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Copa das Confederações
26/06/2005

Nas curvas de...

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DIA 29 - Frankfurt

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Efe
Ronaldinho beija troféu da Copa das Confederações
O segredo dela

Ronaldinho a tomou nos braços, beijou, acariciou e levantou. Pouco depois, Maicon, o quase desconhecido Maicon, pegou a criança para si --e quem disse que queria desgrudar? Até que Kaká a tomou emprestada, precisava sentir o gostinho. Roque Júnior ficou uns bons minutos com ela, caminhou sozinho até perto da torcida, como se ali estivesse alguém de sua família, e a exibiu para a massa.

Todos, do premiado Adriano ao esquecido Gomes, o terceiro goleiro, queriam tirar uma casquinha da taça.

E, vejam bem, não se tratava da Copa do Mundo, ali estava apenas a Copa das Confederações, um troféu nem tão bonito, nem tão pesado e nem tão famoso quanto o seu irmão dourado. E, mais que isso, o troféu de um torneio até outro dia enxovalhado por Deus e o mundo.

Inútil tentar explicar esse fascínio por uma taça, seja ela qual for. É possivelmente uma tarefa para psicanalistas, psicólogos, intérpretes da alma humana. E, se explicação for achada, não precisa contá-la aos nossos craques-garotos. Deixa a brincadeira muito mais bonita.

As águas rolaram

Deve ter sido para lavar a alma dos brasileiros. Não há outra explicação para o temporal cinematográfico que desabou em Frankfurt durante o jogo, depois de duas semanas seguidas de um calor amazônico. Ou alguém sabe de algo que lave mais a alma brasileira do que ganhar da Argentina por três gols de diferença numa final de campeonato mundial?

DIA 29 - Frankfurt

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

A seleção e clubes da Argentina já foram punidos depois de perderem finais e descerem para o vestiário antes da premiação e entrega de medalhas.

Armando Franca/AP
Riquelme segura troféu do vice-campeonato na Alemanha
Na Copa das Confederações, a seleção de azul e branco não fez nada disso, mas deve ser mesmo duro a obrigação de ver um rival, ainda mais o maior deles, fazer a festa.

Riquelme não fez questão nenhuma de receber o prêmio como um dos três melhores jogadores do torneio. Um a um, os argentinos que recebiam as medalhas de prata a tiravam do pescoço imediatamente e a escondiam, como se aquilo fosse o símbolo de um fracasso.

Durante dez minutos, enquanto os brasileiros sambavam, os argentinos ficaram mudos, com o olhar perdido. Uma cena que não tem preço para quem gosta de caçoar dos vizinhos.

DIA 28 - Frankfurt

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

Argentina e Brasil decidiram nesta terça-feira uma vaga na final do Mundial sub-20. E, na véspera da decisão entre as duas seleções pela Copa das Confederações, ficou clara a diferença com que os dois países tratam as categorias de base.

O time principal brasileiro treinou enquanto o jogo dos meninos rolava. A Argentina só foi a campo depois que a partida na Holanda acabou. No centro de imprensa do Waldstadion, a imprensa argentina, aflita, se acotovelava para ver na TV a semifinal dos juniores. Enquanto isso, os brasileiros, inclusive eu, corriam contra o fechamento e ignoravam o confronto dos moleques.

Mas foi na coletiva dos dois treinadores que as diferenças ficaram mais evidentes. Carlos Alberto Parreira nada comentou sobre os jogadores que podem ser o futuro do Brasil. Bobô, Rafinha e Rafael Sóbis com certeza são nomes estranhos para ele. José Pekerman, ex-técnico das categorias de base da Argentina, citou um por um o nome de garotos que nem mesmo em seu país devem ser famosos.

Tenho certeza que a vitória dos meninos argentinos deixou mais gente contente que um triunfo brasileiro faria.

DIA 27 - Frankfurt

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Virou moda, uma moda até chata, essa história de dizer que o Brasil está na moda na Europa. Como é difícil fugir da chatice, meto minha colher na onda verde e amarela.

Fábio Victor/F. Imagem
Caipirinha vira febre nas cidades alemães
Havaianas, camisa da seleção, Carlinhos Brown, nada disso parece fazer frente à febre alemã da caipirinha.

Nas minguadas andanças pelo Velho Mundo, jamais havia visto coisa semelhante. Está nos cardápios dos restaurantes, dos bares descolados, dos hotéis, seja em cidadezinhas feito Leverkusen ou em metrópoles cosmopolitas como Frankfurt.

Pense numa moda cara: o drink que é patrimônio nacional, regulamentado por decreto presidencial, aqui não custa nunca menos que 6 euros (pouco menos de R$ 18) e pode chegar fácil a 10 euros (algo entre R$ 28 e R$ 30).

Ao alemão mais abnegado --ou mais liso mesmo-- resta recorrer à fórmula caseira. O que não é grande problema, já que muitos dos apetrechos necessários, como se pode conferir aí na foto ao lado, já estão à venda nas melhores lojas do ramo, a preços módicos.

DIA 26 - Nuremberg

Fábio Victor/F. Imagem
Painel em passagem subterrânea de Nuremberg

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Sabe os Freak Brothers? Pois é, numa passagem subterrânea da estação central de Nuremberg eu juro que vi um deles, o Fat Freddy. Tinha acabado de pintar no chão, com giz, um painel multicolorido com um sujeito puxando um enorme baseado, sob a inscrição “Legalize”. Nosso Fat Freddy alemão ficava só observando o movimento, seus dois cachorros ao lado, e torcendo para que pingassem algumas moedas no caneco que pôs ao lado do desenho. Mas não se abalava com nada. Se alguém batia uma foto e não dava moeda, algo normalmente visto com muita antipatia pelos artistas de rua, ele nem se abalava.

Tampouco se abalava a polícia alemã. A prova maior é que, no dia seguinte, a galeria subterrânea quase vazia, o desenho permanecia lá, mesmo sem o autor e os cachorros. Imagina como seria no Brasil.

PS - Pra quem não sabe do que se trata, os Freak Brothers são umas figuraças criadas por Gilbert Shelton, um dos ícones da contracultura das HQs dos anos 60/70. Três irmãos que consomem maconha às toneladas, moram num apartamento imundo e vivem a esculhambar o sistema.

DIA 26 - Frankfurt

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

Foi o último grande deslocamento de uma viagem de três semanas. E foi como deixar a Europa por pouco mais de duas horas no volante e logo chegar nos Estados Unidos.

Depois de moinhos de ventos, castelos medievais e um “ar europeu” por todos os lados, na viagem para Frankfurt parece que tudo é novidade. Na estrada, placas apontam que estão próximas as “US facilities”, as bases americanas que ficaram como herança da Segunda Guerra. Logo depois, dezenas de motoqueiros com suas Harley-Davidsons e jaquetas de couros com enormes letras dizendo que os membros daquela turma eram os “Hell's Angels” da Califórnia.

Na entrada da cidade que é o pulmão das finanças européias, prédios gigantescos na típica paisagem dos “skylines” das grandes cidades americanas.

O hotel é ótimo e gosto de verdade dos EUA, mas acho que vou sentir saudades daquela “má-vontade” européia na cidade que vai abrigar a final da Copa das Confederações.

DIA 25 - Nuremberg

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

A vitória do Brasil sobre a Alemanha, num estádio lotado em Nuremberg e com o time de Juergen Klinsmann embalado pela boa campanha da primeira fase, deve ajudar a criar num futuro próximo uma legião de alemães torcedores da seleção canarinho.

Sim, já que uma das coisas que mais chamaram a atenção no Frankenstadion (curioso nome de criatura para um campo de futebol) foi a quantidade de pais alemães acompanhados de filhos com camisas amarelas. Havia também uns marmanjos e moçoilas envergando a cor do país da moda na Europa, mas nada comparado à uniformizada mirim a favor do time visitante.

Porque essa coisa começa com uma moda, mas para virar paixão é como um vou ali e já volto.

DIA 25 - Nuremberg

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

Para dar visibilidade a um de seus patrocinadores, a Fifa dá uma medalha que leva o nome da empresa ao melhor jogador de cada partida da Copa das Confederações.

O mimo não tem nada de sofisticado. A medalha é presa em um cordão vermelho nem um pouco glamuroso. É entregue sempre na sala de entrevistas, com o jogador ao lado de seu treinador.

E em todos os jogos em que estive o agraciado não fez questão nenhuma de mostrar com orgulho o prêmio. Robinho colocou a sua no peito e segundos depois a tirou. O mesmo fizeram o goleiro mexicano Sánchez, o meia-atacante japonês Nakamura e o brasileiro Adriano.

Para os brasileiros, era melhor dar o rádio dos tempos antigos para os melhores em campo. Teria mais utilidade e, aposto, não sofreria o mesmo desprezo da “honraria” da Fifa.

DIA 24 - Nuremberg

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

Faz muito calor na Alemanha. Em todo o país as temperaturas estão há dias acima dos 30 graus. Isso em um lugar por onde oito meses o frio exagerado deixa as ruas vazias.

É hora de ficar sem camisa nos parques que servem como “praia”, tomar sorvete e tirar o branco da pele. Mas tem quem troca tudo isso por um trabalho voluntário para a “pobrezinha” Fifa.

Só para a Copa das Confederações 12.532 pessoas se candidataram a uma vaga para funções como distribuir xerox com as escalações dos times ou esperar jornalistas que atrasam o fechamento até de madrugada para passar a chave no centro de imprensa. Foram aprovados 2.100, e em todas as sedes sempre tem alguém que fala português.

Para quem gosta de futebol é um prato cheio. Além de uma roupa até que bacana dada pela Adidas, se tem a chance de ficar ao lado de Ronaldinho, tirar uma foto com o Zico e olhar desconfiado para o Parreira.

O pessoal é bacana, atende todo mundo bem. E, se fosse um deles, pediria um ventilador portátil e passe livre na máquina de refrigerantes para os patriarcas da “família Fifa”.

DIA 23 - Colônia

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Para quem precisa

Duas músicas do Titãs, mas do tempo em que os Titãs eram legais, se fundem nas ruas de Colônia.

Primeiro foi na Kömodienstrasse, ao lado da maravilhosa catedral: só vejo quando o mendigo já está sendo arrastado para o carro da polícia. Não entendo uma vírgula de alemão, mas, ali, não precisava. O homeless não resistia, só praguejava contra a prisão, para mim absurda, e tinha como resposta a porrada. O outro mendigo, quem sabe se colega ou inimigo, só olhava, deitado no chão ali perto, pitando um cigarro. A truculência continuou dentro do carro, onde o pobre diabo, assim como eu, não entendia nada.

No dia seguinte, voltando de madrugada do estádio, após Brasil 2 x 2 Japão, o Cobos ao volante, um bafo estranho no cangote do carro. Era de novo ela, a Polizei, com seu carro verde e branco, desconfiada do ziguezague que fazíamos, atormentados entre as ordens da moça do GPS e a urgência em achar uma loja de conveniência para comprar algo para comer --afinal, eram mais de 2h da manhã, tudo estava fechado, e nosso hotel, que tem o singelo nome de Maternushaus, que em alemão só pode significar Maternidade (mas não temos certeza), não tem nem room service nem minibar.

Manda encostar. Documento do carro, carteira de motorista, todo o ritual. "Você bebeu álcool?", pergunta o guarda alemão. O Cobos diz que não, que estamos voltando de uma longa noite de trabalho, mas ele não acredita. Pega o bafômetro e manda o cabra assoprar. Irrita-se com a falta de habilidade do Cobos com o aparelho. Mas, após umas 12 tentativas, meu colega consegue. Zero álcool. Somos liberados.

De onde se deduz: "Polícia é polícia em qualquer canto, vítimas são diferentes".

São João em Colônia

Gratíssima surpresa, descobrir que os brasileiros de Colônia andam lendo este diário. Ainda que tenha sabido disso levando um puxão de orelhas... Escrevi sobre o meu banzo junino, contando que não há nada em Colônia que lembre as comemorações do São João no Brasil, muito menos em meu Pernambuco natal.

Eis que duas internautas, Edimara Arouca e Nadine Alff, mostram que não é bem assim, já que logo mais, sexta-feira 24, dia de São João, haverá uma festa brasileira com quadrilha, forró, comidas típicas e quentão.

O link com mais informações (em alemão): http://www.brasil-koeln.de. É pena, já estaremos em Nuremberg, nesse longo arrasta-pé atrás da seleção brasileira.

DIA 23 - Colônia

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

Nos 32 países que vão disputar a próxima Copa do Mundo, não faltarão oportunidades de negócios no cada vez mais milionário futebol. Mas, mesmo para quem mal sabe chutar uma bola, a maior competição esportiva do planeta é um prato cheio.

Basta entrar em um das lojas que vendem produtos oficias que levam as marcas da competição. Parece que quanto menos intimidade com a bola melhor.

A China, que falhou na tentativa de disputar sua segunda Copa, é a responsável pelos bonés. A Síria, que nunca soube o que é um Mundial, ficou com a produção de camisetas. O Paquistão pode não saber como usar uma bola de futebol, mas é especialista em fazê-las e inunda a Alemanha com seus produtos.

Só resta a curiosidade de quanto uma fábrica chinesa recebe por fazer um boné. Aposto que menos de 10% dos salgados 13 euros (quase 40 reais) que vale o produto ficam com os asiáticos.

DIA 22 - Colônia

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

O Carnaval de Colônia é o mais famoso da Alemanha. Não deve lá ser muito parecido com o que conhecemos como Carnaval, mas tem festa, fantasias, carros alegóricos e, acredite, escolas de samba. Também é comemorado 40 dias antes da Semana Santa.

E o São João de Colônia? De repente deu o estalo: chegando ao estádio para Brasil x Japão, me ocorreu que era antevéspera de São João, quando já estão fervendo as comemorações dessa que é uma das festas mais tradicionais do país, a mais popular do Nordeste.

Olhei para os lados, buscando uma fogueirinha. Nem sinal de fumaça.

Rojão, bomba? A única foi a de Nakamura, aquela que Marcos nem viu a cor.

Nas lanchonetes do estádio, salsicha e hambúrger. Vem à cabeça um milho assado na fogueira, quebrado na hora.

Nada de balão, nada de forró, nada de quadrilha.

É bem triste, o São João de Colônia.

DIA 22 - Colônia

Michael Sohn/AP
Torcedoras do Brasil durante a partida contra o Japão

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

A nova mania da Fifa é focalizar torcedores que deixam as arquibancadas coloridas na Copa das Confederações. Até um prêmio para quem mais se destacar nisso foi criado.

Mas, quando o Brasil joga, as dezenas de câmaras têm sempre o mesmo alvo. A ordem é clara. Os operadores buscam bundas e peitos das brasileiras que mexem com os europeus.

No jogo contra o Japão, uma mulata teve até mais do que 15 minutos de fama. Vestindo uma calça amarela transparente e para lá de apertada, foi a atração nos dois telões do estádio de Colônia. Mas foi no circuito interno de TV que ela fez a festa. Os operadores pareciam fascinados com a beleza brejeira da moça e davam closes no seu derrière.

Uma outra moça que vestia uma micro saia e um top com a bandeira do Brasil estampada foi outra atração. De tanto aparecer no telão, viu uma romaria de japoneses irem ao seu encontro em busca de fotos.

Para a Fifa, a mulherada brasileira bate mesmo um bolão.

DIA 22 - Colônia

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Treino do Japão em Colônia, antevéspera do jogo contra o Brasil. Nas cadeiras do estádio acanhado, os jornalistas. Muitos japoneses, poucos estrangeiros. Os primeiros num canto, os demais noutro.

Moacyr Lopes Júnior/F.I.
Zico observa treino de sua seleção na Alemanha
De resto, a separação que ocorre em quase todos os treinos que reúnem profissionais de imprensa de dois países diferentes numa competição assim. Mas aqui as estranhezas são mais visíveis --ao primeiro olhar já se sabe quem é quem--, e o fosso é muito maior.

A tal da língua. Poucos do lado japonês sabem falar inglês. Na outra banda da fronteira, ninguém sequer arranha japonês. O impasse. A timidez do lado da maioria atravanca qualquer possibilidade de progresso. Olhares desconfiados, mesuras pra todo lado, cartão de visita de lá, cartão de visita de cá.

Até que surge um sinal, uma pergunta sobre a escalação japonesa, precedida, obviamente, do tradicional "Do you speak English?". Uma luz no fim do túnel. Sim, o colega fala inglês. Mas pede primeiros as informações do Brasil. Passa em seguida informações sobre o time de Zico. Os dois lados agora mais aliviados.

Eis que, empolgado, o brasileiro diz que o jogo em Colônia será uma espécie de mata-mata. A expressão encanta o japonês. "Como assim, mata-mata?" "O que é mata-mata." "Dê-me um exemplo de mata-mata." E por aí foi. A dúvida durou minutos. Até agora é impossível saber se foi esclarecida.

DIA 21 - Colônia

Reprodução
Capa do disco "Ressurreição", da banda Bonde do Tigrão

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

Tudo tem um limite. E cheguei nele ontem quando o assunto é a moda Brasil na Alemanha. OK. Capoeira, Carlinhos Brown, sandália de dedo e camisas amarelas vestidas por adolescentes branquelos dá para agüentar.

Mas, ligar a TV e ver um anúncio da Coca-Cola com o funk carioca do Bonde do Tigrão já é demais. Dura uns 30 segundos, com gente dançando e tomando o refrigerante americano que domina de forma contundente o mercado da mais rica economia européia.

Os burocratas de Brasília, que tanto falam em criar uma marca de qualidade para que o país possa ganhar mercados no primeiro mundo, deveriam assistir ao comercial. Os europeus parecem adorar, na verdade, produtos de "segunda linha", de baixo "valor agregado", mas que vende aos montes.

DIA 20 - Leverkusen

Moacyr Lopes Jr./F. Imagem
Público passeia no calcadão do centro de Leverkusen

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

O direito de ir e vir na Alemanha com seu carro é amplamente garantido, mas leve sempre um bom dinheiro no bolso. A ordem é deixar o automóvel em casa e usar o transporte público.

E, para isso, a idéia é cobrar preços extorsivos para estacionar o carro. Em Leverkusen, qualquer travessa de uma avenida que leva de um lugar com pouca gente para outro com ninguém, tem aqueles parquímetros que começam a infestar também cidades brasileiras.

E não é nada barato. Uma parada de três horas pode custar até 5 euros (15 reais). Agora, se você precisa passar pelo centro de uma cidade maior, se prepare. Em nenhuma rua o estacionamento é grátis. Se optar por um particular, se prepara para gastar 10 euros (30 reais).

Mas ninguém parece preocupado. Achar uma vaga em alguns lugares requer muita paciência. Até quando pára a locomotiva da economia européia produz bilhões de euros.

DIA 19 - Hanover

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Morta aos 71 anos em 2002, a francesa Niki de Saint-Phalle, de quem se pode ver uma multicolorida escultura na Pinacoteca do Estado, em São Paulo, vive em Hanover. Três das suas "Nanas", figuras femininas gordas e extravagantes, ícones de sua militância feminista, estão numa calçada próxima ao belíssimo prédio da Nova Prefeitura. Causaram escândalo quando lá foram instaladas, na década de 70, mas hoje são parte da paisagem da cidade. Niki também está vivíssima numa gruta "à Gaudí", com cores berrantes, mosaicos e espelhos disformes, criada por ela dentro do Herrenhäuser, o magnífico jardim barroco da capital da Baixa Saxônia.

O cosmopolitanismo de Hanover, que lhe deu em vida o título de cidadã honorária, tem muito a ver com ela.

Neve

A primavera alemã tem a sua neve. Durante dez dias da estação, às portas do início oficial do verão, os céus das cidades do país são tomados por pequenos flocos brancos. Parecem pedaços de algodão. São na verdade tufos de álamo, árvore que aqui é chamada de pappel e se encontra a cada esquina. Em Hanover estão flutuando a cada soprada do vento. Às vezes o chão fica forrado de branco. A 29 graus.

DIA 19 - Hanover

Rainer Jensen/Efe
Torcedores antes da partida da seleção contra o México

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

No Brasil, a CBF e a Nike falam grosso quando o assunto é pirataria. Pois as duas têm ótimos motivos para fazer o mesmo na Alemanha.

Dia de jogo da seleção na Copa das Confederações é um desfile de grosseiras, e outras nem tanto, imitações de uma das camisas mais desejadas do futebol mundial. Garotos alemães vestem orgulhosos peças como as que um paulistano compra m qualquer barraca de camelô do centro da cidade.

A maioria delas leva o nome de Ronaldo ou Ronaldinho nas costas. Alguns têm modelos mais antigos, como o feito pela Umbro para a Copa de 1994 cheia de estampas com o distintivo da CBF.

Alemães, para os padrões brasileiros, são gente bastante rica. Mas não querem gastar os 60 euros (cerca de 180 reais) cobrados pela Nike por uma camisa amarela da seleção. Os 10 euros da versão pirata são um ótimo negócio, e além disso a polícia, como a nossa, parece ter mais motivos para se preocupar do que a falsificação de camisas.

DIA 18 - Hanover

Moacyr Lopes Jr./F. Imagem
Jogadores da seleção durante treino na cidade de Hanover

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Língua universal: Ratio Grobmarkt, misto de hipermercado e atacadão, em Hanover. Logo atrás do nosso hotel, afastado do centro e próximo à área de feiras, onde aconteceu a Expo 2000 (esta é a capital mundial das feiras de negócios). Já que o quarto é em estilo flat, com pia, microondas e geladeira, vamos em busca de provisões. Eu e Paulo Cobos. No carrinho enorme, juntamos nossas compras miúdas, basicamente guloseimas.

Na hora de pagar, o gerente informa que para poder comprar ali é preciso ter o cartão de cliente. Até descobrir que somos brasileiros e viemos por causa da Copa das Confederações. Tudo muda: o rigor germânico cai por terra, assim como o estigma da frieza. Engana-se quem pensa que a língua da bola só salva brasileiro em país de Terceiro Mundo. O gerente alemão adora futebol e libera nossas compras. O gerente é gente boa.

Língua marginal: igreja de São Nicolau, em Leipzig, dois dias antes. Folhetos com informações sobre a história do templo disponíveis em 12 idiomas, entre os quais norueguês, tcheco, coreano e russo. Nada de português.

DIA 18 - Hanover

Marcelo Barabani/F. Imagem
Berimbau, instrumento musical utilizado na capoeira

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

Não é de hoje que o Brasil está na moda na Europa, e isso não é diferente na Alemanha. Camisetas amarelas, chinelos de dedo e a música de Carlinhos Brown estão por todas as partes. Aposto que a maior parte das pessoas que curtem isso devem saber tanto do Brasil quanto eu sei sobre as eleições legislativas da Bavária.

Mas, depois de uma semana rodando por território alemão, o que mais me impressiona na adoração ao Brasil é a capoeira. Com exceção da Bahia, acho que ninguém dá muita bola para essa mistura de luta e dança mais no Brasil. Deve ser porque todos os mestres foram para a Alemanha.

Da chata Leverkusen, passando pela ex-comunista Leipzig e chegando a industrial Hanover, é impossível caminhar sem notar cartazes nos postes anunciando a capoeira brasileira.

Geralmente as demonstrações ocorrem em lugares nobres. O som do berimbau, as roupas brancas e a habilidade "brazuca" encantam um povo que tem a fama de ser ruim de ginga. A capoeira é o Brasil que dá certo na Alemanha.

DIA 17 - Hanover

Horacio Villalobos/EFE
Mexicanos descansam antes de enfrentar o Brasil

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

Esporte é uma opção quase única na televisão de um quarto de hotel na Alemanha para quem não sabe nada do idioma local. Regras que você conhece e personagens conhecidos fazem sua ignorância na língua não ser um obstáculo intransponível.

E não faltam opções. Canais abertos da TV alemã exibem jogos do Mundial sub-20, partidas ao vivo e reprises da Copa das Confederações e fazem uma cobertura maciça da Fórmula 1.

Mas, admito, senti falta do jeito mais passional dos narradores brasileiros. Um gol da seleção da casa é mostrado como se fosse uma cobrança de lateral para os padrões do Brasil.

Uma volta lançada de Michael Schumacher, um Deus para os torcedores locais, parece a descrição das viagens de um jornalista brasileiro pelas estradas do país.

Um gol espetacular no Mundial sub-20 no “clássico” Turquia x Ucrânia, com um chute de quase 40 metros, tem a mesma emoção na voz do narrador que um gol de honra de um time nanico marcado numa cobrança de pênalti contra um grande.

A má vontade com as transmissões não acabam apenas com os narradores. Como fazia antes a Globo, as corridas da Fórmula 1 são interrompidas para a exibição de comerciais.

Logo o esporte cansa. É melhor desligar a TV e dormir.

DIA 16 - Leipzig

Michael Hanschke/EFE
Carlos Alberto Parreira fala com a imprensa em Leipzig

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

A CBF anunciou que Carlos Alberto Parreira atenderia a imprensa brasileira amanhã, sexta, às 11h, no hotel da seleção em Leipzig, antes do embarque do time para Hanover.

Depois da vitória sobre a Grécia, foi avisado que o horário mudou --o técnico falará com os jornalistas às 12h30. Parreira, comentou o assessor Rodrigo Paiva, pretende passear por Leipzig durante a manhã.

Sábia, a decisão do técnico. Para quem passou quatro dias em Leverkusen, uma espécie de Cubatão do Primeiro Mundo, é um bálsamo caminhar por essa cidade conhecida como "Pequena Paris".

Basta um roteiro elementar pelo centro antigo para esquecer o que ficou para trás na viagem. A arquitetura deslumbrante, os cafés espalhados pelas calçadas, a enorme estação central, as alamedas de plátanos --tudo convida a flanar.

Mas o trabalho, a Grécia, o jogo, me acordam pra realidade, e o passeio logo acaba. Nem dá tempo de atender ao pedido do amigo Márvio dos Anjos, um suvenir, uma camiseta que lembre Bach, que aqui foi organista e mestre do coro da igreja de São Tomás, onde está enterrado.

Caso sirva de consolo, capitão, eu lhe digo: venha em pessoa pegar a camiseta. E me convide.

DIA 16 - Leipzig

Michael Hanschke/EFE
Robinho durante vitória sobre a Grécia na Alemanha

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

O ambiente era até formal. Senhores de ternos não combinavam com o garoto de 21 anos que chegou de chinelos e ainda sem banho depois de ser o melhor brasileiro na vitória sobre a Grécia.

Mas isso não importou. A cara de bom garoto, o sorriso fácil e o carisma, fatos que, além da camisa santista, o aproximam de Pelé, fazem Robinho brilhar na primeira vez que fica frente a frente com a imprensa internacional.

Primeiro, ele recebe a medalha por ter sido o melhor em campo. A usa rapidamente, mas logo ela está no bolso. Depois, mostra a mesma habilidade que tem em campo para responder se vai mesmo ao Real Madrid.

“Isso é com meu pai e empresário”. “Só penso na seleção”. “Fico honrado do Real Madrid estar interessado em mim”. Em nenhum momento ele muda suas feições.

Ele deixa a sala antes de Parreira. Todo mundo quer saber se o garoto que dizimou a retranca grega vai estar na Copa no próximo ano.

Robinho ainda não ganhou a guerra por um lugar no time de Parreira, mas a primeira batalha para ser uma estrela, de público e crítica, na Europa, já está ganha.

DIA 15 - Leipzig

Moacyr Lopes Jr./F. Imagem
Torcedor brasileiro observa o estádio de Zentralstadion

FÁBIO VICTOR
da Folha de S.Paulo

Os quase 500 km de Leverkusen a Leipzig, cortando a Alemanha de oeste a leste, ajudam a explicar a fama de que aqui estão as melhores estradas do mundo.

Imagine ver operários com um aspirador de pó tirando os detritos acumulados nas pequenas cavidades que separam os blocos de concreto da rodovia, para depois vedá-las com um composto especial. É normal aqui.

Autopistas bem conservadas e de traçado perfeito rasgam o país por completo, permitindo que a moderníssima frota voe como bala ao seu lado a todo instante, coisa de 160, 180 km por hora. É outro o conceito de velocidade e de automóveis. Andar devagar pelas estradas pode ser arriscado. Mercedes, BMWs e Audis são banais como louras nas ruas.

Mas tudo tem seu preço. Nos nossos Mercedes Classe A último tipo (alugados, claro), que misturados à chusma metálica são vira-latas quaisquer, já enfrentamos vários engarrafamentos nas estradas. Uma vez a causa foi um acidente, sem gravidade. Em outra, o bloqueio para que os operários pudessem aspirar o pó e manter a pista perfeita. Ah, e não há um único pedágio.

DIA 15 - Leipzig

Paulo Whitaker/Reuters
Ronaldinho domina bola em treino da seleção, em Leipzig

PAULO COBOS
da Folha de S.Paulo

O tal do GPS (rastreamento por satélite) transforma qualquer motorista de primeira viagem em alguém que parece conhecer a Alemanha com a palma na mão. Mas é preciso paciência e certa habilidade para manusear a engenhoca, disponível em praticamente todo o carro alugado na Alemanha.

E, sem muita habilidade para a coisa, selecionei o caminho mais curto, e não o mais rápido, entre Leverkusen e Leipzig. Perdi tempo, mas deu para saciar a curiosidade de saber como era a vida na antiga Alemanha Oriental.

As estradas vicinais cortam povoados que parecem fantasmas. Em pleno fim de tarde, as ruas estão desertas, bares e lojas fechadas e mais um monte de sinais que o muro caiu, mas a Alemanha segue dividida entre pobres e ricos.

O desemprego nessa região é maior, "orientais" e "ocidentais" raramente casam e bilhões de euros ainda não foram capazes de equipar os dois lados.

Mas, para quem vive batendo no peito para comemorar o jeito acolhedor, como o brasileiro faz, o alemão oriental é um exemplo. As pessoas são mais atenciosas e prestativas. A tão propalada eficiência alemã fica para trás, ainda mais em um lugar onde o inglês não é tão disseminado como na Alemanha rica.


     

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