Folha Online Ilustrada Cidade de Deus
Cidade de Deus

Filme é retrato fiel da guerra do tráfico em núcleo habitacional carioca

da Folha Online

O longa-metragem "Cidade de Deus" (Brasil, 2002, 130 min) mostra um retrato da guerra civil que ocorre nos morros cariocas pela disputa do tráfico.

O longa-metragem, que tem 130 minutos, estréia no próximo dia 30 em 90 salas do país. Para filmar "Cidade de Deus", a produção não conseguiu entrar em todos os pontos da favela, um sinal que o poder do tráfico impera no morro carioca.

"Cidade de Deus" é baseado no livro homônimo do escritor Paulo Lins, que lançou a obra em 1997. O filme é dividido em três fases distintas (anos 60, 70 e 80), que mostram a evolução do tráfico e as opções que os meninos da favela fizeram até se tornarem os maiores traficantes do Rio de Janeiro ou trabalhadores honestos.

Construída pelo governo de Carlos Lacerda entre 62 e 65 na zona oeste do Rio de Janeiro, a Cidade de Deus é um núcleo habitacional que foi povoado por moradores de áreas atingidas pelas enchetes mais fortes que a cidade já enfrentou em sua história.

O longa-metragem saiu da experiência de um curta-metragem, "Palace 2", feito para ser exibido na TV a pedido de Guel Arraes. "Palace 2", premiado em Berlim, foi filmado na própria Cidade de Deus, ao contrário do novo filme, que não foi filmado totalmente no local por questões de segurança.

O filme de Fernando Meirelles foi feito no conjunto habitacional Nova Sepetiba, construído há pouco tempo, e que reproduz a Cidade de Deus dos anos 60, com baixa ocupação. A segunda fase foi filmada na Cidade Alta, onde também há tráfico de drogas, e a terceira, foi feita em estúdio e em partes da Cidade de Deus, com atores desconhecidos do grande público -com exceção de Matheus Nachtergaele.

"Cidade de Deus" põe armas nas mãos de crianças e, mais do que um filme forte -com palavrões, gírias e cenas de consumo de drogas e assassinatos- é real, apesar de parecer exagerado. Mostra que há, sim, uma guerra civil nos morros cariocas, onde se mata a qualquer hora pelo poder no tráfico.

O filme chega a limites éticos nada mais reais que os já existentes na vida dos moradores das favelas. Põe bandido do lado de bandido, mas cada um com sua opção. Mostra que o tráfico é lucrativo, mas que a vida se torna curta. Impõe toques de silêncio e incita à reflexão.

Retrato mais próximo do panorama atual, o filme faz história no cinema brasileiro, mesmo tendo sido realizado por um paulista- por chegar tão no cerne da violência e do tráfico de drogas no Rio de Janeiro. É uma espécie de documentário, que todo brasileiro deve assistir.


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