20/02/2005
Ciências agrárias: Produção fértil prepara terreno para os titulados
RAQUEL BOCATO
Colaboração para a
Folha
A era proteônica chegou. Agora, mais do que descobrir a seqüência de DNA de um organismo, será preciso conhecer cada uma das proteínas que o compõe. São revoluções como essa que movem muitos profissionais de ciências agrárias do campo para os laboratórios de pesquisa.
Nesse novo horizonte, cursos de mestrado e doutorado ganham ainda mais importância tanto nos setores de pesquisa e ensino como na iniciativa privada, já que o mercado exige profissionais altamente qualificados.
O coordenador do departamento de zootecnia da USP-Esalq (Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz), Alexandre Pires, dá o prognóstico: "A área de ciências agrárias tem se desenvolvido rapidamente, haja vista a participação dos agronegócios nas exportações. O mercado está aquecido", comemora.
O panorama permanecerá positivo até a próxima década, de acordo com o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues. "O Brasil será o maior produtor agrícola mundial em 10 ou 12 anos. O país precisará de investimento em tecnologia, conhecimento e visão estratégica."
A política de contratações da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) ilustra a importância de uma pós na área. Desde 1996, a empresa não abre concursos públicos para pesquisadores nível 1 (só com graduação). "Muitos dos candidatos para as vagas que exigem mestrado já têm um doutorado no currículo", informa o chefe do departamento de gestão de pessoas da instituição, José Fonseca Filho.
A iniciativa privada não fica atrás. Pesquisa feita pela USP-Esalq, em 2004, com egressos de sua pós mostra que, dos 735 entrevistados, 22% têm vínculo com corporações. Perdem apenas para os que atuam em órgãos públicos (36%) ou em faculdades (34%).
"As empresas agroindustriais dependem de alta tecnologia para competir nos mercados interno e externo", explica a presidente da comissão de pós-graduação da USP-Esalq, Clarice Demétrio, 51.
Supremacia
Divididos em quatro grandes áreas --ciência dos alimentos, ciências agrárias, medicina veterinária e zootecnia--, os melhores programas de ciências agrárias estão no interior do Estado.
São 33 com nota superior a 4, segundo a última avaliação da Capes. Desses, 28 estão fora da capital. E todos, sem exceção, concentram-se em três universidades públicas: USP, Unesp e Unicamp.
O Estado oferece programas únicos no país, como o de energia nuclear na agricultura, ministrado no Cena (Centro de Energia Nuclear na Agricultura) da USP. O curso alia radiação à agricultura na conservação de alimentos, na mutação genética de plantas e na clonagem de flores, por exemplo.
Na Unesp, além dos campos tradicionais da veterinária, como cirurgia e clínica, os pós-graduandos podem se dedicar também à acupuntura. "Minimizamos problemas de coluna, dores crônicas e alterações de comportamento de cães, gatos e cavalos", diz a coordenadora do programa de medicina veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp-Botucatu, Fernanda da Cruz Landim Alvarenga.
Trabalho
Para conseguir talentos capazes de inovar --e engordar seus lucros--, as corporações do setor valorizam os acadêmicos. Monsanto, Guabi e Cargill são algumas das companhias que abrem mão de dias de trabalho por mais qualificação. "O retorno em conhecimento e tecnologia compensa as ausências do profissional", diz o diretor de RH da Monsanto, Luís Fernando Campedelli, 39.
Quem preferir a carreira pública também não estará livre dos estudos. Segundo o pesquisador do Instituto Biológico Fernando Salas, 37, especialista em vírus de plantas, o funcionalismo na área é "dividido em níveis de pesquisa. Quanto mais titulação, maiores as chances de subir um degrau".