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06/10/2005
-
11h07
TATIANA DINIZ
da Folha de S.Paulo
Criadas há seis anos, as casas de parto se tornaram o centro de um fogo cruzado entre as categorias de profissionais de saúde. Isso porque o texto da portaria que as oficializou permite que elas funcionem sem que seja obrigatória a supervisão de um médico, podendo ser geridas por enfermeiras-obstetras.
Taxadas de "pouco seguras" por instituições como a Febrasa (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), enfrentam severas críticas. Criadas para atender gestantes de baixo risco, não contam com centros cirúrgicos.
"Esses lugares não oferecem segurança absoluta à gestante. Não posso concordar que o nascimento de uma criança não conte com a presença de um neonatologista ou que a mãe não tenha um anestesista para aliviar sua dor. É um retrocesso", avalia Luiz Camano, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e presidente da Comissão de Assistência ao Parto da Febrasgo.
Em 2004, quando foi inaugurada a casa de parto de Realengo, no Rio de Janeiro, o Conselho Regional de Medicina entrou com uma ação judicial para impedir o funcionamento da unidade.
"Até hoje vivemos numa briga sem fim com eles", comenta a enfermeira-obstetra Leila Gomes Ferreira de Azevedo, coordenadora da casa que, até a última quinta-feira, já tinha realizado 352 partos. "A média atual é de 36 por mês, mas queremos chegar a 80", afirma.
A casa de parto de Realengo atende moradoras do bairro e de algumas regiões do vizinho distrito de Bangu e oferece um serviço de pré-natal que inclui de práticas de respiração a orientações de cuidados com o bebê. As mães que têm seus filhos ali ficam em quartos com cama de casal, com o bebê e o companheiro.
Tudo isso encantou a pedagoga Malila Barros Wrigg, 24, que, como morava na região assistida pela unidade, decidiu, já no quinto mês de gravidez, deixar para trás o obstetra que a acompanhava desde a adolescência e, com ele, todos os hospitais catalogados por seu plano de saúde, para dar à luz em Realengo.
"Quando disse que queria ter o bebê numa casa de parto, enfrentei muita resistência da minha família. Mas meu marido me apoiou, e me envolvi totalmente com as palestras e as oficinas do pré-natal. Em nenhum outro lugar aprenderia tanto quanto aprendi ali", enfatiza.
Porém, na primeira hora do dia 18 de dezembro de 2004, a bolsa de Malila rompeu seguida de um grande sangramento. A hemorragia a tirou do protocolo de gestante de baixo risco. Tratava-se de um descolamento prematuro de placenta, e ela foi transferida para uma maternidade pública no bairro vizinho.
O parto de Clara, hoje com oito meses, teve uma série de complicações. Depois de uma cesárea de emergência, a criança nasceu com morte aparente. "Foi frustrante, mas, naquela situação, ouvindo o coração da minha filha quase parar, a possibilidade de cirurgia apareceu como uma solução", lembra Malila, que continua defendendo as casas de parto, desde que sejam anexas a hospitais.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, somando o volume de partos realizados nas casas de Belo Horizonte, Juiz de Fora e do Rio de Janeiro entre 2001 e 2004 chega-se a um total de 4.838. Houve seis óbitos neonatais. Nenhum óbito materno ocorreu. "A casa de parto é totalmente segura para as gestantes saudáveis", reforça o obstetra Marcos Dias. "O conceito de gravidez de baixo risco é ultrapassado. Uma gestante de baixo risco se converte numa parturiente de alto risco inesperadamente", rebate Luiz Camano.
Há cinco anos, no Rio Grande do Sul, um episódio desse tipo levou à condenação do obstetra e homeopata Ricardo Herbert Jones. Durante um parto assistido por ele, a paciente, considerada gestante de baixo risco, teve uma embolia aguda por liqüido amniótico. Foi feita uma cesárea, mas ela morreu, dias depois, na UTI do hospital. O bebê também não resistiu. "A embolia é processo sem sinais, imprevisível e sem grupos de risco. Sei do compromisso que tinha com a paciente e de tudo que fiz. O que aconteceu foi uma fatalidade seguida da perseguição ao modelo de parto humanizado", disse Jones, que ainda está sob processo do Conselho Regional de Medicina, à Folha.
Alternativa
Enquanto as mães reivindicam o protagonismo dos partos, as doulas --versão moderna de parteira, conselheira e incentivadora do parto normal-- atuam como coadjuvantes de peso. "A classe médica ficou desatualizada sobre como conduzir nascimentos. O parto, como a vida, tem riscos. Mas isso não justifica a hospitalização desnecessária", observa a doula Maria de Lourdes Teixeira, a Fadynha.
Em meio a discussões, o fato é que as mulheres estão reavaliando como devem parir suas crianças. É o caso da arquiteta Carla Demattio, 34, que vive o processo de escolher onde vai ter seu bebê e está considerando a Casa de Parto de Sapopemba entre suas opções. "Acho que seria uma saída para fugir das rotinas dos hospitais", explica.
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Criadas há seis anos, as casas de parto se tornaram o centro de um fogo cruzado entre as categorias de profissionais de saúde. Isso porque o texto da portaria que as oficializou permite que elas funcionem sem que seja obrigatória a supervisão de um médico, podendo ser geridas por enfermeiras-obstetras.
Taxadas de "pouco seguras" por instituições como a Febrasa (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), enfrentam severas críticas. Criadas para atender gestantes de baixo risco, não contam com centros cirúrgicos.
"Esses lugares não oferecem segurança absoluta à gestante. Não posso concordar que o nascimento de uma criança não conte com a presença de um neonatologista ou que a mãe não tenha um anestesista para aliviar sua dor. É um retrocesso", avalia Luiz Camano, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e presidente da Comissão de Assistência ao Parto da Febrasgo.
Em 2004, quando foi inaugurada a casa de parto de Realengo, no Rio de Janeiro, o Conselho Regional de Medicina entrou com uma ação judicial para impedir o funcionamento da unidade.
"Até hoje vivemos numa briga sem fim com eles", comenta a enfermeira-obstetra Leila Gomes Ferreira de Azevedo, coordenadora da casa que, até a última quinta-feira, já tinha realizado 352 partos. "A média atual é de 36 por mês, mas queremos chegar a 80", afirma.
A casa de parto de Realengo atende moradoras do bairro e de algumas regiões do vizinho distrito de Bangu e oferece um serviço de pré-natal que inclui de práticas de respiração a orientações de cuidados com o bebê. As mães que têm seus filhos ali ficam em quartos com cama de casal, com o bebê e o companheiro.
Tudo isso encantou a pedagoga Malila Barros Wrigg, 24, que, como morava na região assistida pela unidade, decidiu, já no quinto mês de gravidez, deixar para trás o obstetra que a acompanhava desde a adolescência e, com ele, todos os hospitais catalogados por seu plano de saúde, para dar à luz em Realengo.
"Quando disse que queria ter o bebê numa casa de parto, enfrentei muita resistência da minha família. Mas meu marido me apoiou, e me envolvi totalmente com as palestras e as oficinas do pré-natal. Em nenhum outro lugar aprenderia tanto quanto aprendi ali", enfatiza.
Porém, na primeira hora do dia 18 de dezembro de 2004, a bolsa de Malila rompeu seguida de um grande sangramento. A hemorragia a tirou do protocolo de gestante de baixo risco. Tratava-se de um descolamento prematuro de placenta, e ela foi transferida para uma maternidade pública no bairro vizinho.
O parto de Clara, hoje com oito meses, teve uma série de complicações. Depois de uma cesárea de emergência, a criança nasceu com morte aparente. "Foi frustrante, mas, naquela situação, ouvindo o coração da minha filha quase parar, a possibilidade de cirurgia apareceu como uma solução", lembra Malila, que continua defendendo as casas de parto, desde que sejam anexas a hospitais.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, somando o volume de partos realizados nas casas de Belo Horizonte, Juiz de Fora e do Rio de Janeiro entre 2001 e 2004 chega-se a um total de 4.838. Houve seis óbitos neonatais. Nenhum óbito materno ocorreu. "A casa de parto é totalmente segura para as gestantes saudáveis", reforça o obstetra Marcos Dias. "O conceito de gravidez de baixo risco é ultrapassado. Uma gestante de baixo risco se converte numa parturiente de alto risco inesperadamente", rebate Luiz Camano.
Há cinco anos, no Rio Grande do Sul, um episódio desse tipo levou à condenação do obstetra e homeopata Ricardo Herbert Jones. Durante um parto assistido por ele, a paciente, considerada gestante de baixo risco, teve uma embolia aguda por liqüido amniótico. Foi feita uma cesárea, mas ela morreu, dias depois, na UTI do hospital. O bebê também não resistiu. "A embolia é processo sem sinais, imprevisível e sem grupos de risco. Sei do compromisso que tinha com a paciente e de tudo que fiz. O que aconteceu foi uma fatalidade seguida da perseguição ao modelo de parto humanizado", disse Jones, que ainda está sob processo do Conselho Regional de Medicina, à Folha.
Alternativa
Enquanto as mães reivindicam o protagonismo dos partos, as doulas --versão moderna de parteira, conselheira e incentivadora do parto normal-- atuam como coadjuvantes de peso. "A classe médica ficou desatualizada sobre como conduzir nascimentos. O parto, como a vida, tem riscos. Mas isso não justifica a hospitalização desnecessária", observa a doula Maria de Lourdes Teixeira, a Fadynha.
Em meio a discussões, o fato é que as mulheres estão reavaliando como devem parir suas crianças. É o caso da arquiteta Carla Demattio, 34, que vive o processo de escolher onde vai ter seu bebê e está considerando a Casa de Parto de Sapopemba entre suas opções. "Acho que seria uma saída para fugir das rotinas dos hospitais", explica.
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