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01/12/2005 - 11h11

Dicas para resolver conflitos de forma não violenta

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FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S.Paulo

Seu vizinho ensaia bateria em casa e não te deixa estudar
Antes de bater na porta dele com raiva ou fazer reclamações com o síndico, lembre-se de que vocês são vizinhos e podem se encontrar mais vezes. O melhor para uma convivência saudável é procurá-lo e tentar encontrar uma solução que leve em conta a necessidade dos dois. "Você pode passar os horários em que fica fora de casa e pedir para ele ensaiar neles. Ele também pode usar algum tipo de isolamento acústico. Para isso, é preciso ir ao encontro desse vizinho e evidenciar o conflito. O mais interessante é que daí pode surgir até uma amizade", diz Lia Diskin, da Palas Athena.

Você quer ver futebol na TV e seu companheiro, telenovela
Uma das soluções possível é parecida com a da situação anterior: vocês podem combinar dias da semana para que cada um veja seu programa preferido. Para que o acordo dê certo, o melhor é ser flexível. Assim, se a final de um campeonato ou o último capítulo da novela caírem no dia do outro, é razoável que a vez seja cedida.

Seu filho faz birra porque não quer arrumar o quarto
É possível resolver a questão sem recorrer a métodos violentos como bater ou fazer ameaças. Segundo Lia Diskin, dizer que ele ficará proibido de fazer uma atividade de que gosta (como ver televisão) se não arrumar o quarto é um mau caminho. "Esse tipo de negociação em que as coordenadas não têm simetria entre si é muito difícil de compreender. Assistir à televisão não tem nada a ver com arrumar o quarto. É simplesmente uma forma de punição pelo não cumprimento de algo que os pais desejam", afirma.

Para Diskin, a solução é encontrar mecanismos para que a criança compreenda as conseqüências desagradáveis que aquele comportamento vai lher trazer. "Podemos mostrar que, com o quarto desarrumado, ela perderá muito mais tempo para encontrar suas coisas e não poderá receber os coleguinhas de forma confortável", sugere.

A dramatização --por exemplo, tirar as comidas da geladeira e colocar sapatos no lugar, mostrando que assim ela não encontrará o que quer comer-- é outro recurso sugerido por ela.

Seu sócio trabalha menos do que você
Segundo Célia Bernardes, co-coordenadora do setor de mediação do Instituto Familiae, no mundo do trabalho o conflito entre sócios é o que mais gera procura pela mediação. "Os sócios deveriam ter poder igual, mas, às vezes, um acha que está carregando a empresa nas costas", conta. Sua sugestão é que cada um identifique as características do outro que contribuem para o funcionamento do todo. "Às vezes, um deles trabalha menos, mas se dá bem com todo mundo e resolve conflitos entre os funcionários Quando um reconhece o valor do outro o problema diminui.".

Você é agredido fisicamente por alguém
Essa talvez seja a situação em que o uso da violência é mais legitimado. Afinal, quando se é agredido fisicamente, parece natural reagir com o uso da força. Mas, segundo o filósofo Jean-Marie Muller e outros adeptos da cultura da paz, é possível defender-se de forma não violenta por meio das artes marciais.

"As artes marciais buscam a harmonia entre os semelhantes, e não o confronto. Quem pratica adquire uma melhor compreensão de si mesmo e tem que seguir regras de respeito ao mestre e ao adversário", diz Severino Sales, o Sensei Severino, presidente da Federação Brasileira de Aikido. "O fundador do aikido dizia que não se trata de uma arte para lutar contra o inimigo, mas para fazer dos seres humanos uma grande família", conta.

Segundo Sales, antes de começar a praticar aikido ele próprio era um garoto briguento e de poucas amizades. "Se alguém olhasse torto eu partia para a ignorância. Hoje, vi que isso não beneficia ninguém e meu ideal de vida é fazer amigos."

Você se divorcia e briga pela guarda do filho
O mais importante a ser levado em conta é o bem-estar do filho, fator que, segundo Célia Bernardes, geralmente não é priorizado por casais que se separam. "É comum as pessoas irem contra alguma oferta só pelo fato de ter vindo do ex. Tem que ver como cada um pode contribuir para as crianças", diz.

Cássio Filgueiras diz que uma das técnicas usadas pelos mediadores é lembrar aos dois que já passaram por vários momentos juntos e por isso podem chegar a um acordo maduro. "Lembramos que eles conseguiram comprar um apartamento juntos, que criaram duas crianças. É importante fazer com que eles reconheçam que são capazes de chegar a um entendimento", diz.

Você não quer que seu filho adolescente volte da festa de madrugada
Para o psiquiatra e psicoterapeuta Jonas Melman, membro da rede Gandhi, numa situação dessas os riscos e as possibilidades têm que ser pesados. "Os pais têm que dar limites para os filhos, mas isso não significa agir de forma autoritária. O caminho da paz é o caminho do diálogo, da negociação."
A psicopedagoga Maria Elvira Tuppy diz que os pais devem explicar qual é o motivo que os deixa preocupados e ver o grau de importância que aquilo tem para o adolescente. "Pode-se chegar a um horário que não seja nem às 22h nem às 4h, mas à 1h, por exemplo."

Segundo Célia Bernardes, a questão é aprender a negociar sem perder a autoridade de pai. "O importante é chegar a um acordo com o qual o filho realmente se comprometa."

Uma criança furta o estojo do colega na escola
Não se deve simplesmente punir quem furtou. Para Maria Elvira Tuppy, uma boa conversa entre os dois colegas com a presença de um mediador neutro --um professor ou um funcionário, por exemplo-- pode resolver, desde que ambos desejem esse contato. "Quase sempre a devolução do objeto e um pedido de desculpas resolvem. Em geral, essas duas crianças passam a ser amigas. Se o furto ocorrer por uma dificuldade financeira, o outro garoto costuma até ajudar", diz.

Laura Roizman, coordenadora do Programa de Educação em Valores Universais, Ética e Cidadania, da Palas Athena, lembra que é preciso ter certeza de quem realmente foi o autor do furto. "Temos que ir até o fim para saber a verdade. A pior coisa que pode acontecer é um mal entendido desse tipo. Depois, temos que entender o contexto para ver o que levou a criança a fazer isso. O caminho é o diálogo construtivo e não a repressão."

Leia mais
  • Princípios de Gandhi ajudam nos conflitos da vida prática
  • Mediação pode ser alternativa ao conflito
  • Escolas públicas usam técnicas de mediação
  • Para filósofo francês, violência é método ultrapassado
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