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Entrevistas

Zumbano e Newton Campos relembram façanha do boxe

Folha Imagem
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática da Folha de S.Paulo

O boxe brasileiro preparou-se para o Pan de 1963 acreditando em muito ouro, mas uma gripe detonou a resistência dos atletas. No final, apenas três subiram ao ponto mais alto do pódio: o peso pena Rosemiro Mateus Santos, conhecido como "Pelé", o pegador Elcio Neves, médio-ligeiro, e o astuto Luiz Leonidas Cesar, peso-médio. Conquistaram a glória amadora, mas suas carreiras não seguiram à frente e hoje, mesmo nas entidades de boxe, pouco se sabe sobre o destino daqueles campeões. Para falar sobre eles, então, ouvimos duas figuras que se confundem com a história desse esporte: o ex-atleta e técnico dos campeões de 63 Valdemar Zumbano, da dinastia que deu ao Brasil Eder Jofre, e o dirigente esportivo Newton Campos, hoje presidente da Federação Paulista de Boxe e vice-presidente honorário e vitalício do Conselho Mundial de Boxe. Acompanhe a seguir as histórias que eles contam.

Folha: Por que o senhor foi escolhido técnico da equipe brasileira de boxe para os Jogos Pan-Americanos de 63?
Zumbano: Foi merecimento, eu acho, por que eu tinha vencido, como técnico, todos os campeonatos que a minha equipe havia tomado parte. Foi esse o motivo principal de eu ter sido técnico do Pan-americano.

Folha: E nos Jogos, como foi a escolha dos atletas que foram representar o Brasil?
Zumbano: Foi por merecimento, não é? Os que vencessem o Campeonato Brasileiro e o Sul-Americano credenciavam-se para o Pan-Americano. E então eles foram escolhidos para o Pan. Até as lutas foram na faculdade, na USP. Montaram um ringue lá e fizeram as lutas, porque tinham tanta confiança nos jurados e nos juízes que preferiram também cercar de conhecedores para evitar que houvesse uma sacanagem qualquer, não é?

Folha: Os jurados e os juízes eram de vários países, não é?
Zumbano: É, de vários países. Mas eles eram muito chegado um ao outro, não é? Chegado e muito. Chegavam até combinar resultado. Coisa que é um crime, não é? Quer dizer, um ganha a luta e passa para o outro ou dá empate? Naquele tempo tinha empate, agora não tem mais empate, não é?

Folha: O senhor poderia falar o que lembra dos atletas campeões? Começamos com o Rosemiro Mateus Santos, o Pelé.
Zumbano: O Rosemiro era um grande boxeador. Tinha um jogo de pernas que bem poucos boxeadores tiveram no mundo, não é? Jogo de perna. Rosemiro Pelé dos Santos. No duro mesmo, o Pelé, não perdeu nenhuma luta.

Folha: O senhor lembra de alguma luta dele ali nos Jogos que foi mais emocionante, que foi mais difícil?
Zumbano: Pois é, uma que ele venceu deu empate. O juiz muito vivo saiu do ringue, xingou, não é? E desceu do ringue, quer dizer, estava errado o resultado, mas ficou por isso mesmo. Não adianta nada.

Folha: Mas ele levou a vitória?
Zumbano: Levou, levou.

Folha: E qual eram suas principais qualidades?
Zumbano: O jogo de pernas e a esquiva, não é? A esquiva completa e a esquiva simples. Meia esquiva e esquiva completa. Ele, realmente, dá o soco e passa por dentro, por baixo da mão do outro, não bate, não é? Ele passa por baixo da mão assim e ó, tá, beleza.

Folha: Bom, o Élcio Neves, o que o senhor lembra do Élcio Neves?
Zumbano: Ah, o Élcio Neves era violento. O Élcio Neves era um cara muito violento. Não era boxeador, jogava bem. Então, ele arrancava a cabeça ou não.

Folha: Estilo Mike Tyson?
Zumbano: Guardadas as dimensões, violento.

Folha: O senhor lembra de alguma luta dele que foi mais dramática, importante?
Zumbano: Ah, foi uma luta interessante, não lembro o nome do adversário, mas ele se esquivou de vários golpes, não é? Mas o último errou, não conseguiu escapar, esse foi fatal. O Neves ganhou a luta.

Folha: Bem, o terceiro que ganhou o ouro foi o Luís Leônidas César?
Zumbano: Desse eu não me lembro.

Folha: E para o senhor, o que lhe vem à memória quando se fala dos Jogos de 63?
Zumbano: Vem à minha memória a luta do João Henrique. A luta do João Henrique, foi um fenômeno. Esquivou, esquivou, esquivou, pum, derrubou o outro.

Folha: E o João Henrique esse ganhou prata, não foi?
Zumbano: Ganhou prata. Ele ganhou três medalhas, ganhou de prata, de bronze e tinha uma outra. Ele foi o mais destemido, lutou mais bonito.

Folha: E o momento mais triste? No Pan ou na sua carreira?
Zumbano: Acho que foi a derrota minha mesmo, ouviu? Essa foi contra um italiano chamado Benjamino Ruta. Ele me quebrou a cara, eu sofri.

Folha: E qual o momento mais bacana de sua carreira?
Zumbano: Foi quando eu ganhei o título brasileiro, gozado, não é? O título brasileiro, o campeão era do Rio de Janeiro, como é que ele chamava? Mateus de Souza Lima, não me lembro. Infelizmente, não me lembro.

Folha: Mas lembra da luta, não é?
Zumbano: Lembro, lembro e aí qual foi o seu golpe que... eu estava no corpo a corpo tá, tá, tá, corpo a corpo eu junto não é? dei um passo para a frente pum,... pom. Aí virei, caí em cima dele também, também me estrepei. Puxa vida... não dá para lembrar tudo, não é?

Folha: Mas está bom, o senhor lembrou bastante coisa. O que o boxe representa para o senhor?
Zumbano: O boxe é arte de esgrimir com os punhos. O boxeador é um espadachim com os punhos.

Folha: Como foi sua participação na organização da delegação brasileira de boxe que participou do Pan de 1963?
Campos: Era diretor técnico da Federação Paulista de Boxe, mas quem dominava o boxe no Brasil e ainda domina é São Paulo. Então, toda organização ficou afeta a São Paulo porque o evento foi aqui. Nós escalamos uma equipe, depois de várias eliminatórias, eu estive à testa de tudo isso. O presidente era uma grande figura, coronel Vicente Saguas Presas Júnior, ele era diretor de Trânsito e o prestígio dele também dava condições para que o boxe ganhasse maior evidência, compreende?

Naquela época, havia menos categorias do que agora, parece que tinha oito ou nove; hoje tem 12 no boxe amador. No profissionalismo, então, foi uma loucura, subiu um monte de categoria, hoje tem 17.

Bom, então, formamos uma boa equipe, preparamos, depois nos concentramos aqui na Willys Overland, que era uma firma de automóveis, a Willys, não é? E a concentração era excelente, era aqui em Diadema, um lugar muito bonito e aprazível. Ficamos lá treinando durante 45 dias, nos preparando como nunca, com toda equipe bem alimentada, uma boa estrutura. A gente tinha todo interesse de fazer o melhor porque um evento como esse em São Paulo, Pan-Americano, em São Paulo, para nós valia tanto quanto uma Olimpíada, não é?

Bom, resultado, a equipe realmente era boa e começamos a participar. Eu ia lá todo dia. Eu ia lá voltava para o jornal, saía do jornal voltava para lá, às vezes, dormia lá, porque eu queria estar acompanhando tudo, porque eu era responsável pela parte técnica. Nós tínhamos dois excelentes técnicos, Valdemar Zumbano e Antônio Carolo. Todo mundo dando a sua parte para que a equipe se portasse com galhardia nos Jogos Pan-Americanos.

Folha: E como eram os ganhadores do ouro? vamos começar pelo Rosemiro Mateus Santos, apelidado de Pelé?
Campos: Ele era peso-pena. Ele participava dos campeonatos promovidos pela Federação Paulista de Boxe, ganhava todos os títulos e se classificou facilmente como representante do Brasil para esses Jogos Pan-Americanos.

Ele era da Associação Atlética Matarazzo. Ele realmente tinha um talento, ele era um cara como hoje o Robinho é para o Santos. Ele era um virtuose dos punhos, pela habilidade dele, pela forma cadenciada como lutava boxe, com movimentos harmoniosos. Ele era um craque mesmo e ele se tornou campeão da categoria peso pena, mas nos deu muito trabalho, ouviu?

Folha: Por quê?
Campos: Porque na rodada final ele me aparece, a pesagem era feita lá na Cidade Universitária, que hoje é USP, não é? Era feita lá a pesagem. Então, a gente tinha que sair da Willys Overland, mas nós tínhamos todas as condições para ir pesar lá, porque as outras delegações estavam todas concentradas lá. Então, nós tínhamos que sair de lá e o Rosemiro Pelé dos Santos cometeu uma imprudência de levantar à noite para comer algo que ele não devia comer, bolo e tal e ele passou do peso, compreende? Ele tinha que dar 57 kg, ele passou muito do peso. Porque na hora da pesagem, eu não tinha visto, não sabia, depois que fui saber que ele levantou de madrugada para comer bolo, onde já se viu. Bom, resultado: ele passou do peso. Mas tinha duas hora para extrair o excesso e nem queira saber que loucura, rapaz. Uma hora depois que ele estava fazendo exercício, pulando corda e o diabo, ela ainda estava passando 500 gramas a mais, e o adversário era um argentino. E o argentino não queria nem saber: "Não, ele tem que dar o peso, senão quem vai ser campeão sou eu".

Folha: Isso era para a luta final?
Campos: É, rodada final. E todas as rodadas foram no ginásio do Pacaembu. Bom, aí ficamos atrás dele e, meu Deus do céu, aí ele, quando faltavam dez minutos para encerrar a pesagem, ele voltou para lá e estava passando 200 gramas a mais. No que ele está passando 200 gramas, o argentino falou, eu falei: "Pô, mas tenha paciência, 200 gramas, ele já se..." E o argentino: "Não, não, tem que tirar os 200 gramas, tem que tirar". Aí houve um reboliço. Bom, resultado: para eu convencer os argentinos foi um caso muito sério.

Eles não queriam nem saber. O campeão era ele e o Rosemiro dos Santos teria que se contentar com o título de vice-campeão, ele ia perder sem lutar. E eu expondo que isso não era glória nenhuma, ganhar sem lutar. Que a glória se consegue em cima do ringue, não através dessas coisas que estavam acontecendo. E eu sempre me dei muito bem com os argentinos, porque eu não tenho problema nenhum de falar espanhol e falava no espanhol deles e até na gíria deles porque eu passei muito tempo na Argentina e aprendi tanta coisa. Bom, resultado, eu consegui convencer, eles me assinaram um documento e tal. A luta aconteceu e ele ganhou e ganhou espetacularmente.

Folha: O senhor lembra algum detalhe da luta?
Campos: Lembro, tecnicamente, o argentino vinha em cima furiosamente, ele saia e contragolpeava. Eram três rounds de três minutos cada round aquele tempo, hoje são quatro rounds de dois minutos. Bom, então a gente não vinha, vinha, depois no último round o argentino parou de vir e tentou atiçar o Rosemiro para atirar primeiro os golpes para ele contragolpear. Ele tentou fazer isso, mas o Rosemiro deu um baile nele, que Nossa Senhora!, quase cai o Pacaembu. Ele ganhou por decisão unânime. Então, foi a primeira medalha categoria de peso pena.

Folha: E o que aconteceu com o Rosemiro depois?
Campos: Não, nem sei mais da vida dele, meu Deus, ele andou encrencado, briga com a mãe, briga com a família, se meteu em encrenca ai, ele tomava conta de um estacionamento, depois nós não soubemos mais do paradeiro dele, depois que ele passou a profissional e andou perdendo lutas. Nós perdemos o contato.

Folha: Então aí foi o Rosemiro?
Campos: Rosemiro, o primeiro, mas, abrindo um parênteses, vou lhe contar o seguinte: faltando uns quatro dias para terminar o Pan-Americano, grassou uma gripe lá na concentração da Willys Overland, começando com o peso mosca.

Ele devia ter sido retirado do grupo e ser tratado particularmente, mas isso não foi feito, compreende? Não entendi até hoje por que não foi feito e todo mundo ficou gripado. Para curar a gripe de uma equipe completa, não foi brincadeira. Alguns conseguiram até reagir e se colocar mais ou menos dentro da melhor condição física deles. Mas outros, não, outros ainda lutaram com o problema de gripe e não produziram o que sabiam. Então, nós tínhamos como favas contadas mais umas duas ou três medalhas de ouro, mas a gripe tirou deles a melhor condição atlética.

Bom, mas mesmo assim o Pelé ganhou. O Pelé teve esse problema, mas superou todos os problemas, o Pelézinho ganhou. Depois veio o Élcio Neves, Médio-Ligeiro. O Élcio Neves, ah, meu Deus do Céu.

Folha: Ele era da onde?
Campos: Ele era do Wilson Russo, era um clube de São Paulo. Todos eles de São Paulo. O Wilson Russo era uma academia, que era na rua da Consolação, quase esquina com a avenida Ipiranga. Ele era um cara agressivo, que ia para a frente sempre, não tomava conhecimento dos golpes que vinham de lá. Ele foi na final contra um pugilista do Peru, que era também um cara, uma surpresa no campeonato. Foi uma luta fantástica, começou perdendo o Élcio Neves. O público sempre lotando o Pacaembu, e o Élcio Neves, no último round conseguiu acertar o peruano, o peruano foi para a lona, quase cai o ginásio. O peruano levantou, ele foi em cima, aí ele foi destruindo o peruano, mas ganhou por pontos destacado, aí foi unanimidade.

E o terceiro foi o Luís...

Folha: Luís Leônidas César?
Campos: Não, ninguém falava Leônidas, era Luís César só. Peso médio, 75 kg, ele também fez um belíssimo campeonato. Tecnicamente muito bom, muito comedido, não fazia nada que os técnicos não mandavam. Ele não desobedecia nada, ao contrário, ele era um religioso nas táticas do boxe, então era um tal de bater e não receber. Era um astuto em cima do ringue e com essa astúcia toda, ele chegou ao título da categoria de peso Médio, batendo, inclusive, um americano, que não era fácil ganhar de americano.

Folha: Por quê?
Campos: Porque americano sempre é americano, e naquele tempo os americanos também se dedicavam muito ao boxe amador. Hoje, não, hoje eles não ligam mais, o negócio deles é profissional. Bom, mas ele ganhou do americano e o resultado foi unânime também, chegou dar uma queda no americano e veio a terceira medalha..

Folha: Então todas as vitórias foram por pontos?
Campos: Foram por pontos porque numa final se equilibram muito as forças, porque quem chega a uma final é porque é bom. E quando os dois são bons é difícil ganhar por nocaute. Eles têm recursos para evitar o nocaute.

Folha: Todos eles lutaram o mesmo número de lutas ou não?
Campos: Mais ou menos o mesmo número de lutas. Teve algumas categorias que tinha mais pugilistas então tiveram que lutar mais. Por exemplo, a categoria do Élcio Neves teve que lutar mais, ele pegou cada parada, mas a raça dele era impressionante.

Folha: O mais forte, o que batia mais era o Élcio Neves mesmo, não?
Campos: É, ele era o mais pegador da equipe porque a mão dele era muito pesada.

Folha: Apesar de ele não ser o maior?
Campos: Não, não era o melhor pugilista. Um dos melhores pugilistas talvez tenha sido o João Henrique. O João Henrique que chegou a disputar o título mundial quatro vezes. O João Henrique deu um azar danado porque a gripe pegou ele forte. Ele não conseguiu se recuperar e acabou perdendo para o cubano Roberto Caminero, eu lembro bem. O João Henrique vinha vindo muito bem, mas acontece que ele enfrentou o cubano. O cubano não tinha o boxe que tem hoje, não é? Naquela época, em 63, ainda não tinha a estrutura que tem hoje, mas tinha bons lutadores. Então, ele perdeu para o Roberto Caminero porque ele não tinha força para lutar boxe.

Folha: Ele levou a prata, não? Acho que ele é o pugilista destacado por Valdemar Zumbano?
Campos: Era, apesar de ele ser o técnico da seleção, ele não era o técnico do João Henrique nas competições aqui em São Paulo. Ele era técnico do Luís César, mas o Zumbano gostava muito dele, porque ele tinha um estilo que o povão gostava, não é? Ia para frente oferecendo espetáculo. Se expunha também porque se quiser oferecer espetáculo tem que se expor mesmo. E, ele se expunha, mas ele dava um grande show. Agora, sem condições até quase não poder lutar, o médico queria suspender, não queria deixar porque ele estava em estado febril. Enfim, ele foi, lutou, se sacrificou, mas, ele não era o João Henrique que a gente conhecia e acabou perdendo.

Folha: Perfeito, o senhor sabe o que aconteceu com esses três que ganharam o ouro?
Campos: No profissionalismo, não chegaram a se projetar. O Pelézinho chegou a pintar, mas ele perdeu feio de um argentino, Carlos Cañete, quando ele estava disputando o título sul-americano. Ele perdeu feio, não se sabe o que aconteceu com ele, perdeu no primeiro round. Então, aí ele começou a se apagar. No profissionalismo, não chegaram a se projetar. Não chegaram, mas geralmente chega, heim? É que hoje é mais profissionalismo do que amadorismo. É, pelo seguinte: todo mundo quer ser Popó, não é?

Folha: Claro.
Campos: E é muito natural. Popó comprou casa para a mãe dele, comprou casa para todos os irmãos dele, está numa situação boa e a tendência é melhorar ainda mais. Então, ninguém está pensando em medalhinha, porque medalhinha não enche a barriga de ninguém. É bonito, é maravilhoso, mas, espera aí, não adianta porque não vai resolver a vida de ninguém.

Folha: Para eles também não resolveu, não é? Ganharam a medalha e depois continuaram a vida como sempre, não é?
Campos: Não adianta, essas medalhas são bonitas simbolicamente. É maravilhoso você ganhar uma medalha no Pan-Americano, especialmente, numa Olimpíada ou então num Campeonato Mundial, mas, falando de maneira mais positiva, aquilo que eles precisam mesmo, essas medalhas não resolve nada. Tanto é verdade que você vê o Brasil conseguiu quatro títulos mundiais no boxe profissional: dois com Éder Jofre, um com Miguel de Oliveira e agora com o Popó em duas divisões, não é? Quatro títulos mundiais. No entanto, nem Éder Jofre, nem Miguel de Oliveira e nem Popó foram campeões olímpicos. Está aí o maior exemplo. Olimpíada para o Brasil não adianta, porque nós não temos tradição olímpica e nem tampouco o sistema de luta. O brasileiro não se adapta ao boxe olímpico porque o brasileiro quer dar espetáculo, e o estilo exigido pela Associação Internacional de Boxe Amador, que controla as Olimpíadas e Pan-Americanos, é um estilo muito diferente, é toques. Pura e simplesmente toques, que não é o boxe que o povão quer ver.

E como o lutador amador está visando o profissionalismo, ele quer sempre ser um boxeador se preparando para ser profissional. Então, ele não vai nunca se adaptar ao sistema olímpico. O sistema olímpico é bom para aqueles que não têm profissionalismo, como é o caso de Cuba. Cuba não tem profissionalismo. Então, eles começam a treinar desde a sua tenra idade no estilo olímpico, não o estilo que o povão gosta de ver.

E-mail: rlucena@folhasp.com.br

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