Mundo

Guerra do Iraque

18/03/2003

Petróleo: o combustível da guerra no Oriente Médio

TONI SCIARRETTA
Editor de Economia da Folha Online

Combustível histórico de guerras no Oriente Médio, o petróleo é apontado como um dos maiores interesses da atual cobiça dos Estados Unidos no Iraque.

Em seu livro ‘Fonte de Guerra: O Panorama do Conflito Global‘, o professor Michael Klare da Amhrest University, afirma que as guerras no Oriente Médio tiveram como pano de fundo a disputa pelo controle do petróleo. Como exemplo, cita guerras como a do Yom Kippur (1973), Irã-Iraque (1980-1988) e a do Golfo (1991).

Aos fatos: as reservas mundiais de petróleo conhecidas hoje são suficientes para só mais 40 anos -isso se o consumo continuar no mesmo ritmo, o que é improvável; desde a primeira crise do petróleo, em 1974, o mundo procura novas fontes energéticas e desenvolve máquinas mais econômicas.

O Oriente Médio detém cerca de 75% dessas reservas mundiais conhecidas de petróleo. O restante está distribuído entre Venezuela, Rússia, EUA, Líbia, México e restante do mundo, Brasil incluso.

Apenas o Iraque tem a segunda maior reserva mundial de petróleo -atrás apenas da Arábia Saudita, com uma reserva de 261,8 bilhões de barris. As reservas comprovadas do Iraque são de 112,5 bilhões de barris, mas estima-se no mínimo mais 100 bilhões em reservas não-comprovadas.

Isso porque o país suspendeu todo o investimento na descoberta e exploração de petróleo desde 1991, com o embargo imposto pela ONU, após a invasão do Kuait.

Especialistas do setor, entre eles a Agência Norte-Americana de Petróleo, estimam em mais 200 bilhões as reservas do Iraque, o que levaria o país a se tornar a maior matriz energética do mundo neste século. Ou seja: com as reservas iraquianas, o mundo ganharia mais 40 ou 50 anos de petróleo e os EUA, quase um século de importação.

EUA x França + Rússia

Os iraquianos sabem disso e tentaram sozinhos, em meio ao embargo da ONU, implementar seu próprio programa para duplicar essas reservas em uma década.

As companhias como melhores condições para entrar no Iraque são a francesa TotalFinaElf e a russa Lukoil -curiosamente, de países que foram contra e tentaram vetar o conflito.

Com essas empresas, o Iraque já tem acordos da ordem de US$ 40 bilhões para exploração de petróleo. Para colocar os planos em prática, essas empresas só estavam esperando o fim do embargo.

A guerra, porém, coloca dúvidas sobre a validade desses contratos num regime pós-Saddam. Uma vez terminada a guerra, é provável que as gigantes norte-americanas ExxonMobil, ChevronTexaco e ConocoPhillips como também as britânicas British Petroleum e Shell reivindiquem sua parte no latifúndio iraquiano.

Entre as propostas discutidas, está a de que as empresas norte-americanas e dos aliados dividam entre si a exploração dos recursos petrolíferos do Iraque. Mas dificilmente os EUA conseguirão impor isso ao Iraque pós-Saddam pois enfrentaria oposição tanto dos países árabes quanto dos que foram contrários à guerra.

O mais provável é que o petróleo continue sendo propriedade iraquiana, porém, com a exploração nas mãos das grandes empresas estrangeiras.

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