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20/04/2006 - 10h49

Parte dos benefícios prometidos por cremes não tem comprovação

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IARA BIDERMAN
Colaboração para a Folha de S.Paulo
PATRÍCIA TRUDES DA VEIGA
Editora de Suplementos da Folha de S.Paulo
TATIANA DINIZ
da Folha de S.Paulo

Toda manhã, ao acordar, a empresária Carolina Correia Botelho, 31, lava o rosto com sabonete facial e, em seguida, passa loção adstringente, ambos franceses. Pinga algumas gotas de vitamina C no rosto: "Não vivo sem. A marca que eu uso [americana] está em falta na importadora, preciso descobrir outra para repor". Na seqüência, passa creme para a região dos olhos e hidratante para o rosto. Finaliza com protetor solar fator 30, que reaplica a cada quatro horas --"até a luz da tela do computador é prejudicial à pele", diz. No quesito cremes, ela não se contenta com poucos e básicos. Louca por cosméticos, tem um estoque de fazer inveja a qualquer boa perfumaria. E, embora essa fartura seja desejada por muitos, boa parte dos benefícios prometidos pelos fabricantes, segundo dez especialistas em dermatologia ouvidos pela Folha, pode não passar de conto-do-vigário.

Se você é daqueles que acreditam que o preço é diretamente proporcional à qualidade, está na hora de abrir os olhos e pensar duas vezes antes de enfiar a mão no bolso para pagar por cremes caríssimos que prometem o milagre da juventude eterna em um curto período de tempo. Sucumbir a esse tipo de apelo é, geralmente, pedir para ser enganado, afirmam, em coro, os especialistas.

A Folha ouviu dermatologistas e farmacêuticos de universidades e hospitais renomados sobre como escolher e utilizar filtros solares, hidratantes e cremes antienvelhecimento. Todos são unânimes em afirmar que os preços exorbitantes atribuídos a alguns cosméticos são pouco justificáveis e têm maior relação com fatores como grife e status do que com os benefícios que eles são capazes de proporcionar. Eles recomendam ainda um cuidado redobrado com a avalanche de novidades tentadoras, que prometem maravilhas como pele perfeita e rejuvenescimento instantâneo. E são categóricos: há muito mais propaganda do que efeito comprovado.

Os números do negócio da beleza não são baixos. Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, em 2005 o setor vendeu 1,3 milhão de toneladas e fechou o ano com faturamento de R$ 14,7 bilhões, 14,5% maior do que o observado em 2004. O crescimento é evidente: em 2000, o faturamento ficou em R$ 7,5 milhões.

Então, qual seria a maneira de cuidar da pele evitando o risco de ser extorquido? O primeiro passo, ensinam, é buscar a orientação de um profissional de confiança --e não necessariamente do dermatologista da moda que está nas revistas de beleza.

O segundo é ser sincero com esse profissional sobre o quanto você pode pagar pelo tratamento. O terceiro --mas não menos importante-- é aprender a fuçar rótulos e a verificar se o produto que você está levando para casa contém as substâncias cujos efeitos já são comprovados pelos pesquisadores da área de dermatologia.

Unanimidade entre os especialista como eficaz no combate ao envelhecimento, o ácido retinóico --vendido apenas como medicação e com prescrição médica-- está presente em fórmulas que custam em média R$ 20. Já seus derivados, os retinóis, podem ser encontrados em diversos cremes. Um cosmético antienvelhecimento pode ser comprado por preços que variam de R$ 25 a R$ 2.424.

Vilões das rugas

Embora possa ser atenuado com o uso de cosméticos, o envelhecimento e o surgimento de rugas é em parte determinado pelos genes e fortemente influenciado pela exposição solar a que cada um se submete.

"A formação de rugas está relacionada à sensibilidade genética do indivíduo ao sol e ao tipo de exposição a que ele se submete --que depende muito do lugar em que ele vive. Na escala de tipos de pele, encontramos do tipo zero, o albino, ao seis, o negro. Um indivíduo claro e de olhos azuis que mora em Salvador, por exemplo, está no lugar errado para o seu tipo de pele. Mesmo que use todo o filtro solar do mundo, ele nunca vai ter a cor de um caiçara", diz Jayme de Oliveira Filho, doutor em dermatologia pela USP (Universidade de São Paulo) e chefe do departamento de cosmiatria da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).

A receita para prevenir o envelhecimento inclui "evitar a exposição solar, ter boa nutrição e fazer exercícios diários", ensina Douglas Altechk, professor de dermatologia da Mount Sinai School of Medicine de Nova York e especialista em história da dermatologia. "O estresse é outro fator com um impacto negativo sobre o envelhecimento. Antioxidantes presentes em muitos alimentos ajudam na prevenção, mas é simplista demais pensar que eles podem reduzir o envelhecimentos sozinhos."

O cigarro também desempenha um papel de vilão no processo de envelhecimento. Isso ocorre porque uma das conseqüências do tabagismo é promover fissuras na pele, que aprofundam as rugas. "Nos fumantes, as rugas se tornam óbvias mais cedo", afirma John McGrath, professor de dermatologia molecular do King's College London e consultor-dermatologista do Saint John's Institute of Dermatology, em Londres.

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