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08/02/2007 - 12h49

Parcela muito pequena da população tem alergia alimentar

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FLÁVIA MANTOVANI
da Folha de S.Paulo

Enquanto 20% da população altera sua dieta devido a reação adversa a alimentos, apenas de 6% a 8% das crianças e de 1% a 2% dos adultos realmente têm alergia alimentar. Ou seja, muita gente acha que tem a doença quando tem outro problema. "Tudo que aparece de diferente no organismo, principalmente manifestações cutâneas e gastrointestinais, é taxado de alergia. Isso é problemático porque muita gente restringe alimentos da dieta sem necessidade", diz a pesquisadora Renata Cocco.

É muito comum, por exemplo, que a intolerância a leite seja confundida com alergia. No primeiro caso, o paciente não consegue digerir um açúcar do leite, a lactose, pela falta de uma enzima que a degrada. Já na alergia, há um mecanismo imunológico envolvido. Como alguns sintomas são parecidos, por exemplo a presença de diarréia, muita gente confunde.

Para reduzir as confusões em relação ao diagnóstico e orientar os pediatras sobre a doença, a Sociedade Brasileira de Pediatria está finalizando um consenso sobre alergias alimentares. Previsto para março, trata-se do primeiro documento do gênero no país.

Também é comum que as pessoas confundam a fonte da alergia: o chocolate, por exemplo, é muito mais culpado do que deveria. Na verdade, o cacau não é muito alergênico. É o leite ou são as castanhas presentes em muitos chocolates que causam reações alérgicas.

A famosa alergia a corantes e a conservantes também precisa ser bem investigada. "Todo mundo acha que tem alergia a corante, mas isso não é tão comum quanto se pensa", afirma Jacob. Muitas vezes, é outro ingrediente do alimento o responsável pela reação.

Para complementar a história clínica no diagnóstico, os exames de sangue e o chamado teste de sensibilização são os mais usados. Neste último, extratos dos alimentos alergênicos são colocados na pele da pessoa. O médico faz um risco no local e, caso ela seja sensível àquele alimento, forma-se uma espécie de vergão.

O problema é que o fato de dar positivo nem sempre significa que a pessoa seja alérgica. É preciso cruzar esses dados com o relato do paciente para ver se ele é apenas sensível ou se tem sintomas de reação alérgica.

Considerado atualmente o exame mais eficaz na área, o chamado teste de provocação oral é oferecido em poucos centros. Nele, a pessoa ingere, na presença do médico, pequenas doses do alimento alergênico. Também é oferecido outro produto semelhante, mas que não é o alimento, para comparar os resultados. Por envolver riscos, esse teste só deve ser feito por profissionais especializados e em ambiente hospitalar.

Além de passar por um diagnóstico correto, é importante reconhecer os sintomas e aprender como agir numa reação grave. Uma pesquisa feita com pais de pacientes alérgicos do Instituto da Criança do HC mostrou que 50% não conheciam o significado do termo choque anafilático.

Entre os pais de crianças que freqüentavam a escola --18, no total--, cinco não haviam avisado a instituição sobre o risco e os primeiros cuidados em reações graves.

As reações mais leves --em geral manifestações gastrointestinais (como diarréias e vômitos) e dermatológicas (como inflamações na pele)--, podem ocorrer horas e até dias depois do consumo do alimento.

Já os sintomas graves vêm no máximo duas horas depois da ingestão de alimentos. Falta de ar, inchaço e desmaio costumam indicar choque anafilático. Nesse caso, é preciso ir correndo para o hospital. "Se tiver dúvida [sobre ir ou não ao pronto-socorro], vá", afirma Renata Cocco.

Aos 16 anos, a bancária Karen Roberta Firata, 20, teve os sintomas descritos acima cerca de 20 minutos depois de comer um prato com camarão. "Comecei a me coçar. O corpo inchou, o rosto e a garganta também. Fui ao hospital", conta.

Um tempo depois, Karen descobriu que tinha alergia também a lula. "Foi minha pior crise. Comi lula à doré num bar e, além de ficar inchada e com falta de ar, desmaiei", lembra.

A alergia ficou tão forte que ela não pode nem chegar perto dos frutos do mar. Uma vez, ela estava na cozinha ao lado de sua avó, que fervia camarões em uma panela, e os sintomas apareceram. "É incrível. Só de sentir o cheiro comecei a me coçar e a garganta inchou."

O mais curioso é que, até então, ela havia comido esses alimentos outras vezes sem problemas. Segundo a alergista Maria de Fátima Fernandes, o que acontece é que o organismo já suscetível vai se sensibilizando à medida que a pessoa consome o alimento ao longo da vida até gerar uma reação.

Por isso, quando há casos de alergia (não só alimentar) na família, os médicos recomendam que os pais não ofereçam precocemente os alimentos mais alergênicos ao bebê. "A prevenção começa com o aleitamento materno exclusivo, dando tempo para que o intestino da criança amadureça e consiga degradar bem as proteínas. O leite de vaca só deveria ser dado após um ano, e o ovo, após dois anos", recomenda Cristina Jacob.

Ambulatório de alergia alimentar do departamento de pediatria da Unifesp: tels. 0/xx/11/5576-4145 e 5579-1590
Grupo de atendimento a pacientes com alergia alimentar do Instituto da Criança do HC/USP tels. 0/xx/3069-8585 e 0/xx/ 3069-8512
Instituto Girassol (Grupo de Apoio a Portadores de Necessidades Nutricionais Especiais) www.igirassol.com.br


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