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moda / planeta fashion

consumo hi-tech

lojas de tóquio proporcionam novas experiências de varejo
Se a passagem não fosse tão cara, valeria a pena pegar um avião para Tóquio somente para ver de perto a incrível experiência que é o varejo fashion na cidade, aula viva de moda, arte, arquitetura, urbanidade e... comércio.
Um dos diferenciais é a maneira completamente caótica e obscura dos endereços da cidade, que chegam a ter três números -sistema criado na época do xogunato, exatamente para confundir. As ruas muitas vezes não têm nomes nem placas, e mesmo com um endereço escrito, é impossível chegar. Os motoristas de táxi até desistem, não sabem onde é e pronto. Nos cartões das lojas, há sempre um mapa. Ir de uma loja para a outra vira uma verdadeira "caça ao tesouro", onde cada ponto atingido dá uma pista do próximo a ser encontrado. Outra: um dos clássicos das viagens, o "Ah, eu volto depois para comprar", em Tóquio não se aplica. Ruazinhas menores, dessas que escondem lojas fantásticas, mas não famosas, viram um labirinto. Tentar retornar pode ser impossível. O gostoso, então, é se jogar. Escolher uma área e decupá-la oferece algumas recompensas e aumenta o prazer das descobertas. Isso pode rolar com a descolada região atrás de Harajuku, a Uru-Harajuku, ou Uru-Hara, para os íntimos, onde dezenas de marcas trazem o melhor da moda jovem e o público mais fashion-concious do planeta.
Por fim, o hype de muitas lojas é não colocar o nome na porta. Então, mesmo estando na rua certa, é comum passar pela loja e não vê-la.
Com uma delas não se corre esse risco: a nova loja da Prada, em Ayoama, que conjuga esses valores de modo 100% contemporâneo. Criado pelo escritório dos suíços Herzog e De Meuron, autores da Tate Modern londrina, o projeto é de tirar o fôlego e dialoga com Tóquio com muita personalidade. O ponto de partida foi exatamente a pacata vizinhança da rua (a Minami Ayoama), com prédios baixos e casas homogêneas. Assim, para chamar o máximo de atenção, a Prada deveria ser mais alta do que as outras construções. Foi pensada também uma praça que servisse de ponto de encontro, para que as pessoas pudessem ficar por ali conversando.
O início se deu a partir da bursa, uma bolsa medieval. Chegou-se ao formato de um cristal, irregular. Mas toda essa vanguarda deveria funcionar a serviço da compra. O conceito-base é justamente o de todo o prédio ser uma grande vitrine -e aí está um projeto em que a fachada surge como estrela.
Para que ela pudesse mostrar melhor os produtos dentro da loja, as janelas de vidro, em formato côncavo e convexo, são como lentes. O resultado é uma grande tela interativa, low-tech, ainda que de aparência futurista. É de fato impressionante. E dar de cara com o majestoso prédio faz levantar a cabeça para olhar. Caipiras na metrópole.
Lá dentro, as sensações continuam, e o prédio se revela uma estrutura de cinco andares "sem costura", peça única. Os displays também inovam. Há estruturas possíveis de serem mexidas a qualquer hora ou estação do ano, um work in progress.
Ali perto, na mesma rua, silenciosa e sempre tranqüila, está a famosa loja azul da Comme des Garçons, do escritório de arquitetura Future Systems (que assina a genial Selfridges de Birmingham). Fachada, vitrine e araras se fundem, compondo um ambiente fluido, impressão reforçada pelas salas brancas, labirínticas. Ainda é referência.
Mais conceitual, o projeto da Comme des Garçons com a francesa Colette é um mix de galeria de arte com loja. De vocação kamikaze, vai durar até dezembro de 2004, com peças que só vendem lá e colaborações originais, como a bolsa-brinquedo da Undercover com Herve Chapelier.
A rede A Bathing Ape é outro hype, com o interior desenhado por Masamichi Katayama, do escritório WonderWall. A modernidade das linhas do designer abriga a mais influente marca de streetwear japonês, do ex-DJ Nigo.
Enquanto as poderosas grifes de beleza Shu-Uemura e Shiseido investem em tecnologia e futurismo em Omotesando, uma avenida sofisticada e chique em Harajuku, a poucas quadras dali a bagunçada Takeshita Dori é uma espécie de Vinte e Cinco de Março teen, com trecaiadas e as últimas tendências destrinchadas para a grande massa. É uma injeção de energia fashion. Na veia.
texto e fotos erika palomino
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