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28/02/2002 - 08h25

Calvície pode dar primeiros sinais na juventude

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ANTONIO ARRUDA
free-lance para a Folha

É puro preconceito ou, no mínimo, ignorância achar que a careca é um estado típico de homens com mais de 50. A barriga pode até ser, mas as principais vítimas da calvície são os homens no auge da juventude. Entre aqueles com tendência genética, 80% desenvolvem a calvície entre 24 e 26 anos de idade; 15% apresentam os sintomas aos 17 anos, e uma minoria, 5%, tem de lidar com o problema depois dos 30.

Esses dados indicam que a associação idade avançada/calvície pode adiar um tratamento que, feito antes, pode evitar parte dos transtornos vividos por muitos dos que se deparam com a perda gradativa dos cabelos, a chamada alopecia androgenética (ou androgênica). Estima-se que ela atinja hoje, no Brasil, cerca de 40 milhões de homens.

De causa genética e hormonal -a pessoa já nasce calva-, ela é progressiva, podendo atingir diversos níveis e causar sentimentos que vão de uma simples insegurança ao desespero.

Dormir por duas semanas com a cabeça num nível abaixo do resto do corpo na tentativa de aumentar a circulação sanguínea; esmagar anticoncepcionais e acrescentá-los ao xampu ou comprar loções das mais diversas procedências na esperança de que, como num milagre, a calvície desapareça. Nada disso resolve, mas calvo angustiado tenta de tudo.

O publicitário Marcus Vinícius Brito da Costa, 34, tinha 20 anos quando percebeu que os cabelos do alto da cabeça estavam ficando fracos. Seis anos depois, já não conseguia mais esconder a calvície. "Foi terrível. Pensei que estava ficando velho antes da hora, e isso me incomodou muito", diz ele. A primeira dificuldade, diz ele, é aceitar que se está ficando careca: "Eu dizia para todos que não estava nem um pouco preocupado com isso, mas, na verdade, eu estava muito preocupado, desesperado mesmo".

"A insegurança por conta da calvície chegou a atrapalhar bastante meu dia-a-dia; se a pessoa me olhava muito na rua, eu já ficava "invocado", achando que ela olhava minha careca", conta o engenheiro agrônomo Luiz Cláudio de Almeida, 31. Isso começou aos 19 anos de idade, quando Almeida fez o primeiro dos três transplantes.

De acordo com o cirurgião plástico Benedito Figueiredo Filho, a maior parte dos que procuram atendimento médico (cerca de 70%) têm entre 17 e 26 anos, idade em que há grande afirmação da sexualidade. "É a fase das conquistas, e eles pensam que a calvície é um empecilho inaceitável", diz o médico.

Há homens que até se acham impotentes por conta da careca, outros reclamam de queda no desempenho profissional, conta o tricologista (especialista em pêlos) e diretor da Sociedade Brasileira para Estudos do Cabelo, Valcinir Bedin.

Até que se supere essa mudança indesejável na aparência (o que nem todos conseguem), o sujeito pode colocar em jogo muitas das atividades importantes de sua vida em função do distúrbio. "Quando fiz o segundo transplante, minha cabeça ficou cheia de cascas, ficou gordurosa, e o pessoal da faculdade zombava tanto que acho que "bombei" um pouco também por isso", conta Almeida, que pretende fazer ainda mais três intervenções.

Na contramão da turma de calvos que pedem socorro nos consultórios médicos, estão os carecas que decidem assumir o visual, como Brito da Costa: "Peguei a máquina e raspei. As pessoas disseram: você está melhor assim. Então mantive".

A alopecia androgenética é resultado de um processo intracelular, que ocorre no folículo piloso e acomete tanto homens (a maioria) como mulheres.

E o cabelo não cai de uma só vez. Ele sofre um processo chamado de miniaturização: cada vez que há uma troca, nasce um fio mais fino e fraco, até que se chega no chamado fio inviável, explica Bedin.

Todas as pessoas possuem enzimas 5-alpha-redutase tipo 2 no organismo, responsáveis pela transformação de testosterona em dihidrotestostetora (DHT). Essa última é a substância responsável pela miniaturização dos fios de cabelo. Quando nasce com predisposição genética para a calvície, o indivíduo possui mais enzimas 5-alpha-redutase tipo 2 e mais receptores de DHT do que os que não têm a influência genética.

A consequência é a perda gradativa dos fios, em níveis que podem variar da queda nas entradas (região frontal) até a eliminação de todos os fios da parte superior da cabeça.

Não é possível determinar o espaço de tempo entre a fase de miniaturização dos fios e a calvície total. "Isso depende diretamente do tipo e da quantidade de genes para calvície que o indivíduo possui. Uma pessoa pode atingir seu nível máximo em dois anos, outra em cinco, outra em dez", diz Bedin.

Sobre o diagnóstico da alopecia androgenética, existem duas maneiras de fazê-lo. Primeiro, por meio do padrão clínico, ou seja, da observação das entradas e da parte superior da cabeça (que inclui a chamada coroa do padre). Posteriormente, por meio de biopsia de um fragmento do couro cabeludo, em que o patologista vai avaliar e identificar a presença das enzimas.

Números

  • Estima-se que existam cerca de 40 milhões de homens calvos no Brasil

  • No mundo, há cerca de 2 bilhões de pessoas calvas (5% são mulheres)

  • Até os 50 anos de idade, 50% dos homens brasileiros ficam calvos

  • Até os 80 anos, 80% dos homens brasileiros desenvolvem a calvície

  • No mundo, 15% dos homens que nascem com predisposição genética para calvície vão desenvolvê-la a partir dos 17 anos; 80%, entre 24 e 26 anos; e 5%, após os 30 anos de idade

  • Em cada 100 homens calvos, 50 são brancos, 30 são amarelos e 20 são negros

  • Uma pessoa possui, em média, de 100 mil a 120 mil fios de cabelo

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