura), com 25 roteiros de bike próximos à Grande São Paulo (www.vianatura.com.br).
Transporte
O norte-americano Bill Presada, 50, professor de inglês que vive no Brasil há 24 anos, resolveu driblar o trânsito de São Paulo pedalando. Ele optou pela bicicleta como meio de transporte para ir ao trabalho, numa multinacional. "O trânsito era muito caótico para andar de carro e o ônibus demorava muito. Além de ser um bom treino, andar de bicicleta ajuda na minha qualidade de vida", conta Presada.
Com o paletó e a gravata na mochila, o professor pedalava 32 km --de Itapecerica da Serra até a avenida Paulista-- para chegar ao trabalho. Segundo ele, o percurso durava cerca de uma hora --o mesmo tempo que ele levaria para chegar de automóvel.
"As pessoas sempre me perguntavam se eu não chegava exausto. A resposta é que, depois de fazer um exercício físico pela manhã, eu chegava muito mais relaxado e cheio de energia para trabalhar. É uma arma contra o estresse, não há a tensão de ter ficado parado no trânsito e qualquer desânimo é dissipado na terceira pedalada", diz Presada, que abandonou depois de alguns anos a carreira de executivo.
Mudanças profissionais à parte, ele não deixa sua bicicleta por nada e pedala cerca de mil quilômetros por mês para dar aulas. Segundo ele, optar pela bicicleta como meio de transporte trouxe mais transformações à sua vida pessoal.
"Você sente mais o ambiente e aprecia mais as coisas pequenas da vida. Há muito mais contato humano na bicicleta, mesmo numa cidade dominada pelo carro. E as pessoas correspondem à essa humanização. A bicicleta abre portas, tem uma magia", diz Presada, que fundou em 1996 a Associação Bike Brasil, para incentivar o uso.
Cuidados
Principiantes devem começar em ruas tranqüilas até desenvolverem a confiança necessária para enfrentar o trânsito.
Foi assim que o gerente de sistemas Willian Jorge Rissato Cruz, 31, deu início à sua paixão pelo ciclismo. Há quatro anos, Cruz comprou uma bicicleta e um capacete num supermercado para relembrar os bons tempos passados sobre sua bicicleta na infância.
Começou com passeios curtos no bairro até enfrentar o trânsito das ruas movimentas. Com o tempo, Cruz encontrou outros adeptos e começou a pedalar com ciclistas noturnos, se juntou a um grupo que faz trilhas e até participou de competições de "montain bike". Um dia, seu carro quebrou e ele resolveu ir ao trabalho de bicicleta.
"A endorfina liberada pelo exercício físico faz você ter um dia melhor no trabalho. E só por não ter se estressado em esperar aquele sinal que abriu e fechou três vezes já faz uma diferença enorme", afirma o gerente, que não consegue tomar banho no escritório, mas usa roupas especiais de ciclista que facilitam a transpiração.
"Além disso, quando estou 'fantasiado' de ciclista sou mais respeitado pelos motoristas. Eles me interpretam como um atleta em treinamento ou alguém que sabe o que está fazendo. E se sentem mais seguros", diz.
Se não estivesse "fantasiada" de ciclista --com óculos, luvas e capacete-a fabricante de bijuterias Cibele Barroco de Freitas, 38, poderia ter perdido a vida quando um carro fechou seu caminho num cruzamento. Com a queda, o capacete e os óculos ficaram totalmente ralados e, mesmo com o equipamento de proteção, Cibele quebrou três dentes e machucou o pulso.
Mesmo assim, ela não deixou de andar de bicicleta. Fã do veículo, ela já pedalou de São Paulo a Parati (RJ) em três dias de viagem e, há dois anos, criou a uma loja virtual com bijuterias de motivos relacionados ao ciclismo.
"Tenho carro, mas detesto dirigir. Fico muito estressada", afirma ela, que, mesmo com o braço enfaixado por conta do recente acidente, não deixou de participar de uma manifestação a favor das bicicletas que aconteceu na avenida Paulista durante a 4ª Jornada Brasileira "Na Cidade Sem o Meu Carro". O evento, que acontece em várias cidades do mundo em 22 de setembro, tem como objetivo conscientizar a população da importância da redução do uso do automóvel nas metrópoles.
Cibele ficou sabendo do evento por meio do site da organização Bicicletada, que promove manifestações pelo uso da bicicleta e de transportes ecologicamente corretos.
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da Folha de S.Paulo
Prevenir problemas de saúde, preservar o ambiente, manter o bem-estar e a qualidade de vida e, de quebra, não estressar no trânsito. Cenário ideal? Não é à toa que a bicicleta ganha cada vez mais adeptos, seja para exercício, passeio ou transporte.
O fisiologista Paulo Zogaib, 47, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), defende que o uso regular da bicicleta traz muitos benefícios à saúde ou, como ele prefere dizer, "evita uma série de prejuízos". "O nosso corpo é feito para fazer atividade física e não para ficar parado. Diferente é o sedentário, não quem faz exercícios", afirma o médico.Segundo ele, andar de bicicleta reduz o colesterol a pressão arterial, ajuda a controlar o diabetes e diminui o risco de doenças coronarianas, além de contribuir para a redução da obesidade e fortalecer os músculos dos membros inferiores. "A bicicleta é espetacular nesse aspecto, pois não traz lesões para o aparelho locomotor como a corrida. É ela que sustenta o peso corporal", afirma Zogaib.
Para o médico, não há grandes diferenças entre pedalar na rua e na bicicleta ergométrica. "O ciclismo é um exercício mais completo e dinâmico, que estimula outras alterações no organismo. Há diferenças de planos e velocidades. É diferente da carga fixa da ergométrica", diz.
Como em qualquer esporte, a única restrição seria a sobrecarga. Por isso, não é possível uma pessoa que nunca faz exercícios, de uma hora para outra, resolver ir todo dia para o trabalho de bicicleta. "Andar numa rua movimentada é complicado e requer mais agilidade por causa dos carros. Se você pedala com muito sacrifício ou está exausto, o risco aumenta. A confiança é muito importante e a agilidade só se cria com a prática", diz o médico.
Poluição
O ciclista, no entanto, pode sofrer os efeitos da poluição provocada pelos carros nas grandes cidades, segundo o ambientalista Jacques Demajorovic, 41, professor da faculdade de Ciências Ambientais do Senac (SP). "Quem faz exercício aeróbico em ambientes poluídos sofre mais com a poluição. O problema se agrava no inverno porque não tem chuva e vento. Deve-se evitar principalmente pedalar ao meio-dia, horário em que a concentração de ozônio fica em altitudes mais baixas", afirma.
Para ele, um ciclista na rua representa um carro a menos no trânsito e, conseqüentemente, menor poluição do ar, que, muitas vezes, expulsa os praticantes de ciclismo para regiões um pouco mais afastadas.
"Não tem cabimento o Brasil ser um país de carro e não de pessoas. As cidades são pensadas não para seres humanos, mas para veículos", afirma o esportista Guilherme Cavallari, que escreveu o "Guia de Trilhas" (ed. Via Natura), com 25 roteiros de bike próximos à Grande São Paulo (www.vianatura.com.br).
Transporte
O norte-americano Bill Presada, 50, professor de inglês que vive no Brasil há 24 anos, resolveu driblar o trânsito de São Paulo pedalando. Ele optou pela bicicleta como meio de transporte para ir ao trabalho, numa multinacional. "O trânsito era muito caótico para andar de carro e o ônibus demorava muito. Além de ser um bom treino, andar de bicicleta ajuda na minha qualidade de vida", conta Presada.
Com o paletó e a gravata na mochila, o professor pedalava 32 km --de Itapecerica da Serra até a avenida Paulista-- para chegar ao trabalho. Segundo ele, o percurso durava cerca de uma hora --o mesmo tempo que ele levaria para chegar de automóvel.
"As pessoas sempre me perguntavam se eu não chegava exausto. A resposta é que, depois de fazer um exercício físico pela manhã, eu chegava muito mais relaxado e cheio de energia para trabalhar. É uma arma contra o estresse, não há a tensão de ter ficado parado no trânsito e qualquer desânimo é dissipado na terceira pedalada", diz Presada, que abandonou depois de alguns anos a carreira de executivo.
Mudanças profissionais à parte, ele não deixa sua bicicleta por nada e pedala cerca de mil quilômetros por mês para dar aulas. Segundo ele, optar pela bicicleta como meio de transporte trouxe mais transformações à sua vida pessoal.
"Você sente mais o ambiente e aprecia mais as coisas pequenas da vida. Há muito mais contato humano na bicicleta, mesmo numa cidade dominada pelo carro. E as pessoas correspondem à essa humanização. A bicicleta abre portas, tem uma magia", diz Presada, que fundou em 1996 a Associação Bike Brasil, para incentivar o uso.
Cuidados
Principiantes devem começar em ruas tranqüilas até desenvolverem a confiança necessária para enfrentar o trânsito.
Foi assim que o gerente de sistemas Willian Jorge Rissato Cruz, 31, deu início à sua paixão pelo ciclismo. Há quatro anos, Cruz comprou uma bicicleta e um capacete num supermercado para relembrar os bons tempos passados sobre sua bicicleta na infância.
Começou com passeios curtos no bairro até enfrentar o trânsito das ruas movimentas. Com o tempo, Cruz encontrou outros adeptos e começou a pedalar com ciclistas noturnos, se juntou a um grupo que faz trilhas e até participou de competições de "montain bike". Um dia, seu carro quebrou e ele resolveu ir ao trabalho de bicicleta.
"A endorfina liberada pelo exercício físico faz você ter um dia melhor no trabalho. E só por não ter se estressado em esperar aquele sinal que abriu e fechou três vezes já faz uma diferença enorme", afirma o gerente, que não consegue tomar banho no escritório, mas usa roupas especiais de ciclista que facilitam a transpiração.
"Além disso, quando estou 'fantasiado' de ciclista sou mais respeitado pelos motoristas. Eles me interpretam como um atleta em treinamento ou alguém que sabe o que está fazendo. E se sentem mais seguros", diz.
Se não estivesse "fantasiada" de ciclista --com óculos, luvas e capacete-a fabricante de bijuterias Cibele Barroco de Freitas, 38, poderia ter perdido a vida quando um carro fechou seu caminho num cruzamento. Com a queda, o capacete e os óculos ficaram totalmente ralados e, mesmo com o equipamento de proteção, Cibele quebrou três dentes e machucou o pulso.
Mesmo assim, ela não deixou de andar de bicicleta. Fã do veículo, ela já pedalou de São Paulo a Parati (RJ) em três dias de viagem e, há dois anos, criou a uma loja virtual com bijuterias de motivos relacionados ao ciclismo.
"Tenho carro, mas detesto dirigir. Fico muito estressada", afirma ela, que, mesmo com o braço enfaixado por conta do recente acidente, não deixou de participar de uma manifestação a favor das bicicletas que aconteceu na avenida Paulista durante a 4ª Jornada Brasileira "Na Cidade Sem o Meu Carro". O evento, que acontece em várias cidades do mundo em 22 de setembro, tem como objetivo conscientizar a população da importância da redução do uso do automóvel nas metrópoles.
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