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19/05/2007 - 17h01

Donos perdem vergonha de fazer festa de aniversário para seus cães

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FABIANE LEITE
da Revista da Folha

Os balões devem ficar pendurados bem no alto, a salvo das dentadas dos convidados mais animados. No ambiente, o predomínio dos tons claros, para ninguém ficar estressado. E nada de música animada. No máximo, o som de um quarteto de cordas para garantir o mínimo de sossego.

Com a experiência das festas de aniversário para seu querido Apollo --um buldogue americano de dois anos-- e outros tantos eventos organizados para outros pets, a publicitária Marize Garrido, 30, dá a receita de uma boa festa para cachorros.

Leonardo Papini/Folha Imagem
Festa para o buldogue americano Apollo, 2
Festa para o buldogue americano Apollo, 2

Alvo de polêmica quando socialites lançaram a moda com seus cães, as celebrações para bichos não são mais motivo para vergonha. Marize faz quase um evento por fim de semana. Uma das principais escolas de adestramento da capital paulista realiza uma espécie de "rave" para bichos que aniversariaram a cada três meses. Entre quinta e sexta-feira, Clarismundo Milani, 64, chega a receber de cinco a oito encomendas de bolos de aniversário para bichos em sua padaria, a The Dog Bakery, especializada em guloseimas que podem ser degustadas pelos animais e donos, sem açúcar, fermento e à base de frutas (custam de R$ 45 a R$ 50).

Ao fazer um ano, Apollo recebeu 40 convidados, entre humanos e bichos, chamados por meio de convites personalizados com a foto do aniversariante. Havia balões, bolo, biscoitos, além de bandejas de comida exclusiva para os donos e "lembrancinhas". A de Apollo era um móbile.

"Vejo o Apollo como meu grande amigo, que me traz alegria. Quando estou triste, eu o abraço e melhoro. Quando fiz a festa de um ano, muita gente criticou, dizendo que eu era louca, que deveria aplicar o dinheiro. Mas eu o considero parte da minha vida. Cada um dá dinheiro para o que acha importante", pondera Marize, que junto com o marido gasta R$ 500 mensais com o cão.

No segundo aniversário de Apollo, mais comedido, havia só 15 convidados --e entre eles nenhum com olhar reprovador. Marize percebeu-se ali diante de um negócio promissor.

"As pessoas estão cada dia mais carentes, apegam-se mais ao cão do que ao ser humano", afirma.

Para Rodrigo Silva, coordenador de adestramento do Clube do Toddy, escola na zona oeste de São Paulo, muitos donos vêem na comemoração oportunidade para compensar o tempo que ficam afastados dos animais queridos por causa do trabalho. A escola estimula a participação nos eventos, que têm patrocinadores, show de cães dançarinos, bolo feito com ingredientes naturais e brincadeiras organizadas por monitores.

Veterinária, psicóloga e especialista na relação entre homens e outros animais, Hannelore Fuchs diz que não se surpreende mais com a inserção de bichos em eventos importantes para as pessoas.

"São exemplo da mudança de papel do bicho na sociedade, de uma função utilitária para o animal de estimação na acepção da palavra. Eles têm um valor cada vez mais importante para a saúde mental, substituem a falta de relações desse mundo virtual."

Foi para chamar alegria que a gerente de hotel Maria de Fátima Rodrigues, 51, de Porto Alegre, decidiu dar uma festa para sua poodle Marie. Foram R$ 2.500, gastos principalmente com comida importada para cães, como "chocolate que parecia chocolate". A família levou na gozação, diz Fátima. "Ajuda a espantar a depressão".

Leonardo Papini/Folha Imagem
Festa serve bolo de uva e biscoitos
Festa serve bolo de uva e biscoitos

Know-how e etiqueta

Donos e veterinários já desenvolveram um know-how e uma etiqueta para garantir que todos se divirtam nas cada vez mais comuns festas para a bicharada. Por exemplo, ninguém deve ir à festa sem guia.

A comerciante Laura Marques, 22, descobriu que as palmas do parabéns apavoram alguns bichinhos. Foi o caso de Francisco, sua calopsita (tipo de periquito) de dois anos --no adestramento do bicho, as palmas corresponderam ao "não".

O veterinário André Maldonado lembra que cachorros que não convivem com outros cães podem ficar extremamente estressados em uma festa. "Não dá para se esquecer de que o cão é territorialista." Outro problema são as guloseimas. Alguns bichos só comem ração e podem ter reações como diarréias até a alimentos naturais. "É bom perguntar ao veterinário o que ele pode comer na festa." Os bichos também só devem seguir para a festa se estiverem vacinados, livres de vermes e de banho tomado --pulgas também não são bem-vindas.

Não custa lembrar ainda que colocar chapeuzinhos, roupas apertadas e ficar diante de uma vela pode ser assustador para alguns animais, afirma o especialista em comportamento animal Mauro Lantzman. Para ele e outros veterinários, festa boa para bicho é fazer o que ele gosta --que tal um belo passeio ou uma brincadeira no parque? "Não tem festa boa, não é? Porque eles não precisam de festa", diz Lantzman.

 

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