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Saúde da mulher
27/04/2003

Armadilhas do mundo da proveta

POR CLÁUDIA COLLUCCI

Você está tentando engravidar há mais de um ano e não consegue? Deprime-se sempre que menstrua? Toda vez que vê uma mulher grávida, pergunta-se: por que não eu? Acalme-se. Pelo menos 10 milhões de mulheres no Brasil têm dificuldades para engravidar e, provavelmente, dividem esses mesmos sentimentos. Ninguém está preparado para enfrentar um diagnóstico de infertilidade, ainda que transitório. Por isso, é comum os relatos de revolta, depressão, crises de identidade e de valores. Sem falar do casamento, que costuma ficar por um fio.

Antes de se desesperar, atente-se para algumas "armadilhas" desse mundo da reprodução. A primeira delas diz respeito ao seu ginecologista. Ele pode até ser a pessoa em quem você mais confia na vida, te acompanhar desde a adolescência etc. etc., mas, se não adotar procedimentos básicos de investigação da infertilidade, pense seriamente em procurar um especialista da área.

E o que são esses procedimentos? Exames de dosagens hormonais e ultra-sonografias para avaliar a ovulação, raios X das trompas (histerossalpingografia) para checar se não há obstrução tubária impedindo a passagem do óvulo e pelo menos dois espermogramas do parceiro. Dois espermogramas? Não é demais?

Não, não é. Essas análises do sêmen apresentam muitas variações e os resultados podem ser influenciados pelo tempo de abstinência sexual, pelo método de coleta e, principalmente, pelo tipo de tecnologia usada pelo laboratório.

Também é preciso estar atenta a alguns procedimentos considerados ultrapassados pelos especialistas. Um deles é a indicação inadvertida de indutores de ovulação, remédios que vão estimular o ovário a produzir mais óvulos aumentando, em tese, as chances de gravidez.

Muitos médicos indicam esses remédios antes mesmo de fazer a investigação básica mencionada acima. Conclusão: mulheres que não têm problemas de ovulação vão tomar inutilmente o medicamento. Além da perda de tempo (crucial, em muitos casos) e de dinheiro, é bom lembrar que há pesquisas que demonstram que o uso desses hormônios pode aumentar os riscos de câncer de ovário. Ou seja, é correr um risco desnecessário.

Fique esperta também com alguns especialistas em reprodução assistida. A maioria dos casos de infertilidade pode ser resolvida no próprio consultório médico, com medidas baratas e menos invasivas, como a orientação sobre o melhor momento da relação sexual, o tratamento de possíveis infecções e a correção de problemas hormonais.

A indicação de fertilização in vitro ("bebê de proveta") ou da injeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI) só deve acontecer depois de uma investigação criteriosa e, se possível, após terem sido tentados outros métodos mais simples. Se a solução for essa mesma, prepare o bolso. Nenhum plano de saúde banca o tratamento e o SUS não fornece a medicação.

Cada ciclo de fertilização in vitro não sai por menos de R$ 8.000 (incluindo a medicação) e as chances de gravidez em cada ciclo não passam de 25% a 30%.

Antes de topar o tratamento, portanto, não tenha receio de encher o médico de perguntas, como quais são e como funcionam as técnicas de reprodução assistida, quais serão as chances de gravidez com cada uma delas, riscos, complicações, efeitos colaterais, duração e custo do tratamento. Caso esse tratamento falhe, quais são as outras alternativas? É melhor pecar pelo excesso de questões do que ficar depois se remoendo em dúvidas.

Cláudia Collucci é repórter da Folha, mestre em história da ciência e autora de dois livros, "Quero Ser Mãe" e "Quando a Gravidez Não Vem", que será lançado no próximo dia 17, durante a Bienal do Livro, no Rio.

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