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12/05/2005
-
10h34
ANA PAULA DE OLIVEIRA
MARCOS DÁVILA
da Folha de S. Paulo
Depois de um grupo de atrizes e modelos ter afirmado publicamente que perdeu vários quilos com terapia ortomolecular, a prática virou a nova "dieta dos famosos" e passou a atrair cada vez mais pessoas, que lotam consultórios de endocrinologistas, nutricionistas, cardiologistas e outros especialistas querendo emagrecer com as vitaminas.
A terapia, que não é considerada especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), defende a busca do equilíbrio químico do corpo por meio do uso de substâncias antioxidantes, como vitaminas, minerais e aminoácidos. A idéia central --criada pelo ganhador do Prêmio Nobel Linus Pauling (1901-1994) na metade do século passado-- é combater os radicais livres, que seriam responsáveis pelo aparecimento de doenças e pelo envelhecimento do organismo.
A técnica chegou ao Brasil em meados da década de 80 e hoje estima-se que haja cerca de 2.500 médicos especialistas no tratamento.
Na ânsia pelo emagrecimento, além de desembolsarem até R$ 12 mil pelo tratamento, pessoas se submetem a testes de cabelo que seriam um retrato da saúde do paciente, ao EDTA, que são longas aplicações intravenosas de substâncias que removeriam os metais pesados do organismo --também conhecidas como quelação ou injeções de soro-, e, principalmente, a megadoses de vitaminas. Todas essas práticas são proibidas desde 1988 pelo CFM, de acordo com o especialista em clínica médica Geraldo Luiz Moreira Guedes, representante de Minas Gerais na entidade.
Mesmo entre os médicos que utilizam a terapia ortomolecular, não existe consenso quando a questão é empregá-la para perder peso.
"Esse tipo de discussão vulgariza a questão. A pessoa não vai emagrecer por conta de vitaminas. Isso não existe", afirma o angiologista Guilherme Paulo Deucher, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Ortomolecular e um dos introdutores, há 21 anos, da prática no Brasil. "A ortomolecular é um conceito novo dentro da medicina para ajudar na prevenção das doenças que vêm com o envelhecimento. É um conceito muito mais de prevenção. Para emagrecer, é necessária uma mudança de atitude, com cuidados com a alimentação e prática de exercícios", diz o médico.
Apesar de conhecer pessoas que gostaram da terapia, a empresária Inês Prado de Araújo Oliveira, 49, diz ter jogado dinheiro fora. "Procurei o tratamento ortomolecular para regular o organismo, e não para emagrecer. Mas comecei a engordar e interrompi a terapia. Talvez, se tivesse continuado, poderia ter revertido o processo", diz a empresária, que tomava cerca de dez vitaminas diariamente e ganhou 5 kg em quatro meses.
O ganho de peso também foi o problema do gerente de projetos Fábio Baptistella, 40. Ele queria perder 15 kg dos seus 110 kg, mas, em quatro meses de terapia, engordou 6 kg. "Acho que as vitaminas me abriram o apetite", diz.
Fábio interrompeu o tratamento quando recebeu de seu médico a notícia de que teria de fazer um exame do fio de cabelo --que seria analisado nos Estados Unidos-- e tomar mais uma série de injeções de soro, por R$ 4.600. "De certa maneira, acho que fui enganado. Quando me perguntam sobre o tratamento ortomolecular, falo que é caríssimo e que existem algumas coisas duvidosas", afirma.
Milagre
"As pessoas querem milagres, mas fazer exercício e mudar a alimentação ninguém quer", afirma o endocrinologista Walmir Coutinho, professor da PUC-RJ e vice-presidente da Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade.
Para ele, essa busca por regimes milagrosos se dá pelo buraco entre o que a medicina oferece e o que realmente desejam aqueles que estão acima do peso ideal.
Foi feita uma pesquisa identificando que a maioria das mulheres com sobrepeso deseja perder 37% do seu peso corpóreo, "mas o que recomendamos inicialmente é a perda de 10%, o que já melhora a saúde da pessoa", diz Coutinho, afirmando que é nesse gap que a procura por dietas da moda entra em cena.
A publicitária carioca Élida Lopes, 42, desejava perder 24 kg. Em um mês de tratamento ortomolecular, emagreceu 6 kg. São 15 cápsulas de vitamina por dia, injeções de soro uma vez por semana, aulas com personal trainer e a eliminação do cardápio de leite e derivados, pão e tudo que leva farinha.
Mesmo após cortar praticamente tudo o que engorda de sua alimentação e praticar exercícios regulares, Élida credita sua perda de peso à terapia. "Além de me fazer emagrecer, o tratamento me tirou da depressão", conta, revelando que seu único porém foi ter perdido "apenas" 6 kg. "Estou pagando R$ 12 mil pelo tratamento [de seis meses]. Por esse valor, deveria ter emagrecido muito mais", ironiza.
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MARCOS DÁVILA
da Folha de S. Paulo
Depois de um grupo de atrizes e modelos ter afirmado publicamente que perdeu vários quilos com terapia ortomolecular, a prática virou a nova "dieta dos famosos" e passou a atrair cada vez mais pessoas, que lotam consultórios de endocrinologistas, nutricionistas, cardiologistas e outros especialistas querendo emagrecer com as vitaminas.
A terapia, que não é considerada especialidade médica pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), defende a busca do equilíbrio químico do corpo por meio do uso de substâncias antioxidantes, como vitaminas, minerais e aminoácidos. A idéia central --criada pelo ganhador do Prêmio Nobel Linus Pauling (1901-1994) na metade do século passado-- é combater os radicais livres, que seriam responsáveis pelo aparecimento de doenças e pelo envelhecimento do organismo.
A técnica chegou ao Brasil em meados da década de 80 e hoje estima-se que haja cerca de 2.500 médicos especialistas no tratamento.
Na ânsia pelo emagrecimento, além de desembolsarem até R$ 12 mil pelo tratamento, pessoas se submetem a testes de cabelo que seriam um retrato da saúde do paciente, ao EDTA, que são longas aplicações intravenosas de substâncias que removeriam os metais pesados do organismo --também conhecidas como quelação ou injeções de soro-, e, principalmente, a megadoses de vitaminas. Todas essas práticas são proibidas desde 1988 pelo CFM, de acordo com o especialista em clínica médica Geraldo Luiz Moreira Guedes, representante de Minas Gerais na entidade.
Mesmo entre os médicos que utilizam a terapia ortomolecular, não existe consenso quando a questão é empregá-la para perder peso.
"Esse tipo de discussão vulgariza a questão. A pessoa não vai emagrecer por conta de vitaminas. Isso não existe", afirma o angiologista Guilherme Paulo Deucher, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Ortomolecular e um dos introdutores, há 21 anos, da prática no Brasil. "A ortomolecular é um conceito novo dentro da medicina para ajudar na prevenção das doenças que vêm com o envelhecimento. É um conceito muito mais de prevenção. Para emagrecer, é necessária uma mudança de atitude, com cuidados com a alimentação e prática de exercícios", diz o médico.
Apesar de conhecer pessoas que gostaram da terapia, a empresária Inês Prado de Araújo Oliveira, 49, diz ter jogado dinheiro fora. "Procurei o tratamento ortomolecular para regular o organismo, e não para emagrecer. Mas comecei a engordar e interrompi a terapia. Talvez, se tivesse continuado, poderia ter revertido o processo", diz a empresária, que tomava cerca de dez vitaminas diariamente e ganhou 5 kg em quatro meses.
O ganho de peso também foi o problema do gerente de projetos Fábio Baptistella, 40. Ele queria perder 15 kg dos seus 110 kg, mas, em quatro meses de terapia, engordou 6 kg. "Acho que as vitaminas me abriram o apetite", diz.
Fábio interrompeu o tratamento quando recebeu de seu médico a notícia de que teria de fazer um exame do fio de cabelo --que seria analisado nos Estados Unidos-- e tomar mais uma série de injeções de soro, por R$ 4.600. "De certa maneira, acho que fui enganado. Quando me perguntam sobre o tratamento ortomolecular, falo que é caríssimo e que existem algumas coisas duvidosas", afirma.
Milagre
"As pessoas querem milagres, mas fazer exercício e mudar a alimentação ninguém quer", afirma o endocrinologista Walmir Coutinho, professor da PUC-RJ e vice-presidente da Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade.
Para ele, essa busca por regimes milagrosos se dá pelo buraco entre o que a medicina oferece e o que realmente desejam aqueles que estão acima do peso ideal.
Foi feita uma pesquisa identificando que a maioria das mulheres com sobrepeso deseja perder 37% do seu peso corpóreo, "mas o que recomendamos inicialmente é a perda de 10%, o que já melhora a saúde da pessoa", diz Coutinho, afirmando que é nesse gap que a procura por dietas da moda entra em cena.
A publicitária carioca Élida Lopes, 42, desejava perder 24 kg. Em um mês de tratamento ortomolecular, emagreceu 6 kg. São 15 cápsulas de vitamina por dia, injeções de soro uma vez por semana, aulas com personal trainer e a eliminação do cardápio de leite e derivados, pão e tudo que leva farinha.
Mesmo após cortar praticamente tudo o que engorda de sua alimentação e praticar exercícios regulares, Élida credita sua perda de peso à terapia. "Além de me fazer emagrecer, o tratamento me tirou da depressão", conta, revelando que seu único porém foi ter perdido "apenas" 6 kg. "Estou pagando R$ 12 mil pelo tratamento [de seis meses]. Por esse valor, deveria ter emagrecido muito mais", ironiza.
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