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13/07/2006 - 12h26

Prática de esportes também ajuda capacidade cognitiva

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AMARÍLIS LAGE
da Folha de S.Paulo

As vantagens não estão restritas a quem decidiu estudar filosofia ou aprender um novo idioma. Estudos mostram que começar a praticar um esporte ou uma dança também tem efeitos positivos sobre a capacidade cognitiva dos idosos.

Um desses trabalhos foi desenvolvido pela pesquisadora Hanna Karen Antunes, do Centro de Estudos em Psicobiologia e Exercício, da Unifesp. Ela selecionou 46 homens sedentários, de 60 a 75 anos, e fez com que metade deles passasse por um programa de exercícios.

Ao longo de seis meses, três vezes por semana, os participantes iam à universidade para pedalar numa bicicleta ergométrica por uma hora, em intensidade moderada.

Ao fim desse período, observou-se que o grupo que havia se exercitado teve avanços significativos em relação ao grupo que permaneceu sedentário, alcançando melhores índices nos testes que mediam aspectos como memórias de curto e de longo prazos, capacidade de aprendizagem e raciocínio.

"Houve uma melhora no sistema cardiovascular, que, por sua vez, melhorou o fluxo sangüíneo cerebral, e isso tem uma resposta cognitiva", explica Antunes. Ao mesmo tempo, maus hábitos podem prejudicar essas habilidades. "Fumar e ter uma alimentação muito gordurosa, por exemplo, afetam a forma como as capacidades cognitivas serão preservadas. Eles interferem na circulação sangüínea, que é fundamental para o funcionamento cerebral", afirma o médico Luiz Roberto Ramos, diretor do Centro de Estudos do Envelhecimento da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

Além disso, pesquisas com animais indicam que a prática de exercícios leva a um aumento da neurotrofina BDNF, ligada à nutrição dos neurônios.

O terceiro responsável por essa melhoria não é biológico: trata-se da interação social.

A dona de casa Diva Tuna Gorgone, 77, tem uma academia no prédio, mas quase nunca usa os equipamentos. Não por preguiça. "Prefiro fazer atividades com outras pessoas", explica Diva, que faz ioga, alongamento, condicionamento físico e dança de salão. "Hoje mesmo [segunda-feira] liguei para duas dessas amigas. A gente vai ao cinema, ao teatro. Sinto que isso me favorece."

Neide Di Sessa, 71, que começou a estudar espanhol no ano passado, "para não ter que falar "portunhol" nas próximas viagens", também inclui na lista de vantagens do curso a ampliação do círculo social. Por sugestão do professor, está pensando em montar um grupo de estudo no prédio, convidando outras pessoas da mesma idade para aprimorar a conversação.

"A sala de aula tem um caráter social", afirma Vitória Kachar, professora da Universidade Aberta à Maturidade da PUC-SP. Segundo ela, essa rede social é importante para que o idoso não se sinta afastado das mudanças que ocorrem no mundo e tenha oportunidade de contar suas memórias.

Essa vontade de falar sobre a própria experiência, aliás, é um dos diferenciais da aprendizagem na terceira idade. A sugestão de Kachar, que capacita professores para cursos com idosos, é que as aulas busquem englobar o resgate do passado de cada um. "Isso eleva a auto-estima e dá um novo norte para o sentido do envelhecimento, que, em nossa sociedade, é quase encarado como uma catástrofe."

A professora aposentada Maria José Pensado Ferraz, 67, superou o medo de mexer em computadores dessa forma. "Eu quase não dormia na véspera da aula de informática, de tão tensa que eu ficava", lembra ela, que participa dos programas que a Universidade Metodista oferece à terceira idade.

O medo foi passando à medida que ela descobria que a máquina era útil para coisas que ela gostava, como escrever e ler crônicas, procurar receitas e conversar com os parentes distantes. "Hoje, virou uma brincadeira", diz ela, que já começou a investir numa nova atividade: dançar forró e gafieira.

"Eu dançava com meu marido, mas era aquele "dois pra cá, dois pra lá". Sempre quis aprender uns passos diferentes, mas ele não queria fazer curso, nem de dança, nem de nada. Dizia que já sabia tudo o que tinha que saber. Acho que homens são um pouco assim mesmo."

A impressão que Maria José tem é confirmada pela experiência de quem trabalha na área. De acordo com Vitória Kachar, da PUC-SP, geralmente as mulheres correspondem a 90% dos alunos nos cursos para a terceira idade.

Há algumas explicações para isso, inclusive demográficas: existem mais mulheres do que homens na terceira idade, pois elas têm uma expectativa de vida superior à deles.

Outra questão, segundo Kachar, é que os homens geralmente tiveram a oportunidade de se realizar profissionalmente, enquanto às mulheres da geração passada cabia mais o cuidado com a casa e com os filhos. Isso faz com que elas cheguem à terceira idade com vontade de fazer tudo o que não puderam.

Gradativa

Embora a capacidade de aprender esteja presente durante toda a vida, a forma como a aquisição de novos conhecimentos ocorre sofre variações.

Um estudo da Universidade de Stanford com corujas jovens e idosas mostrou como isso ocorre. Os pesquisadores colocaram lentes nas aves, mudando o campo visual delas, e avaliaram o tempo que demoraram para se adaptar. As mais jovens se adaptaram rapidamente, mas as idosas não.

Quando a alteração foi feita aos poucos, as corujas mais velhas conseguiram se adaptar no mesmo tempo que as mais novas. "Isso mostra que, na terceira idade, a aprendizagem tem que ser gradativa, respeitando as etapas", diz Kachar.

A lentidão é compensada por outras facilidades, como uma maior flexibilidade de pensamento. "Em questões com várias opções, os mais velhos respondem melhor do que os jovens. Por serem menos impulsivos, eles demoram mais a responder, mas dão uma resposta mais completa", afirma Irani Argimon, da PUC-RS.

Para ela, porém, muitos educadores ainda não sabem como lidar com os alunos dessa faixa etária e têm atitudes --infantis ou condescendentes-- que acabam afastando-os das salas de aula. "Nossos alunos idosos são muito mais exigentes do que os jovens", conta Vilma Cristina da Silva Militão, coordenadora da unidade da Universidade Aberta à Terceira Idade da Unesp que fica no campus da reitoria. "Eles querem ser avaliados e não fazem corpo mole: querem sempre tirar nota dez."

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