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11/01/2007 - 10h52

Estimulação magnética pode tratar doenças psíquicas como depressão

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FLÁVIA MANTOVANI
TATIANA DINIZ
da Folha de S.Paulo

Imagine um aparelho que emite campos magnéticos 40 mil vezes maiores do que o campo magnético da Terra sendo direcionado para o seu crânio. Os pulsos produzidos por esse dispositivo penetram cerca de 3 cm em uma pequena área do cérebro.

Após uma série de aplicações, são capazes de gerar mudanças nos neurônios, ativando-os ou inibindo-os dependendo dos objetivos --que vão de tratar uma depressão a melhorar a criatividade ou a resistência.

Parece ficção científica, mas o procedimento acima já é realidade para alguns brasileiros. Chamado de estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr), o método já é aprovado para o tratamento de depressão em países como Canadá, Austrália e Israel.

No dia 26 de janeiro, a FDA (Food and Drug Administration), agência reguladora dos EUA, avaliará os resultados de estudos para decidir se libera o tratamento no país.

Por aqui, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamentou o uso do aparelho de EMTr em março de 2006. Há dois meses, após seis anos de pesquisa com o método, o Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo) decidiu liberá-lo para uso clínico em depressão.

O próximo passo será pedir a inclusão do tratamento no SUS e nos planos de saúde -atualmente, quem quer receber os pulsos magnéticos fora de protocolos de pesquisa precisa desembolsar R$ 300 por sessão.

Primórdios

Apesar da aplicação terapêutica recente, as origens da estimulação magnética remetem ao século 19. Já em 1896, o francês Jacques-Arsène D'Arsonval havia testado os efeitos do magnetismo sobre as emoções.

Por volta de 1940, os estímulos magnéticos eram pesquisados na fisiologia animal. Na década de 80, surgiram aparelhos semelhantes aos atuais --só eram usados, no entanto, para diagnósticos neurológicos.

Foi só em meados da década de 90 que o método passou a ser usado para tratar doenças.

Uma das vantagens da EMTr é a quase ausência de efeitos colaterais. Até agora, uma leve dor de cabeça que passa depois da sessão tem sido o único sintoma relatado --mesmo assim, só por alguns pacientes.

Isso tornaria a técnica útil para grávidas e lactantes, para as quais é mais delicado receitar medicamentos.

Diferentemente da ECT (eletroconvulsoterapia, também conhecida como eletrochoque), outra técnica não medicamentosa usada para transtornos mentais, as aplicações de EMTr são indolores.

"A ECT não exige cortes, mas demanda anestesia e o uso de remédios anticonvulsivos. Já a estimulação magnética não exige nada disso e tem mostrado a mesma eficácia", diz o psiquiatra Marco Antonio Marcolin, coordenador do grupo de EMTr do HC.

Os estudos com depressão --feitos principalmente com pacientes que não reagem a outros tratamentos-- são os mais numerosos e os que vêm conseguindo melhores resultados. "Há pouca informação consistente sobre indicações terapêuticas em outras áreas", afirmou à Folha um dos pioneiros na área, o psiquiatra americano Mark George, diretor do laboratório de estimulação cerebral da Universidade Médica da Carolina do Sul.

Mas já há trabalhos no Brasil e no mundo que avaliam os efeitos da terapia sobre a esquizofrenia, o TOC (transtorno obsessivo-compulsivo) e a epilepsia, entre outras doenças.

Na USP, acaba de ser concluído um estudo sobre o uso da EMTr em um tipo de dor crônica. Os resultados ainda não podem ser divulgados, mas Marcolin adianta que a eficácia foi boa. Ele vai pesquisar agora a eficácia do método para autismo, dislexia e transtorno de déficit de atenção.

Outro estudo do mesmo grupo vem acompanhando 20 pacientes de TOC resistentes a medicamentos. Uma parte foi submetida a sessões reais de EMTr; a outra, a simulações.

Segundo o autor da pesquisa, o psiquiatra Carlos Gustavo Mansur, os dados não são conclusivos. "Mas, na prática, observamos melhoras evidentes em alguns pacientes."

A coleta de dados deve ser encerrada em meados de 2008.

"Esperamos obter respostas seguras sobre a possibilidade de usar a técnica para TOC. Se as constatações forem positivas, creio que levará de cinco a dez anos para a EMTr chegar ao uso clínico", diz Mansur.

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