Folha Online 
Esporte

Em cima da hora

Brasil

Mundo

Dinheiro

Cotidiano

Esporte

Ilustrada

Informática

Ciência

Educação

Galeria

Manchetes

Especiais

Erramos

BUSCA


CANAIS

Ambiente

Bate-papo

Blogs

Equilíbrio

Folhainvest em Ação

FolhaNews

Fovest

Horóscopo

Novelas

Pensata

Turismo

SERVIÇOS

Arquivos Folha

Assine Folha

Classificados

Fale com a gente

FolhaShop

Loterias

Sobre o site

Tempo

JORNAIS E REVISTAS

Folha de S.Paulo

Revista da Folha

Guia da Folha

Agora SP

Alô Negócios

Pan-Americano 2003

Entrevistas

Atletas do pólo aquático falam da conquista do Pan de 63

Eduardo Knapp/Folha Imagem
RODOLFO LUCENA
Editor de Informática da Folha de S.Paulo

Na minha garimpagem de medalhistas de ouro, encontrar a turma dos vitoriosos no pólo aquático foi tarefa das mais simples. Depois de um ou dois telefonemas, cheguei ao Pinheiros, clube que era a Meca dos aquapolistas de 63. Sócios e atletas, eram também amigos fora das quadras e até hoje vários deles ainda se encontram para bater uma bolinha.

Rapidamente montamos uma mesa-redonda com quatro dos sete titulares da equipe campeã. Em uma tarde de setembro do ano passado, eles relembraram a conquista, com especial carinho pela vitória sobre a Argentina. Deixo que Paulo e Ivo Carotini, Luís Eduardo Pinheiro Lima e Flávio Ratto contem suas histórias.

Folha: Paulo Carotini, como o senhor começou sua carreira no pólo aquático e por que foi convocado para a seleção brasileira?
Paulo: Meu nome é Paulo Carotini, Polé, nasci em São Paulo, em 10 de setembro de 1945 e tivemos a vida inteirinha voltada para o Clube Pinheiros. Iniciando muito cedo a prática dos esportes, nos tornamos logo participantes polivalentes das modalidades esportivas que o Pinheiros disputava. Com isso adquirimos uma convivência esportiva que nos fez, logo após a passagem da participação em competições de natação, nos dedicarmos, devido à identificação maior, ao pólo aquático.

Folha: Com que idade começou no pólo aquático?
Paulo: Com 15 anos, e dada essa abnegação e algumas qualidades, nós conseguimos nos sobressair, a ponto de ser convocados para a seleção adulta, apesar da pouca idade, para já disputar torneios internacionais. No nosso tempo, não havia aquela classificação sub-15, sub-17, sub-20. Ou você integrava a seleção brasileira ou não, e nós tivemos essa felicidade de, muito jovem, integrar a equipe nacional adulta. Então, já a nível de competições internacionais, começamos a nossa empreitada em 1962, em Antofogasta, no Chile, saindo o Brasil campeão sul-americano. Em seguida, veio o Pan-Americano, em que nós fomos medalha de ouro em 1963, e aí cresceu no, vamos dizer assim, corpo de títulos e participações até atingirmos os Jogos Olímpicos de 1964, em Tóquio. Dessa forma, nós conseguimos angariar uma série de títulos, angariamos um know-how de vida, embasado no esporte, sabendo que nossa vida esportiva foi embasada no pólo aquático. Passamos, então, quando deixamos a prática como jogador, a assumir o cargo de treinador da seleção brasileira, também amealhamos alguns títulos.

Folha: Isso quando?
Paulo: Em 1977, 78, 79 e 80, tivemos a participação como técnico em alguns campeonatos internacionais e depois a parte empresarial nos tomou o tempo, onde, também norteado pela prática do esporte, nós fundamos as Academias Polé de Natação e Pólo Aquático, que perdurou por quase 14 anos, e assumimos cargos diretivos na Federação Paulista de Natação, da Confederação Brasileira de Natação, da Consanat (Confederação Sul-americana de Natação), da UANA, que são as três Américas, até atingirmos um posto no Comitê Técnico da Fina (Federação Internacional de Natação), mas o mais importante disso tudo, Rodolfo, foi o que conseguimos amealhar durante todos esses anos, que é, sem dúvida nenhuma, a maior riqueza do ser humano, que é conhecimento com as pessoas, conhecimento travado com os amigos, os participantes dessas equipes, conhecimento esse que se tornou mais além do que simples amizade. Já dentro da equipe, de todo esse currículo aí eu contava com meu irmão de pai e mãe, que é o Ivo, que também se tornou medalhista de ouro e amealhou muitos títulos, mas nós conseguimos agregar a isso tudo vários irmãos de sangue, que mantemos até hoje um grande carinho, uma grande amizade e consideramos isso a maior herança que podia, vamos dizer assim, somar na nossa vida, deixada por essa medalha de ouro, do Pan-Americano de 1963.

Folha: Qual era sua posição na seleção?
Paulo: Atuei sempre, do começo ao fim, como beque central, tal qual no futebol. Era a posição com que me identificava melhor e, por coincidência, fazíamos, sempre fizemos, como tática de jogo, algumas trocas de marcação com esses dois queridos companheiros de equipe que são o Luís Eduardo e o Ivo.

Folha: Aproveito para dar espaço para que o Luís Eduardo se apresente?
Luís Eduardo: Luís Eduardo Pinheiro Lima, eu venho de uma família de aquapolistas. Meu pai já jogava water pólo pelo Tietê nas décadas de 40 e 50. Eu praticamente quase nasci dentro de uma piscina, pois minha mãe estava assistindo ao jogo do meu pai no Tietê e saiu de lá para a maternidade. Então, praticamente, quase nasci dentro da piscina.

Folha: Isso foi quando?
Luís Eduardo: Isso foi no dia 7 de dezembro de 1944. De lá para cá, eu vim sempre na vida esportiva, dentro do Pinheiros, onde angariei amizade com diversas pessoas aqui e onde me afinei mais com esse grupo do pólo aquático. Nós começamos muito cedo, começamos na natação, depois viemos para o pólo aquático. Era um grupo formado de pessoas mais ou menos da mesma idade, que moravam nas cercanias do clube. Então, a gente levantava, almoçava, jantava e dormia o mesmo grupo, às vezes um na casa do outro, não tinha mais fronteiras nas nossas casas. Então, nós fomos educados basicamente juntos. E daí floresceu uma equipe de pólo aquático, que veio desde o juvenil e num determinado momento ela se igualou à primeira equipe do Pinheiros, representada pelo Flávio Ratto, pelo João Gonçalves, naquela época; o Pinheiro chegou a ter duas equipes de primeira divisão. E isso se fundiu em 1963 para nós sermos selecionados para o Campeonato Sul-Americano e, posteriormente, Pan-Americano, fundindo a experiência dos antigos com os novos, que éramos nós. Aí juntou uma experiência internacional do Aladar Szabo, João Gonçalves, Marvio Kelly dos Santos, Jó e Flávio Ratto com os garotos, que éramos nós, eu, Polé, Ivo, Caio. Eu tinha 18 ou 19 anos, mas minha carreira, eu não parei até hoje, não é? Eu continuo jogando. Jogo no master.

Folha: Sempre como amador? Há profissionais em pólo aquático no Brasil?
Luís Eduardo: Sempre como amador. Alguns jogadores foram para fora para ser profissionais. Tivemos bons jogadores lá na Itália, como o sobrinho do Polé, o Mário Carotini, como o Erik Borges, que foram disputar diversos torneios na Itália com equipes locais, mas aqui no Brasil sempre foi amador. Posteriormente, eu participei de diversas outras seleções, só parei a minha vida dentro de seleção em 1974, quando fui, com o Ivo, ao último Campeonato Sul-Americano em que jogamos. Como o Polé, eu também me tornei técnico. Fui técnico do Pinheiros, fui técnico das seleções paulista e brasileira, fui campeão pan-americano de juniores, como técnico da seleção brasileira, em Porto Rico. O Brasil só foi duas vezes campeão júnior de pan-americano, neste ano, e quando eu ganhei, em 75 ou 76, não estou bem lembrado.

E continuo jogando até hoje, nós temos uma equipe de masters e nós fomos jogar na Nova Zelândia agora em maio o Campeonato Mundial de masters. Nossa equipe _eu joguei numa equipe bem inferior à minha idade, eu estou com 58 e joguei numa equipe de pessoas de 40 anos_ ficou em quarto lugar. Nós jogamos com a Hungria, com a Itália, com os campeões olímpicos passados e tivemos um bom resultado.

Na minha vida profissional sou engenheiro, tenho uma construtora, trabalho numa empresa também oriunda do meu pai, uma empresa que tem registro desde 1947 e a gente continua ainda no mercado de trabalho aí.

Folha: Na seleção você jogou em qual posição?
Luís Eduardo: Eu jogava na defesa e no meio-campo. Eu fazia mais a ligação entre a defesa e o meio-de-campo. Eu tinha duas fortalezas atrás de mim, duas paredes, três, porque o goleiro também era, não é? Então, eu podia ficar despreocupado e fornecer bola para o ataque, para o Flávio Ratto e para o João Gonçalves fazer gol.

Folha: E assim passamos a bola para o Flávio Ratto, o mais velho dos entrevistados de hoje?
Flávio: Meu nome é Flávio Ribeiro Ratto, sou natural de Santos, vim para São Paulo em 1943 para fazer os estudos aqui, eu tinha intenção de ir para a Faculdade de Direito.

Folha: E você nasceu quando?
Flávio: Nasci em 1930, 9 de abril. Eu sou da turma mais velha do clube. Cheguei ao campeonato de 1963 depois de muita luta, depois de muitos anos de seleções sul-americanas e pan-americanas. Participei de várias seleções e Pan-Americanos também.

Gostaria de contar uma curiosidade: faço parte da equipe que foi fundadora do pólo aquático do Pinheiros. O pólo aquático do Pinheiros foi fundado em 1949. Eu antes nadei bastante tempo, fui campeão paulista e brasileiro de natação. Em 49, nós resolvemos, contrariando as idéias do técnico Kamishi Sato, que era contrário ao pólo aquático, nós resolvemos fundar essa modalidade esportiva e fomos, realmente, muito bem-sucedidos. Nós fomos seis anos...

Folha: Quando você fala "nós" está se referindo a quem?
Flávio: Ao grupo que fundou, a equipe do Pinheiros que jogou o primeiro campeonato paulista principal: Vavá, Henry, Zebu, Plauto Guimarães, Holf Kestner, Durval Farias e Flávio Ratto, que sou eu. Entramos acabando com a hegemonia da Ponte Grande, que eram exatamente os dois times que eram líderes incontestes no pólo aquático de São Paulo e do Brasil, que eram: o Floresta e o Tietê. Entramos na primeira divisão e logo no primeiro ano fomos campeões e fomos seis anos seguidos campeões. Aí, logicamente, vários integrantes dessa equipe foram convocados para as seleções. Eu disputei vários pan-americanos, sul-americanos, tendo sido capitão no Sul-Americano de 58, quando fui agraciado com o título de Benemérito Atleta pelo Pinheiros. Até chegar ao Pan-Americano de 63, junto com a equipe jovem do clube: Polé, Ivo, Liminha, Caio, que formaram então uma mescla do pessoal mais antigo com o pessoal mais jovem, junto com os outros antigos também do Rio, montando uma equipe muito competitiva e tivemos a felicidade de ser campeões.

Folha: Essa foi a principal conquista do pólo aquático brasileiro?
Flávio: Sem dúvida nenhuma. A melhor fase que o pólo aquático brasileiro teve foi essa, na minha opinião, porque depois acompanhei algum tempo. No momento, eu não sei como é que está o pólo aquático do Brasil, realmente, não estou muito a par.

Folha: Depois da seleção, como seguiu sua carreira?
Flávio: Bom, depois desse Pan-Americano, eu joguei mais um Rio-São Paulo, um paulista e eu resolvi pendurar as chuteiras. Não é porque não dava mais para competir, eu estava já com 34 anos de idade e para pólo aquático é muito difícil você seguir no top _enfim, jogador de seleção nessa idade, realmente, é uma coisa muito difícil. E também já estava casado, tinha problema de família, tinha, enfim, outras ocupações, também.

Folha: Paralelamente, o senhor estava levando a profissão, o senhor falou que estava estudando Direito, continuou?
Flávio: Eu me formei realmente, profissionalmente, eu fiz Direito. Advoguei algum tempo, fui para o ramo de comércio, de locação de automóvel, Auto-Driven S/A. Tive importação de automóvel Auto Palácio S/A, também de importação e comércio de veículos. Tive interesse em fazenda também, em Mendonza, e até hoje nós estamos ainda trabalhando nisso. E, eu vejo as minhas coisas também na parte, vamos dizer, profissional, como advogado, ainda mexo um pouco com isso.

Folha: Ivo Carotini, sua vez?
Ivo: Bom, meu nome é Ivo Carotini, eu nasci em 16 de fevereiro de 1942. Antes de expor algumas nuances da minha vida, quero dizer a você e a quem tiver interesse em saber que a primeira Olimpíada da Era Moderna foi em 1896, a segunda foi em 1900, em Paris, e o pólo aquático começou a sua vida olímpica em 1900. É o primeiro esporte coletivo a ser praticado numa Olimpíada. Essa é uma curiosidade que eu gostaria de passar para vocês.

Bom, minha vida teve muita influência da meninada do grupo porque, como nós militamos sempre no Pinheiros, moramos sempre perto do Clube, então, o grupo ia para o futebol, depois, ia para o basquete, fizemos ginástica olímpica, saltos ornamentais, natação e a coisa começou acontecer de maneira involuntária quando você se encaixar como sua melhor aptidão pólo aquático. E, eu vou dizer por mim, eu sempre me encaixei em alguma coisa, um esporte onde tivesse a solidariedade, o conjunto e nada melhor _sempre fui muito apaixonado pelo futebol_ isso me trouxe para o pólo aquático o pleno do que eu queria atingir, que era ser um grande esportista, numa modalidade esportiva em que tivesse o conjunto, a solidariedade, a manha.

Hoje, eu posso dizer a você, está aqui o Polé, o Flávio e o Lima, se a gente entrar na água, se ele der uma arrancada, eu sei exatamente o que ele vai fazer, pelo olhar dele, passado tanto tempo, quase 40 anos que nós jogamos esse Pan-Americano, não é? Fomos campeões em 63 e eu dei prosseguimento à minha vida aquapolística ainda o ano seguinte para a Olimpíada em 64 no Japão.

Folha: Qual foi a posição?
Ivo: Também atuei sempre defesa, eu e o Polé, meu irmão, nós sempre fomos, durante 12 anos, titulares da defesa da seleção brasileira. Eu disputei quatro Sul-Americanos ganhei os quatro. Disputei um Pan-Americano que eu ganhei, disputamos um segundo Pan-Americano, em Winnipeg, em 67, fomos segundo colocados, e disputei, tive a graça de poder disputar duas Olimpíadas, além de ter sido terceiro lugar na Universíade, em Porto Alegre, que é o Campeonato Mundial Universitário.

Folha: Nos Jogos Olímpícos, como se saiu a seleção brasileira?
Ivo: No Japão, nós não fomos bem porque o sistema era de classificação, em 64... Nossa chave foi muito forte, contra Estados Unidos, Iugoslávia e Holanda. Nós empatamos com a Holanda e não tivemos felicidade com os Estados Unidos e Iugoslávia, e só se classificava um de cada chave. Foi muito difícil para nós, principalmente, por esses times são os pioneiros, são os primeiros na colocação mundial. Em 68, no México, nós fomos mais felizes, nós ganhamos algumas partidas, inclusive, da Grécia, que hoje é uma grande potência aquapolística, empatamos com a Espanha, que, em 92, foi campeã Olímpica. Se nós prosseguíssemos no nosso treinamento, na condição técnica, a Espanha foi para a frente, nós ficamos relativamente no mesmo lugar. A Espanha conseguiu atingir o ápice do pólo aquático, sendo campeã Olímpica em 92. Então, eu estou te dando essa conotação para dizer que nós temos material humano, o que falta é exatamente uma linha técnica, muito intercâmbio. Quando a gente fazia, a nossa juventude intercâmbio com a Argentina, então, a gente voltava para cá e arrasava. Por quê? Porque a prática, a convivência com a disputa internacional faz muito bem para o conjunto.

Em 63, foi brilhante, eu vou dar até um dado para você que é muito interessante. A disputa Brasil-Argentina é sempre muito árdua em qualquer modalidade, haja visto o basquete, recentemente, agora, no Campeonato Mundial, a Argentina ganhou do Brasil. No futebol, é aquela polêmica, e o pólo aquático não deixa de ser diferente. A nossa equipe era tão forte _eu vou te dar um dado, que você não vai acreditar_ nós ganhamos da Argentina de 8 a 0, o que significaria hoje, em termos de futebol, para fazer um paralelo, o Brasil jogar contra a Argentina e ganhar de 5 a 0, 6 a 0. Para você ver a potência que nós tínhamos. Foi a melhor _o Flávio até falou bem_, época do nosso water pólo.

Da equipe do Pan-Americano, entre técnicos, dirigentes e os jogadores, nós tivemos a infelicidade hoje de não contar com quatro personalidades que sempre ajudaram muito. O Carotini, que foi chefe da delegação, por coincidência pai meu e do Polé, meu irmão. O Claudino Caiado de Castro, o supertécnico a nível mundial, não faz um mês, faleceu. E dois grandes atletas, um deles o maior que eu vi jogar em toda a minha vida, que era o Aladar Szabo, era um húngaro naturalizado brasileiro. Eu presenciei muitos jogos internacionais e não vi ninguém com a qualidade técnica dele. E outra pessoa extremamente querida e um excelente jogador, que é o Márvio Kelly dos Santos, também, foi embora e nos deixou. Então desse grupo já quatro foram embora, não é?

Mas, para realçar o Pan-Americano, foi tão brilhante, era tão brilhante a nossa equipe, que nós conseguimos bater na Argentina de 8 a 0, só para você ter uma idéia. Prossegui, joguei ainda mais um Pan-Americano, joguei mais o último Sul-Americano com o Lima, que foi em Medellín, na Colômbia. E, daí ,com um pé sempre no esporte, praticando vez ou outra, segui minha carreira. Eu fiz Getúlio Vargas, administração de empresas, hoje, atualmente, voltei a estudar e estou fazendo o último ano, os últimos três meses do direito, quer dizer, até uma coisa meio sui generis, mas estou extremamente...

Folha: Na São Francisco?
Ivo: Estou fazendo na Unip, não é? Então, me deu um intervalinho, estou cursando e quero exercer a atividade, a partir do ano que vem, quando eu já me formar este ano. Profissionalmente, eu segui muito a vida pública. Tive alguns cargos na prefeitura, o mais elevado deles foi secretário de Esportes da Prefeitura do Município de São Paulo, durante os anos de 95 a 97. Profissionalmente, eu sempre lidei com esporte, e hoje temos uma assessoria e consultoria ligada a assuntos do esporte e isso de maneira global, ligada não só ao pólo aquático. Convivo ainda com a turma. Todo sábado nós temos um rachão aqui em que convive o pessoal de 50, 60 com uma garotada de 18 anos. Perdeu sai, perdeu sai, e isso faz com que você tenha um relacionamento ainda constante com o pólo aquático.

Folha: Flávio, qual foi o seu momento mais emocionante no Pan-Americano?
Flávio: Bom, a vitória foi uma conquista que foi desde a preparação e já foi uma coisa emocionante participar de uma seleção. E, realmente, como o campeonato foi em São Paulo, que tem um público todo apoiando, cada jogo que nós disputávamos, era uma coisa sensacional. E, realmente, o campeonato inteiro foi muito vibrante e eu não posso dizer que foi um dia mais do que o outro. Realmente, todos os jogos foram importantíssimos e eu acho que a conquista foi excepcional e foi um grande feito da equipe brasileira de pólo aquático.

Folha: Quanto à sua performance individual, o que o senhor diz?
Flávio: A minha performance individual, eu acho que o melhor momento meu no pólo aquático não foi nesse Pan-Americano de 63, foi no Pan de 59, em Chicago, nos Estados Unidos, em que fomos medalha de bronze e em que fui o artilheiro da seleção e do campeonato e melhor jogador. Essa foi a melhor participação que eu tive, vamos dizer, no esporte, vamos dizer, no pólo aquático pelo Brasil. No Pan-Americano de São Paulo, eu joguei alguns jogos, mas, eu, realmente...

Folha: Jogava como centroavante?
Flávio: Jogava como centroavante e eu não posso te destacar qual foi o jogo mais importante, enfim, eu acho que participei de uma equipe que foi campeã, o que eu posso dizer é isso.

Folha: Ivo, qual sua avaliação da campanha do Brasil no Pan-Americano?
Ivo: É, veja bem, vou começar pelo treinamento. Isso 39 anos atrás, não pense que a piscina era aquecida, coberta, bonitinha. Nós treinávamos nessa piscina de 50 metros, em maio, que foi o Pan-Americano, um frio daqueles, mas a gente suportava porque tinha que enfrentar os Jogos Pan-Americanos, não é? Nós fomos bem contra todos os adversários. Nós fomos muito bem com o Canadá, quando abriu o primeiro jogo, porque era turno e returno. Dos Estados Unidos, nós ganhamos bem, se não me engano de 6 a 4 ou 7 a 5, foram dois gols de diferença. Contra a Argentina, nós fizemos um jogos extraordinário, ganhamos de 8 a 0, uma coisa assim. Três anos antes, esse mesmo time que perdeu da gente de 8 a 0 disputou a Olimpíada de Roma, com os grandes craques, superpaparicados na Europa, e todos eles voltaram para jogar outra vez em 63 nos Jogos Pan-Americanos. Então, essa para mim foi a vitória mais extraordinária que o pólo aquático brasileiro teve, de modo geral, nesses quase cem anos de modalidade olímpica teve. Esse jogo de 8 a 0 contra a Argentina foi esplendoroso. Mas fomos muito bem contra a Argentina, como eu falei, o México, Estados Unidos. Antes da segunda partida com os Estados Unidos nós fomos tão bem, que nós já éramos campeões sem precisar do último jogo, não é? Então, acho que foi, como lhe falei há pouco, foi a melhor equipe que nós pudemos montar em todos os tempos. Haja visto esse resultado. E, automaticamente, o Brasil ganhando o Pan-Americano -isso que eu quero dizer, a consequência do ganho- foi a classificação automática para a Olimpíada do ano seguinte que foi em Tóquio, em 64.

Folha: Luís Eduardo, qual foi o seu melhor momento no Pan-Americano?
Luís Eduardo: Olha, o melhor momento pode ser o momento que eu acho que poucas pessoas viram e eu tive a felicidade de ver: uma coisa inédita. No segundo jogo com os Estados Unidos, nós já éramos campeões, independente do resultado, nós empatamos 3 a 3, o Ivo está lembrado. Eu estava na água, no final do jogo e estava 3 a 2 para os Estados Unidos e o Szabo chutou a bola _lembro até que foi no Palmeiras e o gol era aquele do lado do campo de futebol. A bola entrou pelo lado de fora e o juiz deu o gol. Foi tão forte o chute, mas tanta potência, que ninguém viu. Eu, que estava dentro d‘água, e talvez o Szabo fomos os únicos que vimos que a bola não entrou por dentro do gol, ela entrou por fora. A bola rasgou a rede e entrou pelo lado de fora, bem no canto da trave, e ninguém viu isso e deram o gol. Então, empatamos 3 a 3, mas, mesmo assim, se não tivessem validado o gol, nós teríamos sido campeões pan-americanos. Mas, como o Ivo falou, eu acho que o que me deixou muito satisfeito nessa época, além da conquista, além do resultado maravilhoso contra o time da Argentina, que para nós era um time endeusado, porque jogava o Odave, jogava o Carnevale, jogavam pessoas que tinham disputado diversas Olimpíadas, eles eram todos profissionais patrocinados pelo Perón.

Folha: Aqui todo mundo era paitrocinado?
Luís Eduardo: Paitrocinado, extamente. O sr. Hugo, o sr. José Reinaldo todos eles patrocinavam a gente. Foi a união que nós tivemos. Para você ter uma idéia, a Confederação alugou uma casa aqui próximo ao clube, para o pessoal do Rio ficar hospedado nos últimos treinos. Então, o Luís Daniel, o Szabo, o Marco e Brijó vieram para São Paulo e ficaram aqui três meses para poder treinar em dois períodos. Nós treinávamos de manhã e de tarde, no final da tarde e à noite. Então, essa união foi um fator primordial para nós termos conquistado essa medalha. E é uma medalha inédita porque de lá para cá nós não conseguimos mais esse título devido ao fato de Cuba, que na época estava começando a se profissionalizar, ter-se tornado uma potência, com a influência russa, com a ida de técnicos para lá. Depois, o México também, nós tivemos a oportunidade de jogar o Pan-Americano de 71, em Cali, e lá o técnico da seleção olímpica da Hungria treinava Cuba, outro técnico da Hungria era o técnico do México; o Germat era o técnico da Colômbia, quer dizer, todos os outros países começaram a trazer técnicos estrangeiros no pólo e fazer intercâmbio, e o Brasil, não. O Brasil foi esmorecendo, tanto é que nós fomos classificados para a Olimpíada de Munique e, apesar de ter sido classificados, termos o direito de ir, o Comitê Olímpico não nos levou.

Folha: Por que achou que não tinha?
Luís Eduardo: Achou que não tínhamos condições de disputar. Mas todas as vezes que nós fizemos um intercâmbio internacional ou todas as vezes que nós trouxemos um técnico de fora ou um jogador de fora, o pólo aquático teve uma evolução violenta, tanto é que os grandes saltos que nós tivemos no pólo aquático foi quando veio o Costolli para ser técnico do Fluminense ou quando o Vericzaski veio para o Tietê ou o Szabo, que veio para o Fluminense e depois veio aqui para o Paulistano. Hoje, nós estamos numa outra fase, com um pouco mais de disponibilidade de verbas, tanto é que, aqui no Pinheiros, nós estamos remodelando toda a nossa equipe de pólo aquático, com novo diretor, nova mentalidade. Estamos trazendo jogadores de nível nacional para se integrar ao Pinheiros e para o ano que vem nós pretendemos trazer um jogador de nível internacional e, talvez, um técnico da Hungria para ser técnico do Pinheiros, para fazer o grande centro de water pólo do hemisfério sul-americano para ser aqui no nosso clube. Então, o grande momento de tudo isso, o grande resultado de tudo isso é uma palavra: amizade. Porque nós continuamos amigos até hoje. Todos nós estamos sempre juntos.

Folha: Ivo, fale um pouco do parte técnica do pólo, quais são a regras, quantos jogam, qual o tamanho da piscina, a profundidade?
Ivo: O pólo é um esporte extremamente viril, mas extremamente disciplinado. Hoje, quem arbitra o pólo aquático, além dos dois bandeirinhas de fundo, são dois árbitros. São tão rígidas as regras que um olhar de desfeita para o árbitro contestando uma marcação é até motivo para expulsão de campo.

A expulsão de campo é temporária. Oo atleta fica fora, a não ser que seja por uma falta extremamente grave, aí ele é eliminado. Aí é outra coisa. Aí, volta à atividade outra vez, passados os segundos necessários da expulsão. Nós temos as dimensões, variam como no campo de futebol, nós temos o máximo e o mínimo. Uma partida oficial pode ser jogada numa metragem mínima de 25 até 30 metros, que é a oficial, a Olimpíada, o Pan-Americano é jogado em piscina de 30 metros com a largura de 25, com o mínimo de 18. Isso é tido como uma cancha oficial. Não dá pé, tanto faz você jogar com uma profundidade de 2m, 3m, 4m, 5m, isso não tem influência, mas está errado aquele que pensa que o jogador joga de pé, que dá pé, que o goleiro salta. Nada. É tudo na base de treinamento extremamente rígido, que são as pernadas. A perna tem muita função no water pólo, no pólo aquático, não é? De antemão, até o jogador, se ele se posicionar na vertical, ele está cometendo um erro de base, porque o pólo tem que jogar na horizontal, por problemas de arranque, de contra-ataque, de agilidade na água. Os gols tem 2,5m de largura por 1m de altura. Não pode afundar a bola. Quer dizer, o jogador pega, vem um atacante disputar com ele, ele afunda a bola, isso é uma reversão. Nenhum jogador, com exceção do goleiro, pode pegar a bola com as duas mãos. Então, no meio do campo, sofreu um ataque e pegou com as duas mãos. A falta é a reversão da bola para a equipe adversária. Isso basicamente são as regras. Jogam um goleiro e seis na linha. Hoje, está mais ou menos tipo laranja mecânica da Holanda, onde todos fazem a parte de todo mundo, tanto defesa como ataque. Estou falando isso em referência ao futebol. Hoje o atleta tem uma aptidão maior para ser atacante, mas ele defende, como o defesa também tem que ser atacante.

Folha: No tempo de vocês, não, tinha defesa e meio-campo bem definidos?
Ivo: Isso, bem definido e, anteriormente a nós uma definição maior ainda, o jogo era parado, apitou, a bola não pode se mexer, não pode. Hoje, evoluiu muito, por exemplo, o atleta sofria uma falta, ele nadava mais dois metros? Voltava, ele mesmo 2 m atrás para ele mesmo cobrar. Hoje modificou, dinamizou-se um pouco. Hoje, qualquer atleta pode bater a falta. Hoje é muito rápido, o cara foi expulso, você não precisa esperar que ele seja expulso. Ele tendo menção para sair do campo, você já pode atuar e pode, inclusive, fazer o gol. Então, a dinâmica se modificou. Se você pegar o pólo 50 anos atrás, na época de João Havelange, por exemplo, todo mundo ficava parado. O juiz apitava e ficava todo, era mais ou menos tomar um banho de piscina e as bolas eram passadas. Muita distribuição de sopapos, Não é? Porque, naquela época tinha imagem que jogar bola era dar porrada, não é? E não é nada disso. Hoje, sabe, os juízes são muito especializados e é um esporte muito malicioso. Por quê? Você impede o jogador de progredir puxando o maiô. Vez ou outra, você tem que dar o que a gente chama prancha. Você encosta no corpo e com a mão ou com o pé você afasta o jogador da jogada, mas isso tem que ter a sutileza, a habilidade, a técnica, a ponto de o juiz não perceber essa jogada, você entende? Mas, isso é muito usual no pólo aquático. Isso é coisa agressiva hoje? Posso dizer a você que não existe, porque se acontecer um soco desleal ou uma cotovelada desleal o cidadão é eliminado, fica com um homem a menos, e o pólo aquático não é igual ao futebol: não tem regra que não seja essa que eu vou falar. Time com um homem a menos sempre vai perder no pólo porque é muito ágil. Isso não acontece no caso de outros esportes no caso, principalmente o futebol, não é? Você, às vezes, com um, dois elementos a menos você é capaz até de ganhar. No pólo, não. Então o sujeito evita qualquer tipo de agressão para não ser expulso e prejudicar o time.

Folha: Como o senhor compararia, Luís Eduardo, a situação do pólo na época em que vocês foram campeões e a de hoje, no pólo no Brasil?
Luís Eduardo: Não, veja bem, antigamente, o pólo, os grandes centros eram São Paulo e Rio. Em São Paulo, nós tínhamos o Floresta, hoje Espéria, Tietê, Paulistano, Pinheiros, Palmeiras, Tênis Clube; no Rio, Fluminense, Flamengo, Guanabara, Tijuca, Botafogo e eram mais ou menos esses clubes que disputavam o Campeonato Brasileiro.

No final da época dos militares, teve um coordenador do Comitê Olímpico Brasileiro, que era o brigadeiro Jerônimo, ele criou os Jogos Estudantis Brasileiros. Se deu um impulso violento em todo esporte nacional. E das escolas você fazia a seleção do Estado, que disputava o Brasileiro, uma vez por ano, em determinada cidade. Desses participantes, a gente tirava uma seleção e levava todo ano à Europa. Tanto é que eu participei desse programa e levei três seleções à Europa: levei à Hungria, à Espanha, à Alemanha e daí surgiram muitos jogadores.

Folha: O que resultou disso?
Luís Eduardo: A difusão do pólo. Hoje, nós temos diversas cidades do Brasil disputando pólo aquático. Então, nós temos torneio hoje no Norte, Nordeste, nós temos torneios aqui no Sul, não com o nível técnico como tem São Paulo e Rio, mas, por exemplo, hoje, no Estado de São Paulo nós temos Bauru participando, temos Jundiaí participando, Santos participando, fora as equipes de São Paulo, que mudaram um pouco: hoje é Pinheiros, Paulistano, o Paineiras do Morumbi, que é muito forte, o Hebraica, que também é muito forte, o Tietê parou com o esporte, o Espéria voltou agora, então, hoje está muito mais difundido o pólo. Mas precisa ainda um trabalho muito grande da Confederação e você veja que o último Campeonato Brasileiro de pólo foi realizado em Belém do Pará, quer dizer, já há uma difusão.

Eu, quando fui técnico do Ministério da Educação, que nós levamos essa equipe para a Europa, eu selecionei jogadores do Pará, do Amapá, de Pernambuco, de Alagoas, do Rio Grande do sul, de Brasília, e cada vez nós levávamos 20 a 25 atletas para lá. E isso foi feito no pólo aquático, no handebol, no basquete, em diversos esportes. E, surgiram atletas fenomenais. Dessa leva saíram Kadu, no basquete, saiu Léo Vergara, que hoje joga pólo no Pinheiros, foi comigo para a Europa. Então, hoje em dia está precisando haver uma divulgação maior desse esporte, não é? Por todo o Brasil. E incentivo.

Na nossa época, nós éramos essencialmente amadores. Hoje, devido à dificuldade que os garotos têm para poder estudar, como a escola é cara e o pai não tem mais condição de sustentá-lo nessa faixa etária, pagando a escola e pagando alguma coisa para o garoto. Nós temos um trabalho dentro do clube de apoio ao atleta. Então, nós temos uma verba de apoio ao atleta. O que envolve isso? Bolsa de estudos, porque nós temos convênio com a Unip e com o Anglo, então, nós damos bolsa.

Folha: Esse é um trabalho do Pinheiros?
Luís Eduardo: Do Pinheiros, nós damos bolsas a diversos atletas quando eles precisam, não é? Nós temos auxílio financeiro ao atleta. Se o atleta vem de fora, nós pagamos para ele uma república para ele ficar, ele se alimenta no clube. Nós temos para condução, então, o atleta tem dificuldade para ir ao clube, nós damos um tíquete de condução. Então, o Pinheiros procura dar um auxílio para trazer atletas de fora e também auxiliar os seus próprios.

Nós estamos com uma programação muito boa aqui e fora intercâmbio. Nós vamos levar uma garotada agora, no próximo mês, para Rosário, na Argentina, para disputar um Campeonato Juvenil. Para o ano que vem [este ano, 2003], nós estamos já acertados com o atual presidente de levar uma equipe para fazer um torneio na Itália. Tudo isso vai beneficiando o esporte, o que nós não tínhamos nessa época, minha época e do Ivo, porque nós só tínhamos contato com o exterior quando tinha uma competição de nível.

E quando deixavam de nos levar para uma Olimpíada, de Munique, por exemplo, para nós o pólo aquático decaiu enormemente. Então, a grande diferença hoje são os contatos de nível internacional que se pode ter e o auxílio que se dá ao atleta, que nós não tínhamos, naquela época, não tínhamos nem água quente. A gente nadava na água gelada aqui de 15 graus, 16 graus. Teve uma época que nós fomos jogar o Sul-Americano em Antofagasta, no Chile, nós não tínhamos piscina para treinar, o técnicos nos pôs para treinar às quatro da manhã no mar. Ele falava assim: "Está vendo aquela boínha que está acendendo a luzinha? Vocês vão até lá, dão a volta e voltem aqui". Puxa, no mar do Pacífico, quatro da manhã, não sabia se tinha tubarão, se não tinha.

Folha: O que a conquista do Pan trouxe para a vida de cada um?
Ivo: Eu talvez possa responder da minha parte. Vantagens na vida profissional não tive. Na época, eu estudava, fazia a Getúlio Vargas, por sinal que é uma faculdade muito difícil, talvez se fosse hoje talvez a gente tiraria algum proveito profissional, ser contratado para alguma entidade, até como instrutor ou como participante de algum projeto. O que nós ganhamos foi a fama entre os nossos pares, da nossa juventude. Eu, por exemplo, tinha 21 anos, estava fazendo faculdade, serviu para os amigos, para as meninas.

Foi uma coisa assim muito amadora. Era uma coisa assim muito amadora, muito do coração, mas, para você ter idéia, a gente não ganhava nem um lanche e você pensa que ganhar um lanche naquela época significava alguma coisa? Que nada. Você fazia isso por amor à pátria, amor ao clube, amor a você mesmo.

O Pan-Americano foi na piscina do Palmeiras, quer dizer, sempre lotada. Outro dia até estava conversando com o presidente atual do Palmeiras, Mustafá Contursi, eu falei: "Mustafá, eu devo milhões ao Palmeiras, porque aqui foi a minha maior glória".

Você não pode fazer idéia, eu nunca vi tanta gente na piscina do Palmeiras para ver jogos de pólo aquático. Existiu uma expectativa para ver.

Você me perguntou sobre a influência da vitória... Influência no ego, a sua auto-estima foi lá para cima, mas ficou, vamos dizer assim, se convergiu na nossa turma, nos nossos amigos, puxa, parabéns e isso, mas nunca foi uma difusão, através de uma televisão, de um rádio.

Na época, a revista que circulava era "O Cruzeiro", que fez uma reportagem, mas muito pequenina. Hoje, talvez, seria capa de uma revista especializada em esporte e programa de mesa-redonda de esporte, mas, para nós, se resumiu muito ao nosso círculo de amizade, aos outros atletas. Era uma época assim mais romântica do esporte e sempre foi muito amador, não é?

Luís Eduardo: Particularmente, para mim, representou um fator preponderante da minha vida até hoje. Eu sempre vivi, como falei, desde que nasci, no esporte e no pólo aquático, meu pai era jogador. E as conquistas que meu pai tinha no pólo, meu pai era muito moço, meu pai era 20 anos mais velho do que eu, quer dizer, era 20 anos, já faleceu. Então, eu cheguei até a jogar na mesma equipe que meu pai. Então, as conquistas dele, para mim, eram um negócio fenomenal, não é? E eu consegui conquistar o maior título que o Brasil já teve, isso que eu não tenho uma constituição física muito avantajada, forte, não é? Até o meu apelido aqui é Tarzan.

Folha: Só de sacanagem?
Luís Eduardo: É, era muito magro e consegui alcançar uma seleção brasileira, jogar bem, fui considerado, depois, o melhor jogador do Pan-Americano de 71, o jogador mais técnico pela comissão, quer dizer, isso tudo traz para você saber que você consegue realizar se você se empenhar e isso representou muito na minha vida profissional.

Para mim não tem causa perdida, porque depois que eu conquistei isso, que eu achava que era uma coisa impossível de conseguir, ainda mais naquela época, em que só tinha jogadores fenomenais e nós éramos muito garotos, eu tinha 17 para 18 anos, não é? Então, isso para mim representou, no meu lado psicológico, um fator preponderante das minhas conquistas posteriores. quer dizer, para mim não tem causa perdida, eu sempre, graças a Deus, consegui o que eu queria.

Folha: Que mensagem vocês dão para as gerações de hoje?
Ivo: Eu diria o seguinte: a determinação é a regra, é o norte de qualquer pessoa. O esporte é uma coisa fenomenal, da qual eu, hoje, com a minha idade, 60 anos, eu colho os frutos não só mentais, como físico, como relacionamento, sabe? É tão maravilhoso que, às vezes, o jovem não tem a dimensão do que o esporte pode significar passados 30, 40, 50 anos, não é? Eu me calco muito no meu passado, não como saudosismo, aquela coisa que você não vai para a frente porque você só pensa no passado, mas calcado hoje, eu tenho a facilidade de poder, que eu gosto muito de mar, de nadar de um ponto a outro sem ter constrangimento de fazer isso com receio de não alcançar. Vou, por quê? Fruto do meu passado. Nós fizemos uma brincadeira no começo deste ano, armamos uns gols flutuantes, fizemos umas partidas de pólo no mar. Eu fui um dos participantes. Me agradou tanto isso aí. Por quê? Advindo do passado. Então, uma mensagem que eu posso dar: vá, se você tiver um objetivo e esse objetivo for o esporte, principalmente, pólo aquático, vá em frente, as causas, vamos dizer, os objetivos são só baseados numa coisa chamada determinação. Não deixe para o futuro, não pense que você vai ter eternamente 20 anos. Se você relaxar, deixar passar, quando você vir já terá 30, quando você vir 40, você não pega mais, perdeu o bonde da história. Nunca deixar porque o tempo passa.

Luís Eduardo: O que eu tenho a dizer para essa garotada que está começando a se dedicar ao pólo é que o esporte é essencial na vida de qualquer pessoa, não só pela prática física, pelo condicionamento físico, porque também quando se dedica a um esporte, ao culturismo do seu ser, você é obrigado a relegar coisas que podem o desviar desse seu objetivo, como são somente as drogas.

Folha: Como conciliar um esporte com droga?
Luís Eduardo: É muito difícil. A pessoa, tendo um objetivo dentro do esporte, fatalmente, ele vai abandonar esse ponto.

Eu acho que o Brasil, para erradicar esse mal hoje, que é o mal do século, deve dedicar mais ao esporte e à cultura.

No esporte, eu consegui todas as amizades que eu tenho hoje. Hoje eu tenho contato, hoje, se eu quiser conversar com o presidente do Bradesco, eu vou lá, bato na porta do Márcio, porque o Márcio jogou pólo aquático comigo. Hoje nós temos aqui um companheiro que foi superintendente da Folha, o Pedro Pinciroli, que joga com a gente até hoje aqui. Então, você não vê um jogador de pólo que se deu mal na vida. Graças a Deus, acho que esse esporte orienta para o sucesso. Somente para o sucesso da sua vida profissional.

Eu disse anteriormente que uma das grandes coisas que eu obtive com essa conquista do Pan-Americano de 63 foi amaciar o meu ego e saber que eu sei realizar e que eu posso realizar a qualquer momento. Graças a Deus, na minha profissão eu sou uma pessoa realizada, com 58 anos, eu tenho dois filhos criados no esporte. Um foi um grande jogador de futebol até o juniores e hoje tem uma clínica de futebol nos Estados Unidos. Outra é uma bióloga marinha, que trabalha só na parte de ecologia, minha filha, que é brilhante também, criada também no esporte. Então, graças a Deus, você tem uns garotos que não fumam, bebem socialmente, assim, o estritamente para conviver com os amigos, não são ligados, nunca foram ligados a drogas, aliás, trabalham em organizações de palestras contra drogas para jovens. Então, eu acho isso fundamental para essa nossa garotada brasileira. É levá-los para o esporte e dar estudo e esporte para essa garotada.

E-mail: rlucena@folhasp.com.br

Conheça o site do jornalista Rodolfo Lucena

Assine a Folha

Classificados Folha

CURSOS ON-LINE

Aprenda Inglês

Aprenda Alemão


Copyright Folha de S. Paulo. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress (pesquisa@folhapress.com.br).